O evento de mídia do ano: Game of Thrones

O Brasil é um país de contrastes. Não temos o hábito de leitura enraizado em nossa cultura. Assim, quando uma obra de fantasia medieval tem tiragens que ultrapassam as 100 mil cópias chama a atenção (aqui).

Game of Thrones é uma série de TV do canal por assinatura norte-americano HBO que adapta a cada temporada um volume da série de livros As crônicas de gelo & fogo escrita pelo romancista George R. R. Martin, que iniciou a carreira escrevendo material de ficção científica e trabalhou na TV, a qual abandonou desiludido.

A série de sete livros foi iniciada em 1.996 e permanecia inédita no Brasil até que começou a divulgação do material da série de TV e a Editora Leya comprou os direitos publicando Guerra dos Tronos no final de 2.010 e em 2.011 A fúria dos reis e o terceiro volume A tormenta de espadas.

Bem produzida, a série de TV é inteligente e tenta impressionar o público adulto adicionando cenas de sexo que não há no texto original e multiplicando bastante as cenas que já existem. Martin não escreveu um romance pudico como outros autores, fez um trabalho que apresenta toda a riqueza e complexidade das motivações humanas, dando foco no dinheiro, no sexo e no mais inebriante, o poder. Numa disputa mais mundana que a união contra o mal definitivo As crônicas se sobressai por exibir algo bastante palpátel e não um silencioso Sauron.

Mesmo sendo enorme para os padrões da TV, a série não capta perfeitamente o tamanho da proposta dos livros – compare o khalasar entre ambas ou as batalhas, e começará a ver as diferenças, nada entretanto que, até o momento, condene a transposição. Martin já comentou que tinha escrito algo que se desprendesse completamente da possibilidade de ser convertido para outra mídia. Agora, como produtor da série, se vê numa armadilha para adaptar várias passagens que são economicamente inviáveis para o formato de TV (sabe-se, por exemplo, que a famosa Batalha de Blackwater ao final do segundo volume será bastante diminuída na série). Ainda assim, a série, é uma excelente surpresa e se sobressai no momento que existem outras séries de formato medieval – de fantasia ou não – que se mostram tediosas ou demasiadamente juvenis.

A série de livros é uma presença constante na lista de 10 Mais Vendidos de VEJA (que reflete bem o mercado) e a editora já iniciou as parcerias de pré-venda para o quarto volume Um festim de corvos a ser lançado em fevereiro de 2.012. Em julho – o quê deve coincidir com o final da segunda temporada da série – será lançado o quinto livro Uma dança com lobos, que marcará o último livro escrito (foi lançado no meio do ano nos EUA). Restarão então dois volumes da trama, mas devo lembrar que o volume lançado em 2011 havia sido prometido para 2005! Martin, envolvido com a série de TV, confessou ter apenas cem páginas de manuscritos do sexto romance. Alguns argumentam que com o autor teve o interesse reenergizado e deve cumprir uma agenda mínima de trabalho.

Não se engane, meu caro leitor, imaginando que a série de livros teria vendas relevantes caso não tivesse o apoio da série de TV. No entanto, livros que seguem tendências do mercado conseguem se posicionar muito bem no quesito vendas. Atualmente literatura$ sobre anjo$, vampiro$, criatura$ mística$, reino$ fantástico$ e biografia$ especulativa$ compõem a lista dos mais vendidos. Não se pode dizer que sejam independentes das séries de TV ou cinema por que a tendência iniciada com a transposição das séries de livros O senhor dos anéis e Harry Porter influenciou toda uma geração de espectadores e leitores na descoberta, redescoberta ou familiarização com o fantástico.

Certamente há interesses econômicos envolvidos, como por exemplo, no caso da recente explosão de editora brasileiras publicando graphic novel, que se explica pelo fato do governo nacional e vários governos estaduais haverem ampliado significativamente a quantidade de livros neste formato em seus programas de distribuição de livros e todas as editoras querem seu quinhão; mas só irão se sobressair o material que tenha qualidade. Não é uma verdade absoluta, afinal Crepúsculo com seus vampiros fluorescentes não é sinônimo de qualidade, mas os jovens que acham a obra de Tolkien uma coisa de tiozinho e tem ódio de Harry Porter por que era a série que seu irmão mais velho lia, encontram na açucarada história de amor uma possibilidade de contato com o fantástico.

E então... foram pescados!

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A trama inicial de As crônicas de gelo & fogo é sobre a disputa de poder no reino fictício de Westeros, concentrando-se especialmente nos conflitos gerados quando um “a mão do Rei” morre e o rei Robert Baratheon escolhe o amigo Eddard Stark para auxiliá-lo a governar a sutil união entre os sete reinos que compõem hoje o país. Incorruptível, “Ned” Stark não consegue compreender o funcionamento da rede de interesses e corrupção de Porto Real (sede do governo) e se vê perdido numa intriga especial quando descobre segredos de alcova da rainha e em seguida seu rei e amigo morre.

A sucessão de erros, uns provocados por honra demasiada, outros por predisposição à luxúria e ao poder, leva Westeros a um conflito militar que oculta o fato que, ao norte além da Muralha que separa o reino de terras ermas a Patrulha da Noite não tem homens suficientes para enfrentar o novo ataque de uma ameaça mística, tida como lenda há séculos. Estes seres místicos estão preparando um ataque ao reino e ninguém ao sul da Muralha leva o aviso a sério.

O cereja do bolo das tramas da série de livros é a possibilidade de uma descendente da família real derrubada por Robert numa revolta dezessete anos antes, retomar ao poder. A família Thageryan, hoje apenas um casal de irmãos, ela jovem e obediente e ele sedente de poder, deseja o Trono de Ferro, mas quem poderá realmente ter chance de vir a sentar-se nele é Daenerys, que teve um casamento arranjado pelo irmão – Viserys – de modo a conseguir material humano para invadir Westeros.

Bem, o quê se sabe agora é que é bom eles invadirem logo ou então não restará muito a que conquistar!

Um sucesso que marca o ano de 2011.
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