Review: O festim dos corvos

George R R Martin tomou uma difícil decisão no processo da escrita deste que é o quarto volume de As Crônicas de Gelo & Fogo. Percebendo o tamanho do livro aceitou dividir as tramas. Assim em O festim dos corvos há tramas de personagens centrados em Porto Real (Cersei, Jaime, Sansa), dois viajantes (Arya e Samwell Tarly) e vários eventos extras. Em A dança dos dragões haverá as tramas dos personagens restantes Bran, Jon, Dany, Davos, Stannis e Tyrion – entre outros.

O livro fica esquisito por que pela primeira vez introduz uma trama que ninguém entende direito para quê serve além de ocupar páginas. Mas vitorioso, Martin, termina o volume com uma uma forte personagem narradora. E mais uma vingança a caminho.

O festim dos corvos, cujo título não é uma referência à Cidadela e seus meistres e corvos, mas sim, aos homens das Ilhas de Ferro, mostra Westeros sob a regência de uma Cersei sem a habilidade de Tyrion ou o poder de Tywin, triste pela perda de Joffrey e do pai, e sob pressão para concretizar o casamento de Margaerys e Tommen, ele um menino de oito anos e ela mulher feita, algo que poderá trazer certas dores de cabeça.

Com um conselho fraco, Cersei toma uma série de medidas de qualidade duvidosa e uma em especial irá trazer-lhe muitas dores de cabeça. Num momento de guerra, onde os humildes conseguem ver apenas no Septo a resposta de seus anseios e delírios, a Rainha Regente permite que a volte a usar armas em troca do perdão de uma dívida. Fanáticos são ruins, fanáticos armados bem pior.

Jaime tem de escolher uma posição e é enviado para resolver conflitos com os Tully, descobrindo verdades nas mentiras que Tyrion disse-lhe. Brienne inicia sua busca por Sansa Stark, encontrando terras devastadas e pistas que não levam a lugar algum, mas é o principal retrato dos resultados da guerra para o povo humilde. No processo descobre que Arya, tida como morta, não está.

Sansa é o personagem narrador menos interessante, mas suas tramas que narram o jogo de Petyr Baelish o Mindinho, ganha uma dimensão gigantesca. Petyr certamente é o único que realmente sabe jogo o jogo dos tronos.

Nas Ilhas de Ferro, com o desaparecimento e suposta morte de Theon Greyjoy, Asha, sua irmã, não consegue o poder em função do sexo, que passa a Eron Olho de Corvo (daí o título), que passa a assolar a costa e conquistar terras. Infelizmente Olho de Corvo não tem nenhuma habilidade administrativa para manter as terras e controlar seus próprios comandados. Para consolidar seu poder Olho de Corvo promete os dragões e deseja por mulher a pessoa que os controla!

Jon envia Samwell Tarly para a Cidadela – passando por Bravos – com Goiva e seu filho e o meistre Aemon. Lorde Snow teme que Stannis e Melissandre, a mulher vermelha, mate o centenário meistre em função de seu sangue real e envia o amigo para a Cidadela para aprender o ofício de modo a poder aconselhá-lo no futuro. O volume narra somente a viagem da Muralha à Cidadela, mas mostra que Snow já toma decisões bem pensadas e que a Cidadela não está livre de total de tramas paralelas nos jogos dos tronos.

E Arya em Bravos, aprende um novo ofício, não sem consequências.

[Crítica]
O festim dos corvos não consegue ficar livre do cansaço. A trama já durante 2.500 páginas e não dá sinal de conclusão. Porém os sinais de cansaço surgem em vários momentos.

Em alguns momentos é evidente que tramas sã inseridas apenas para que o volume tivesse um formato. A impressão que fica é que entre as páginas 150 e 350 não há nada acontecendo além de tramas dispersas. Mas aí, repentinamente, George Martin costura uma trama nas 200 páginas finais que não lhe permite soltar o volume.

Há toda uma questão de sexismo envolvendo o volume. Mulheres almejam o poder e não podem exercê-lo em função de seus irmãos, tios, pais ou na medida em que a sucessão de poder não permite a transferência para uma mulher. É, por sinal, um evento comum no livro.

O leitor fica sedento pelo volume seguinte e não o quinto, que apenas irá narrar os eventos de outros personagens ao mesmo tempo do quarto volume, mas sim o sexto, penúltimo da saga.

É um volume para iniciados e fieis, pois para vencer as páginas iniciais é difícil. Depois torna-se um desdobramento natural dos eventos anteriores.

O volume foi publicado em 2.005 nos EUA e o seguinte somente em 2.011, tendo tido promessas de lançamento em 2.007, 2.008 e 2.009. A Leya, que publica a série no Brasil, prometeu o quinto volume para setembro. Não há data prevista para o lançamento do dois volumes finais.

O jeito é ler A dança dos dragões e aguardar com ansiedade o volume seguinte. Aguardar muito...