Raymond E Feist
une-se com honras à longa tradição de leitores de sword &
sorcery e de jogadores de RPG que conseguem produzir um
material de qualidade.
É certo que o romance
tem muito de uma campanha clássica de RPG e (mesmo sendo um livro) é
possível trombar com as referências a Senhor dos Anéis de
Tolkien. Além das citações implícitas nos elfos e seus
reinos e nos anões e suas minas, uma sinopse simplista poderia
tornar as semelhanças ainda maiores: um mal surge para atacar o
reino, o quê força o Duque honrado de um dos extremos deste reino a
empreender uma longa viagem atrás de alianças e informações,
levando consigo o mago e dois adolescentes, um aprendiz das armas e
outro aprendiz de magia.
Lançado em 1.982 o
romance inicia o primeiro ciclo da série. O ciclo dura até o volume
4 – originalmente era o terceiro, mas o volume foi dividido em dois
– e a série, publicada até hoje, já alcançou o 22º volume.
Isto significa que grandes editoras instaladas no Brasil estão
investindo em material antigo e com grande quantidade de volumes
publicados, já que a LEYA decidiu publicar WILD CARDS
– que também possui 22 volumes e tem a chancela de George R R
Martin – e a novata SAÍDA DE EMERGÊNCIA, iniciou sua
COLEÇÃO BANG! com esta série. Ainda no quesito de material
clássico, mas já publicado que está recebendo novas traduções e
edições, a ALEPH tem feito um excelente de resgate de ISAAC
ASIMOV, EDGAR R BURROUGHS e o ciclo original de DUNA –
será que publicarão os novos ciclos?
Não é mais possível
que o leitor de ficção científica e fantasia diga que não há
títulos – ainda que não haja muita opção.
Retornando a MAGO
Livro Um: Aprendiz a trama pode ser dividida tranquilamente em
duas partes, uma englobando os dois terços iniciais e outra o terço
final. Os dois terços iniciais são bastante infantis e vez por
outra pensei que estava lendo O hobbitt, dada a passagem com
um dragão falante. Estruturalmente é bem semelhante, visto que ali
se define o caráter de um personagem. Mas o grande personagem é
Pug, menino humilde que é aceito para ser treinado para mago.
Pug é amigo de Tomas,
que inicia o treinamento nas armas e ao longo do romance se tornará
portador de itens místicos que ressaltarão suas habilidades. A
história que até então era sobre meninos e paixões infantis –
sim, Pug se apaixona pela Princesa local e a salva, recebendo seu
afeto – transforma-se em uma grande narrativa militar, quando
surgem os tsurani um povo de um mundo distante que alcançam Crydee e
o Reino através de uma fenda (daí o nome do ciclo em inglês:
Riftwar).
O Duque busca alianças,
nem sempre com sucesso e se afasta de seu ducado levando os dois
garotos que se transformam. Em determinado momento, Pug é capturado
e escravizado. Marca a passagem para o terço final do livro, que
afastando-se de uma narrativa para adolescentes dá espaço ao
Príncipe Arutha, filho do Duque, e seu combate contra os invasores
resistindo ao cerco.
Feist tem uma habilidade
incrível em trama uma guerra de espada & magia com elementos
sci-fi sem fazer a balança pender em direção ao segundo gênero.
Realmente há um elemento sci-fi, a brecha ou fenda, que permite a
viagem dos invasores de seu mundo para este, mas não há espaço
para armas, naves ou robôs. Extrapolando o informado e criando
conjecturas a fenda poderia ter origem puramente mística. Resta-nos
esperar e ler.
A COLEÇÃO BANG!
realmente inicia com o pé direito e nos traz um material de uma
qualidade tamanha que me leva a perguntar quantas maravilhas há por
aí e que não temos acesso por miopia editorial?
Aguardo ansiosamente o
próximo volume previsto para ser editado no Brasil no início de
2.014.
COLEÇÃO BANG! #01
(setembro de 2013); MAGO Livro Um: Aprendiz de Raymond E.
Feist, publicado originalmente em 1.982 e revisado em 1991. ISBN
978-85-67296-00-5. Saída de Emergência; Rio de Janeiro.
Tradução de Cristina Correia e revisão de Gabriel Oliva Brum e Ana
Cristina Rodrigues.