Eu conheci o trabalho de
Neil Gaiman em 1989 quando li Orquídea Negra. Tinha
catorze anos e tudo era muito divertida e estranho. Depois veio
Sandman, que apesar de adorar Prelúdio & Noturnos
– ainda tinha catorze – só entendi a proposta da série
realmente depois de Casa de Bonecas e Estação das Brumas.
Não gosto de Marvel
Knights 1602, o trabalho que ele fez para a Marvel, que é apenas
um (mais um) universo alternativo, mas tenho acompanhado seu trabalho
em literatura. Deuses Americanos é um trabalho estupendo,
seus contos em Coisas Frágeis são inteligentes, Filhos de Anansi consegue estender um universo sem cair no óbvio e O livro do cemitério é tocante.
Ainda assim não estava
preparado para a trama de O oceano no fim do caminho
(Intrínseca, 2013, ISBN 978-85-8057-368-8, Tradução de
Renata Pettengill). A trama é simples, como são as coisas da
vida. Um homem de meia idade retorna para a cidade de nascimento para
um enterro. Decide visitar a antiga casa e por extensão, uma casa no
final da rua, onde viveu uma grande experiência quando tinha sete
anos. A história narra esta experiência.
O texto é mágico.
Gaiman fala de coisas reais e fantasia e são poucos os momentos em
que é possível fazer uma distinção entre o real, o fantástico e
o imaginário. Há ecos de seus trabalhos anteriores, mas não são
óbvios nem fáceis de serem encontrados – estaria eu, enganado?
O livro trata das
lembranças e de como nós cuidamos delas, fornecendo alimento ou
retirando o essencial para que elas vivam em nós eternamente.
Um romance essencial para
quem gosta de fantasia, do fantástico e de compreender o quê a vida
nos transforma.