A L&PM iniciou uma série de encadernados no final do ano que resgatam a obra Charles M Schulz, criador a tira Peanuts conhecida no Brasil como “Mindoim” (corruptela de amendoim) ou “A turma de Charlie Brown” ou ainda “Snoopy”.
A obra é um encadernado horizontal (21,5 x 17 cm) e tem 360 páginas, sendo das páginas 291 a 337, uma análise da obra e uma entrevista com o autor. Além disso, traz uma introdução nas páginas iniciais.
A L&PM já havia lançado outros encadernados de várias fases de Peanuts e certamente fez as contas erradas: a obra esgotou e o volume que comprei já era a segunda impressão, isto em abril de 2.010 para uma obra que foi publicada no final de 2.009 – acho que no Natal.
Não tenho dúvida alguma que não se esgotou em função de preço acessível, já que a R$ 69,00 (há freqüentes descontos em várias livrarias) não posso classificá-la como tal. Nem posso dizer que o público de Peanuts é outro e resumir por si só a questão à isto.
Claro que o público de Peanuts é outro, mas quem consome esta obra também consome os encadernados como Biblioteca Marvel ou DC da Panini, por que em geral estas séries publicam material clássico (B. Marvel é anos 1.960 e B. DC anos 1.940 a 1.950).
A qualidade da obra também é outra, com parâmetros nos quadrinhos de editoras de heróis talvez apenas em obras de Neil Gaiman (que por sinal está de livro novo na praça) e Alan Moore. Certo?
Talvez! Talvez seja apenas presunção. Não que Gaiman e Moore não sejam os melhores em suas obras, mas por que desconsideramos muito material de herói que é muito bom. Apenas para citar alguns materiais deste tipo de segmento, relembro de minha lista de melhores da década composta por Capitão América (veja aqui), Poder Supremo (veja aqui) e Plastic Man (veja aqui), apenas para ficar com alguns. Plastic Man com sua arte especial, suas piadas e a profunda ironia com a própria indústria de quadrinhos é um material que visualmente poderia fazer parceria com Peanuts na estante de qualquer um – ainda que, devo admitir, o material de Schulz seja superior.
Peanuts quebra paradigmas das tiras ao introduzir crianças reflexivas em contraponto às endiabradas de então. Não é também, apenas por isso, melhor ou pior, já que ninguém foi mais endiabrado que o personagem principal da tira “Calvin & Haroldo”, e esta também é um ponto alto na diversão contemporânea.
Ao mostrar o universo adulto refletido nas crianças e em suas ações, Schulz acertou e conseguiu ficar cinqüenta anos à frente de seus personagens, tornando-os um grande sucesso comercial. Esta semana, inclusive, foi veiculado que a marca mudou de proprietários, mas apenas 80%, pois os 20% restantes pertencem à família do autor, que encerrou a tira uma semana antes de morrer.
Segundo as informações veiculadas, o faturamento anual com as marcas co-relacionadas à série chegam ao montante de US $ 2 bilhões por ano!
Isto para um produto que nunca foi para Hollywood! (Houve vários especiais produzidos diretamente para a TV ao longo das décadas).
Boa sorte à L&PM e que consiga traduzir toda a obra e que seu sucesso consiga ensinar algo aos homens de negócio de outras empresas.
Apenas para lembrar a L&PM é uma editora do sul do país. Nos anos 1.980 e início dos 1.990 publicou livros de Luís Fernando Veríssimo e inclusive a adaptação em quadrinhos do famosíssimo “Analista de Bagé”. Durante um tempo a editora tentou se estabelecer como empresa que publicaria material alternativo (A garagem hermética), clássico (Batman de Bob Kane, sendo a terceira editora a publicar Batman no Brasil) ou erótico cabeça (Valentina, O Amante de Lady Chatterlay).Como o boom das graphic novels no início dos anos 1.990 a editora perdeu espaço para outras que publicavam em cores e com maior regularidade. Atravessou a década de 2.000 publicando encadernados selecionados (Snoopy, Garfield) e livros de bolso numa coleção com mais de quinhentos volumes.