Chaykin e American Flagg!, II

O primeiro trabalho que vi de Chaykin certamente foi “Monarca das Estrelas”, uma história curta publicada em Premiere Marvel da RGE. Acho que vi algum trabalho com Conan em capas ou histórias curtas. Além de algumas histórias com Dominic Fortune, um personagem da Marvel cujas histórias se passavam nos anos 1.940.

Anos depois quando a CEDIBRA publicou American Flagg! não tive maior atenção, preferindo a série Grim Jack de John Ostrander & Timothy Truman – dupla que teria vários graus de relacionamento com o Gavião Negro, anos depois (aqui).

Mas aí começou uma lista significativa de lançamentos.


Primeiro a Abril lança “Conexão Scorpion” uma graphic novel com Nick Fury & Wolverine escrita por Archie Goodwin em ritmo de filme de James Bond e com arte de Chaykin. Na época do lançamento fazer uma história com Wolverine ainda não era sinônimo de vendas certas, mas foi o início de uma coleção de histórias não relacionadas que sempre tinham bons autores. Wolverine teve álbum desenhados por Alan Davis, Andy Kubert, Bill Sienkiewicz, entre outros. Mas este primeiro tem um frescor que merece uma releitura.

Também tivemos “O Sombra” uma visão nada ortodoxa de um vigilante das pulps magazines. Sombra foi publicado em Batman, 2ª série da Abril (aqui) e a revista tinha uma composição perfeita. Tinha Batman, Questão (recém republicado pela Panini) e Sombra inicialmente por Chaykin e depois por Helfer e Sienkiewicz e Kyle Baker. Na trama de Chaykin um inimigo do passado volta para chantagear aquele que sabe os males que se escondem nos corações humanos. Claro que há sexo e sangue!

A própria Abril ainda publicaria uma Graphic Album coletando o material de “American Flagg!” e depois iniciaria uma curta série mensal.

American Flagg!, ao qual retornarei posteriormente, tratava das desventuras de Reuben Flagg, um agente da lei num mundo sem EUA e URSS – estamos nos anos 1.980, plena Era Reagan – pois os países se retiraram daqui e foram para Marte. Assim corporações controlam os territórios e vários países de terceiro mundo ganham importância, entre eles o Brasil.

Nos EUA a série foi muito popular e junto com Dreadstar e Lobo Solitário foi uma das marcas fortes associadas à imagem da editora First.

A Globo publicou em seguida “Time²” e “Time²: A satisfação de Black Mariah” - duas graphics produzidas para a First Comics depois que ele deixou a série American Flagg. Jazz, sexo, gangsteres e a presença marcante do traço do autor que sempre faz o personagem principal da história ter o mesmo rosto, na verdade, uma versão do seu. Note como Nick Fury, Sombra, Reuben Flagg, e até mais recentemente Justiceiro e o Cap dos anos 50 são o mesmo personagem.

Não bastasse aquela overdose, a Toviassú publicou a série “Black Kiss”, uma história controversa recheada de muito sexo. Na trama um homossexual siliconizado é responsável por crimes satanistas e uma perseguição. Sem as amarras das grandes editoras, Chaykin usou e abusou de sexo e chegou a ser citado em uma famosa entrevista do recém chegado Grant Morrison, que considerou a série “uma revistinha masturbatória para adolescentes”.

Nos anos 90 escreveu “Um conto de Batman – Asas” com a arte de Gil Kane, e diversas graphic novels para os personagens da DC Comics, especialmente na linha “ElseWorld's” (Túnel do Tempo, no Brasil) sendo a melhor em minha não tão humilde opinião o encontro de Batman com Houdini em “Batman & Houdini: A oficina do diabo” (aqui). A Panini publicou um arco recentemente em Coleção Batman 70 anos.

Na década de 2.000 esteve à frente de uma série de projetos, alguns bem divulgados e elogiados como “American Century” (DC Comics/Vertigo) mas que não venderam bem e outros que não evoluíram bem, como sua versão de “Os desafiadores do desconhecido”.

Deu continuidade ao Esquadrão Supremo criado por J. M. Straczynski e como pode ser visto tem feito diversos fill-in para a “casa das idéias”.

É uma pena que um artista tão qualificado tenha tornado-se apenas uma nota de rodapé nos anais dos quadrinhos.