Prelúdios de Crise Final

Crise Final (2008/2009) é uma série escrita por Grant Morrison, desenhada por JG Jones com o auxílio de Carlos Pacheco e Doug Mahnke, finalizada por JG Jones com o auxílio de Christian Alamy, Jesus Merino e outros, é uma série mensal da DC Comics e o mega evento da editora para o período de 2008/2009 (data de capa).

Prelúdios atuais
A DC Comics tem tradição em criar eventos utilizando a palavra crise em seu título (veja a lista aqui). Após o sucesso parcial de Crise Infinita (veja aqui) a editora continuou um processo editorial que passou por duas séries semanais (52 e Contagem Regressiva) e termina em Crise Final.

Apesar dos elogios e sucesso comercial de 52, Contagem Regressiva foi duramente criticada a cada edição e Grant Morrison revelou abertamente que após 52, do qual foi um dos roteiristas, o autor já havia entregue à Dan Diddio (editor-chefe) e Paul Dini (escritor principal da série) a situação em que alguns dos personagens utilizados em Contagem Regressiva deveriam estar.

Nota-se claramente que a algumas tramas de Contagem Regressiva são redundantes, especialmente a envolvendo Mary Marvel.

Com a reconstrução do Multiverso, após a série 52, finalmente a DC Comics teria uma nova série envolvendo risco a múltiplas dimensões, uma das premissas de suas crises.

Não é possível esquecer que parte de Crise Final começou no complexo evento 7 Soldados, escrito por Grant Morrison e desenhado por vários.

O projeto – e somente esta palavra pode descrevê-lo – divide-se em um especial, sete minisséries de quatro número e finaliza em outro especial. Contrariando a lógica simplista, Morrison não aguarda uma minissérie terminar para iniciar a outra e nem faz cross-overs visíveis entre os personagens – exceção para a edição final, mas mesmo lá eles não agem como uma equipe.

Ainda que a leitura de 7 Soldados não seja essencial é bom lembrar que no mínimo três fatos presentes em Crise Final (Frankstein, o atual Sr. Milagre e a concepção dos novos deuses do mal encarnados em corpos mundanos) estão lá.

Prelúdios antigos – A saga do Quarto Mundo
Com pouco a ver com o formato tradicional das “crises”, Crise Final apostava em dar um ponto final para a longa trama da “Saga do Quarto Mundo”.

Criada em 1.971, quando Jack Kirby foi trabalhar na DC Comics depois de ter criado, junto com Stan Lee, o Universo Marvel, a série tinha um conceito esquisito para a época: teria fim!

Sim, em 1.971, Kirby previa uma trama com início, meio e fim, dividida entre três títulos bimestrais (New Gods, Mister Miracle e Forever People) e um auxiliar que ele assumiu (Superman’s Pal: Jimmy Olsen).

A série não teve sucesso comercial desejado e foi interrompida.

Kirby continuaria na editora agora com Kamandi, Demônio (Etrigan), OMAC e Sandman (veja aqui), enquanto sua trama inconclusa esperou até o final dos anos 1.970 para receber uma versão de conclusão nas mãos de outros autores. Veja aqui a listagem das séries New Gods.

Estes outros autores continuavam a utilizar Darkseid, seja em histórias com o Flash, a nova versão de Orion, histórias da série A Sociedade Secreta dos Super-Vilões ou mesmo na famosa série de TV dos Super-Friends (aquela versão que tinha o Nuclear, com a tradução de “Tempestade” para o nome original “Firestorm”).



Isto sem contar que em 1.982 Paul Levitz e Keith Giffen usaram-no como vilão para a Saga das Trevas Eternas.

Sei que a EBAL publicou um especial do Flash com os Novos Deuses, chamando Darkseid de “Manto Negro” e tenho um número de Superman em formatinho em Cores que traz uma história de DC Comics Presents, uma série de encontros do Superman, onde o homem de aço se encontra com Sr Milagre. Assim podemos dizer que a trajetória remonta à EBAL, que publicou muito do material de Kirby em Jimmy Olsen.

Vale lembrar que nas mãos de Kirby, mesmo com a participação do título de Jimmy Olsen, a Saga do Quarto Mundo da DC Comics, assim como a série “Os Eternos” da Marvel Comics, parecia que ocorria em um universo diferente da editora. Em Eternos, que tenho o Omnibus a única citação ao Universo Marvel padrão é um robô-Hulk feito por estudantes para ser a mascote do time.

Pouco antes de Crise nas Infinitas Terras (veja aqui), Kirby concluiu a “Saga do Quarto Mundo” numa série em seis números que republicava os 11 números clássicos de New Gods e acrescentava um 12º número. Estabelecia assim, que as tramas do final dos anos 1.970 não eram mais canônicas.

Esta série de seis números é conhecida como “New Gods, volume 2” e só tem seis edições, com duas histórias cada. É este material que a Opera Graphica publicou no Brasil em minissérie em preto e branco em três partes logo no início de suas atividades. Este material é relativamente fácil de ser encontrado.

Como uma das crises da DC, a Crise em Apokolips (veja aqui), tinha se aproveitado daquelas tramas que agora não eram mais aceitas, este evento foi revisado posteriormente. Tinha acontecido sim, mas os uniformes dos Novos Deuses não haviam sido alterados. Explico: quando relançado no final dos anos 1.970 o uniforme dos personagens presentes na série “New Gods” foi refeito e até Kirby fazer a sua 12ª história eles continuaram a utilizar o novo uniforme.

O ponto final com Kirby seria a graphic novel “Hunger Dogs”, publicada em 1.984, e que inibiu Marv Wolfman de utilizar mais os personagens de Kirby em Crise nas Infinitas Terras. Segundo um depoimento de Wolfman (vejam em Crise nas Infinitas Terras, Ed Brasil, em 3 volumes) ele pretendia originalmente usar mais os personagens, mas como soube que Kirby tinha planos para eles fez apenas uma rápida utilização de Darkseid e Desaad.

Ironicamente a coisa se estendeu além do que Wolfman esperava. Na trama de Crise, Darkseid usa o corpo do Superboy Primordial como condutor de suas energias para atingir o Antimonitor. Com restígios daquela energia, o garoto de aço da Terra Primordial vê uma nova dimensão e a acha adequada; quando, na verdade, era um inferno para ele e os três outros sobreviventes, conforme narrado em vários momentos durante Crise Infinita.

Este respeito pela obra de Jack Kirby não impediu de John Ostrander utilizar Darkseid em uma série logo no re-início do Universo DC (Lendas, veja aqui).

Era 1.987 o novo Universo DC tinha semanas de nascido – apesar de se entender que as histórias narravam o presente, e que os personagens haviam surgido, no mínimo, a sete anos, com exceção da Mulher Maravilha, que chegava ao Mundo do Patriarcado agora – e os heróis já eram alvos das tramas de Darkseid.

No Brasil, Lendas foi publicado em minissérie de seis partes da Editora Abril (com direito às histórias dos cross-overs) e recentemente retornou em encadernado da Panini Comics, facilmente encontrável nas livrarias on-line.

John Byrne, fã confesso de Jack Kirby, usou vários de seus personagens em Action Comics (série da DC, que agora tinha o papel de título de encontros do Superman, após o cancelamento de DC Comics Presents). Lá o homem de aço encontrou o Sr Milagre e Grande Barda e Demônio.

Durante o processo de reformulação do kryptoniano, Byrne reintroduziu o Projeto Cadmus, o Guardião, a Legião Jovem, os Cabeludos e outros conceitos que estiveram presentes na fase de Kirby no título de Olsen. Quem deu continuidade à esta reintrodução foi Jerry Ordway que assumiu The Adventures of Superman meses depois da saída de Byrne.

Com isso quero ressaltar que a herança de Kirby sempre esteve presente nos quadrinhos da DC.

Após Lendas, Darkseid se envolveu em tramas com a Mulher Maravilha em três ocasiões (o encontro com o Superman, Guerra dos Deuses, inédito no aqui e um ataque à Ilha das amazonas numa fase de Byrne durante a década de 1.990) e também com o Esquadrão Suicida, não por acaso, feito por Ostrander.

Ostrander, por sinal, sempre foi um fã do material dos anos 1.970 da DC e utilizou em sua série Tigre de Bronze (coadjuvante da série Richard Dragon e que esteve envolvido no assassinato de Batwoman original), Capitão Bumerangue (vilão do Flash), Rick Flagg (uma nova geração de soldado, baseado no conceito original da equipe), Baronesa (na verdade a personagem Lashiva, uma das Fúrias Femininas), G. Gordon Godfrey (vilão de Lendas), além dar ponto final para outra série interrompida, Shade, o homem mutável, concebida por Steve Ditko. Este “Shade” não tem uma relação direta com o de Peter Milligan, que recriou o personagem.

Darkseid foi ainda vilão do arco LJA – A pedra da eternidade de Grant Morrison e Howard Porter e logo retornaria com John Byrne com classe.

Byrne assumiu a série New Gods volume 3, inexpressiva como sempre apesar de estar nas mãos de Mark Evanier (Groo) que foi assistente de Kirby, conseguiu por um rumo de qualidade.

No entanto, estava fazendo retro-cronologia. Com o sucesso, conseguiu mudar a série para “Jack Kirby’s Fourth World” e apesar de um início bastante elogiado, após ter ganho a série semanal de 1.997, Gênesis (veja aqui), foi duramente criticado e abandonou a série.

Em 2.000, Walt Simonson assumiu “Orion” (veja aqui) e fez 25 números, sendo a última série regular com os conceitos de Kirby.

Houve ainda no formato minissérie o arco 7 Soldados: Senhor Milagre, que já discutimos o conteúdo.

Como vilão, Darkseid também esteve presente em 2002/03 na série “The Legion”, série da Legião dos Super-Heróis inédita no Brasil. A trama é uma releitura estendida da “Saga das Trevas Eternas” e o uso de um Superboy. Esta Legião é a surgida pós Zero Hora, que se convencionou chamar de Legião reboot.

A saga do Quarto Mundo, uma rápida síntese
O Quarto Mundo são mundos gêmeos, Nova Gênese e Apokolips, feitos com o destroços do Terceiro Mundo – há indícios que seria Asgard da série The Mighty Thor que Kirby havia trabalhado imediatamente na Marvel.

Em Nova Gênese nasceu uma raça de deuses bons comandados por Pai Celestial. Em Apokolips uma raça de deuses maus, comandada por Darkseid.

Após uma longa guerra, Nova Gênese e Apokolips fizeram um pacto e trocaram os filhos. Scott Free (o futuro Sr. Milagre), filho de Pai Celestial seria criado por Vovô Bondade sob a vigilância de Darkseid em Apokolips, enquanto Orion, filho do novo deus maligno seria criado por Pai Celestial.

Com a fuga de Scott Free e as ações de um grupo de novos deuses chamados de “O povo da Eternidade” no planeta Terra, Darkseid percebe que o Pacto está próximo de romper e se prepara para tanto.

Procurando então uma fórmula conhecida como “Equação Anti-Vida”, Darkseid também faz incursões na Terra, o que leva seu filho, Orion, destinado a tombar num conflito com o regente de Apokolips, a estabelecer uma base de atuação no planeta.

A série de Jimmy Olsen o uso de tecnologia de Apokolips cria conceitos novos como clones e híbridos alienígenas.

Quando as tramas foram interrompidas Darkseid ainda não tinha completa a fórmula, e depois foi sutilmente trocado para o regente querer se estabelecer como deus-regente dos mundos.