No dia em que JFK
foi assassinado e CS Lewis e Aldous Huxley morreram foi
ao ar na BBC, a TV estatal inglesa o primeiro episódio da
série de ficção científica Doctor Who. A série
apresentava as aventuras de um senhor do tempo (chamado o Doutor)
e sua neta que utilizavam uma nave espacial disfarçada de cabine
telefônica para viajar no tempo e espaço.
A série tinha um formato
diferente: eram episódios semanais que formavam um arco. E devo
confessar que não chama muito a atenção o primeiro arco.
Ainda assim, a série
durou de 1.963 a 1.989 usando um expediente interessante: quando o
ator que interpretava o Doutor decidia afastar-se, os produtores
matavam o personagem que passava por uma regeneração, surgindo como
um novo ator, ou seja, um novo Doutor.
Em 1.989 depois de algum
tempo tornando a série sombria e focada em coadjuvantes, a emissora
a interrompeu após 26 temporadas. Imediatamente iniciou-se um
processo de várias tentativas de retorná-la, o quê resultou em um
telefilme exibido pela FOX (EUA). O telefilme teve boa
audiência e tinha o sétimo Doutor que realmente regenerava no
oitavo, o personagem do filme.
Mas a ideia não vingou e
somente em 2.005 surgiu uma nova série regular que continua até
hoje. A nova série apresentava o nono Doutor, que esteve presente em
apenas uma temporada. O Doutor (David Tennant) seguinte durou
de 2006 a 2009 e o atual (Matt Smith) de 2009 a 2013. Smith
anunciou ao final da sétima temporada seu afastamento do show
e a BBC anunciou publicamente o novo ator e o momento da
substituição, o Especial de Natal de 2013.
Antes, porém haveria o
Especial de 50 anos, a ser exibido em 23 de novembro de
2013, um poderoso evento que permitiria que o episódio fosse
exibido na TV e em salas de cinema selecionadas pelo mundo – o
Brasil inclusive.
O especial reúne os 10º
e 11º Doutores a um novo Doutor, interpretado por John Hurt e
nominado pela BBC como War Doctor.
A trama inicia com a
análise do quadro duplamente nominado chamado “No more”
(nunca mais) ou “Gallifrey Falls” (a queda de Gallifrey),
que se revela uma pintura
tridimensional de onde sai um inimigo histórico do senhor do tempo –
os Zygons do arco 80: Terror of Zygons – e
envolve numa trama rocambolesca a Rainha Elizabeth I
e o 10º Doutor, uma parte que confesso não me atraiu no episódio.
[Antes]
Quando
a série retornou em 2.005 o nono Doutor disse que encerrou a guerra
entre os Senhores do Tempo
e os Daleks,
exterminando toda a galáxia onde ficava seu planeta natal.
Evidentemente isto transformava
o alegre Doutor em um homem frio, que tomava
decisões difíceis, mas a série nunca aprofundou neste aspecto
“negro” da alma do personagem.
A trama ecoa um tie-in de Infinity Gauntlet (Desafio Infinito, no Brasil) na série Silver Surfer em 1.990, onde Jim Starlin adverte que Galactus fazia um trabalho de lavagem no emissário de modo a que não conseguisse trabalhar depois de ter enviado o devorador de mundos a centenas de planetas por um tempo indeterminado. O melhor para o Surfista Prateado, assim como para o Doutor era esquecer os atos indignos do passado.
A trama ecoa um tie-in de Infinity Gauntlet (Desafio Infinito, no Brasil) na série Silver Surfer em 1.990, onde Jim Starlin adverte que Galactus fazia um trabalho de lavagem no emissário de modo a que não conseguisse trabalhar depois de ter enviado o devorador de mundos a centenas de planetas por um tempo indeterminado. O melhor para o Surfista Prateado, assim como para o Doutor era esquecer os atos indignos do passado.
Um
detalhe passou ao largo: apesar de continuação direta da série
clássica e respeitando a existência do telefilme, não se vê o
oitavo Doutor regenerando-se para o nono. Teria
realmente sido ele o antecessor do novo Doutor? Poderia o Doutor ter
esquecido uma regeneração que fez algo terrível?
Diversas
vezes, ao longo da série, o Doutor revela que nunca desistiria de
alguém e que jamais permitiria que alguém morresse, o quê
contrasta com a solução que forneceu para o fim da guerra.
Isto
evidentemente cria uma inconsistência no personagem. E
inconsistência é um prato cheia para os fãs pós A saga
da Fênix Negra.
Mas
eis que passam as temporadas e Steve Moffatt,
o show
runner
atual da série, decide
trabalhar com macrotramas, uma trama que permeie toda a temporada,
algo comum nas séries de TV atuais. Durante a sétima temporada há
a trama de Clara Oswald,
uma história que não vou tratar aqui.
Ao
final da temporada no episódio THE NAME OF THE DOCTOR descobrimos
que há um Doutor esquecido, uma regeneração não apresentada aos
fãs, interpretada por John Hurt
e apresentada ali
ao final da temporada. O
episódio termina com o gancho de que o especial de 50 anos em
23/11/2013 que apresentaria
as respostas.
Mas
não apresenta.
Pelo menos de uma maneira
clara.
[O agora, 50 anos!]
Moffatt publica dez dias antes do especial um websódio (episódio curto, produzido para a internet, disponível na página de BBC e no canal no YouTube, mas oficial) que narra a regeneração do oitavo Doutor no War Doctor (John Hurt). Sem assistir este websódio o fã da série não entende que o War Doctor realmente é um Doutor válido.
Retornando
ao especial, com estas informações então
começa a segunda e mais interessante trama do episódio.
O 10º e o 11º Doutores
após conclusa a trama com os Zyngons viajam para encontrar o War
Doctor, dispostos a dividirem a responsabilidade pelo encerramento da
guerra, já que os três são
um só!
Mas
a máquina que aniquilará a galáxia possui consciência e
mimetiza durante todo o
especial a companheira Rose
com o nome “Bad
Wolf”. Assim
passa a influenciar o War
Doctor para que ele não destrua a galáxia.
Então
a responsabilidade pesa e o Doutor – aquele que cuida das pessoas –
não permite a destruição de Gallifrey, preferindo enviar o planeta
para um lugar desconhecido – mas
exterminando a tropa dos Daleks.
Conclui-se
a trama de Gallifrey não caiu!
[Epílogos]
Ao
final os três Doutores se despedem.
Em
separado o War Doctor regenara-se em um Doutor indeterminado. A
sugestão implícita é que se regenerou no oitavo Doutor, já sem as
memórias do ocorrido no fim da guerra por
um problema de continuidade espaço temporal provocado pelo encontro
das três versões.
Alguns
fãs sugerem que não.
O 11º Doutor encontra-se com o Curador do Museu, interpretado por Tom Baker (o 4º Doutor), que sugere que o quadro não tem um nome duplo, mas sim um único que é “Gallifrey Falls No More” (não mais a queda de Gallifrey).