A série surgiu de um
estudo para o relançamento do personagem indígena da DC Comics
Scalphunter.
Scalped desenvolve uma
trama com várias frentes. Em junho de 1.975 alguns ativistas
políticos da Reserva Indígena Rosa da Pradaria em Dakota do
Sul (EUA) estiveram envolvidos no assassinato de dois agentes do FBI
– Robert M. Bayer
e Steve L. Berntson. Baylis Earl Nitz, um dos
agentes federais que fazia parte da operação jurou vingança, e com
o passar dos anos cresceu na hierarquia da do Escritório de
Investigações norte-americano. Apesar dos índios serem inocentados
sabe-se que há algo de podre em relação ao duplo assassinato.
No presente a reserva
vive em relativa miséria e alcoolismo, mas um dos ativistas Lincoln
Corvo Vermelho é o presidente do Conselho da Tribo, delegado,
presidente do Comitê de Planejamento, tesoureiro e administração
do Cassino Cavalo Louco e vive em luxo, glória e envolvimento
com tráfico, prostituição, roubos e todo o pacote. O foco é a
estreia de “seu” cassino na reserva, que ao iniciar a série está
para acontecer.
Os antigos ativistas se
dispersaram, mas Gina Cavalo Ruim ainda está envolvida com o
ativismo político. Esta vida a distanciou de Dashiell Cavalo
Ruim, seu filho, um rapaz em busca de seu lugar no mundo.
Extremamente perturbado, Dashiel buscou a glória nos esportes, na
vida militar (foi soldado em Kosovo) e no FBI. Neste momento o
Nitz viu uma oportunidade de infiltrá-lo na Reserva de modo a
conseguir provas do crime do passado. Aparentemente Nitz o convenceu
usando chantagem.
Para completar o bolo,
Dashiel, que consegue infiltrar-se e tornar-se agente da Polícia
Tribal de Corvo Vermelho, reencontrar Carol, filha do
próprio, e um antigo amor, agora consumida por drogas e
promiscuidade, capaz de deitar com qualquer homem da tribo.
O encadernado é a soma
de dois arcos pequenos, Nação índigena (03 partes) e Hoka
hey (02 partes), que serve para apresentar os personagens para
nós. Além destes personagens há também um dos ativistas do
passado, hoje consumido por décadas de drogas, que tem uma postura
de “bicho grilo”. Chamado de Apanhador, apesar de pequena
participação nos arcos, o personagem tem vários conhecimentos que
ultrapassam sua esfera de contatos, quase todas adquiridos em uma
base mística. Apanhador sabe da relação de Dashiell com o FBI.
A questão que irá
permear a série é se Dashiel conseguirá provas que irão
incriminar XX antes de sucumbir à pressão e ao seu estilo de vida
extremista ou a merda irá voar no ventilador, sua condição de
agente infiltrado irá vazar e ele terá que lidar com as
consequências.
Outra questão é o
processo de corrupção a que passa um “honesto” ativista
político, representado por Lincoln Corvo Vermelho, que em muitos
momentos rouba de Dashiell o papel principal da trama. Este tipo de
reflexão vem muito de encontro com a realidade – e este é um dos
papéis da literatura. Lembre-se que alguns ativistas brasileiros do
período 1960/70/80 tornaram-se nos anos 1.990/2.000 parte do sistema
corrupto ou se corromperam assim que chegaram ao poder. Por outro
lado, aqueles que não se tem prova de que se corromperam ou ficaram
ricos com os favores do estado, simplesmente renegaram a tudo que
escreveram antes do poder. Entre estrelas vermelhas e pássaros de
bico alongado sabemos que todos são iguais quando chegam ao poder.
O texto de Jason
Aaron é afiadíssimo e ele consegue construir uma deliciosa
trama policial que não fica com nada a dever, por exemplo, a uma
série como The Sopranos no quesito complexidade de
personagens e motivações psicológicas para um comportamento
destrutivo.
O traço de RM Guéra
é lindo, beirando a perfeição. Lembra sim, o artista coreano Jim
Lee, mas com uma maturidade que Lee ainda não conseguiu alcançar
já que tornou o seu traço uma espécie de carimbo padronizado na
indústria, um rascunho para seus finalistas terminarem, pois um
produto acabado tomaria muito tempo.
A evolução da trama
não permite concessões. Todos os personagens tem vários níveis de
interesses na manutenção do status quo ou na destruição
dele. Durante a série, prevista para sessenta números e atualmente
caminhando para sua fase final nos EUA, eles irão se chocar.
Distante do universo de
heróis ou de tramas conspiradoras cheias de camadas ou de armas
quase místicas, Escalpo só cresce a cada arco e torna-se
leitura obrigatória a quem acredita que quadrinhos pode sim, narrar
qualquer trama.
Uma série que a Panini
deveria dar ao leitor a oportunidade de vê-la encadernada na
estante.