Ler um texto de Grant Morrison não é exatamente fácil. Ele confessadamente usa drogas para ter inspirações e desenvolver tramas “padrões” sobre um aspecto lisérgico. O texto dele é cheio de idas e vindas e tudo faz parte de uma trama maior. Sempre!
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Entenda que o maior prejudicado de “O reino do Amanhã” foi Capitão Marvel, o campeão de Shazam e por isso o mago queria um destino melhor para seu escolhido.
Assim, durante algum tempo a Quintessência esteve manipulando eventos na DC Comics, obra, é claro, de Mark Waid, escritor responsável por “O reino do Amanhã” e o evento “filho-pródigo” da série “O reino”.
Entenda também que Mark Waid sempre teve uma grande simpatia por Grant Morrison, que era recíproca daí o fato de Morrison usar o conceito. Ambos tinham também o mesmo editor, o competente Dan Raspler, responsável por JLA e DC Um Milhão, entre outras coisas.
Uma equipe formada por Waid, Morrison, Mark Millar (The Ultimates) e Tom Peyer (Homem-Hora, inédito no Brasil) chegou a prometer uma reformulação que iria tornar o Superman o personagem mais rentável da indústria. Infelizmente a DC Comics barrou o projeto e entregou os super-títulos ao escritor Jeph Loeb. Morrison irritado foi passar quatro anos na Marvel, Millar idem, porém ainda não voltou para os braços da divina concorrente.
Enquanto Morrison brincava com a Liga no presente com a série JLA, Waid com o auxílio de Brian Augustyn construía um excepcional passado para a equipe em “LJA: Ano Um”, que cobre o primeiro ano. Esta obra está merecendo um encadernado pela Panini Comics.
Além disso tudo, temos que entender que a própria série da Liga passava por uma extensa macro-trama que cobre todo o período de Grant Morrison à frente do título. Basicamente uma poderosa entidade estava a caminho da Terra para destruí-la, e a proximidade dela também alterava o comportamento dos personagens, ainda que em pequena escala, tornando-os um pouco mais violento. A solução da trama foi vista em “3ª Guerra Mundial”, publicado no Brasil pela Mythos.
Dito isto, temos também que entender que Morrison sempre teve um estilo que mistura os eventos e referências, fazendo tramas paralelas ocorrerem ao mesmo tempo, mesmo sem estarem legitimamente ligadas. Veja, por exemplo, o quê ele está fazendo em Crise Final e o quê fez em “7 Soldados”. Outros trabalhos dele que merecem atenção são “Homem-Animal”, “Patrulha do Destino”, “Os Invisíveis”, “Como matar seu namorado” e a já comentada fase à frente da série “New X-Men” durante quatro anos, além do excepcionalmente fundamental de tão brilhante e inteligente “Grandes Astros: Superman”, que a Panini publicou em 2007-2008 – que puxa-saquice!
Então, por fim, com arte de Howard Porter e finais de John Dell, em JLA # 28-31, publicado no Brasil em Superman Premium # 04 de janeiro de 2001 da Editora Abril acontece este amontoado de coisas abaixo descrito.
Triunfo, um herói que surgiu num dos realinhamentos temporais da editora – acho que em Zero Hora, mas são tantos que eu fico perdido – e se auto-proclama o fundador da equipe, está em decadência e durante uma venda de relíquias roubadas da sala de troféus, liberta um gênio da Quinta Dimensão na Terra.
Como Thunderbolt do Johnny Thunder está desaparecido, o inimigo natural do gênio não existe e ele começa a brincar com nossa realidade.
Mas Thunderbolt, traduzido a partir de agora como Raio, vai parar nas mãos de Jakeem Trovoada, que visitou o asilo onde Johnny Thunder estava internado e pegou a caneta onde o gênio é armazenada. Segundo a lenda os gênios ficam em resolver em um ambiente líquido como lâmpadas de óleo ou mesmo canetas. O garoto negro, com pequenos dreadlocks nos cabelos e levemente desbocado, tem dificuldades para aprender a controlar o gênio. Rainha Hipólita, a então Mulher Maravilha da DC Comics e que é membro da Sociedade da Justiça, explica que ele, o gênio, só executa comandos quando são verbalizados com detalhes específicos.
Triunfo, antes de liberar o gênio mau, recupera seus poderes e os amplia, e depois controla Cigana e Ray (o herói luminoso que vez por outra é chamado de Raio no Brasil, mas acho que para não confundirem Ray com Thunderbolt, que têm a mesma tradução, fizeram a distinção) para invadir a base lunar da Liga, a Torre de Vigilância. O herói decaído enfrenta parte da equipe, em especial Batman e Aço e é derrotado. Batman, por sinal, brinca com sua participação nos famosos encontros anuais entre as equipes.
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Ao mesmo tempo há uma trama sobre o aprisionamento do Espectro vinculado a um mundo vivo que é resolvida nos intervalos das outras por Zauriel e Lanterna Verde Allan Scott. Lembre-se que em muitos dos encontros de Liga e Sociedade, o Espectro sempre foi um fator primordial para resolvê-los, assim, deixá-lo incapacitado logo no início da trama seria uma prova do tamanho da ameaça deste encontro.
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Isto também provocaria o prólogo do maxi-mega-super-hiper evento de verão do ano na DC, o Dia do Julgamento, traduzido por aqui como O retorno do herói, onde Geoff Johns começa a longa trajetória que iria trazer de volta Hal Jordan, o maior dos Lanternas Verdes. Lembre-se que o realmente maxi-mega-super-hiper evento de verão de 2009 é exatamente com, o agora restaurado, Lanterna Verde Hal Jordan e se chama A noite mais densa, onde temos diversas tropas em ação no universo.
Além disso, como se não fosse confusão o suficiente para um encontro anual da equipes que sempre foram tramas óbvias, ainda há um outro gênio da Quinta Dimensão, Quisp, ligado às séries clássicas do Aquaman, que, notando a mudança radical do Rei dos Mares para um tom mais violento, também decidiu se modernizar. E ficar violento é claro!
Quisp estaria por trás de parte das manipulações, mas obviamente o leitor não vê claramente o quê Quisp manipulou e o quê a Quintessência manipulou.
Ou mesmo, se a Quintessência manipulou Quisp para assim fazer tudo.
A trama de Quisp se resolve com a ida do Capitão Marvel e Lanterna Verde Kyle Rayner à Quinta Dimensão, onde os gênios decidem prender Quisp – a Terra é um protetorado de Mxzptlk – e facilitar a fusão dos gênios rosa e azul em um novo Thunderbolt. As questões desta fusão foram esquecidas na série JSA (1999) que narra as histórias da nova Sociedade da Justiça e portanto as histórias com Jakeem e Thunderbolt.
No bojo só posso afirmar que em 1999 a reunião da Liga e Sociedade resolveu um conflito entre dois gênios da Quinta Dimensão!
E não me perguntem detalhes!
Vejam aqui todos os encontros da Liga e Sociedade, que juntos, me consumiram menos tempo para resenhar do que este aqui! E nem mesmo as esdrúxulas tramas envolvendo o Homem de Anti-Matéria, o Creator² ou mesmo o próprio Thunderbolt eram tão confusas assim.
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