O livro é delicioso e habilmente escrito. Ahmed consegue
criar o cenário e nos situar nas cinquenta páginas iniciais do
romance: Adoulla Makhsllod é um sexagenário e cansado
caçador de ghuls, que dois anos antes aceitou o dervixe
Raseed bas Raseed como auxiliar – excelente na
espada, mas fraco nos encantamentos e por demais pueril.
No início
do livro, uma ex-amante lhe envia o filho de uma sobrinha que casou
com um homem humilde que trabalhava nos pântanos. A família foi
massacrada por três ghuls e só o menino sobreviveu.
Adoulla
imediatamente se interessa pelo fato, seja por sua missão divina
como caçador de ghuls, seja pelo fato que somente um mago muito
poderoso – e perigoso – poderia invocar ao mesmo tempo três
criaturas. A partir daí, deixa a cidade de Dhamsawaat, junto
com seu auxiliar para investigar o caso, não sem antes cruzar o
caminho com Pharaad al Hammaz, o Príncipe Falcão,
um arruaceiro que vende a imagem de Robin Hood,
aproveitando-se da péssima administração do califa Jabbari
akh-Khaddari. Adoulla, a contragosto de Raseed, facilita a fuga
de al Hammaz, quando este liberta um jovem que estava para ser
degolado por ter roubado, supostamente para aliviar a fome. Os
Reinos da Lua Crescente (The Crescent Moon Kingdoms) sofrem com
impostos altos e a crueldade do califa. Desta maneira o discurso do
Falcão cai como uma luva e leva a população à desobediência
civil, tornando-se popular e intencionalmente cimentando a base de
uma futura revolução!
Criado
o cenário, Ahmed parte para a aventura, ainda que apresente logo na
primeira sequência de enfrentamento aos ghuls mais um personagem,
Zamia Banu Laith Badawi, uma garota capaz de se transmutar em
leão e última sobrevivente de seu bando, assassinado pelos ghuls
que denotam a habilidade de sugar não apenas a carne, mas também a
alma e em seguida o casal Dawoud e Litaz, ele um mago e ela uma
alquimista.
Enquanto
o mistério se amplia, Adoulla tem que enfrentar ghuls variados
(ossos, água, areia) e uma sombra chacal de um assassino de crianças
do passado dos Reinos. Aparentemente o Anjo Traidor tem planos
diversos para os Reinos e está enviando seus agentes.
* * *
Os
personagens são bem desenvolvidos e suas motivações são claras e
importantes para a definição de quem são e o quê farão, assim
como seus conflitos. É essencialmente um livro que trata de honra e
tradição, da importância de fazer o bem e entendendo que é o
primeiro de uma trilogia é fácil imaginar que haverá novos ataques
do Anjo Traidor, pois como em outras séries esta “fede” a morte
e sacrifício.
Talvez
o ponto fraco seja assim como em Tolkien não entender as motivações
do inimigo: ele existe e está fazendo o caos, mas suas reais
motivações não sabemos. Ainda assim o livro é interessante e
importante por mostrar uma cultura bem diferente e valores não tão
próximos aos nossos, ainda que as obrigações e o dever estejam lá.
Sou
fã de primeira hora e acompanharei tudo que o autor fizer.
Throne
of the Crescent Moon, Book one of The Crescent Moon
Kingdoms, Saladin Ahmed, DAW Books (nº 1575), ISBN
978-0-7564-0778-0, first printing, janeiro de 2013.