Bobagens aos montes

Li na VEJA de 09 de junho de 2010 que o episódio final da temporada de The Big Bang Theory teve audiência superior ao episódio final da série Lost (veja aqui).

Não que Lost, uma série em decadência desde a terceira temporada, com tramas cíclicas para manter aprisionados seus expectadores, seja grande coisa. Mas The Big Bang Theory é pior.

A série, criada pelos autores da prestigiada série Two and a half men, explora o dia-a-dia de quatro nerds que são cientistas – dois doutores (doutor de verdade, não médico ou advogado) e dois mestres – e a maneira como eles se relacionam com o mundo.

Ou melhor não se relacionam.

Nerds com as cinco letras maiúsculas um dos personagens mais emblemáticos da série é o Sheldon que não tem nada de divertido. Inteligente e com zero de tolerância ou habilidade social ele já perseguiu Stan Lee e expõe seu colega de quarto a humilhações constantes em função de um complexo contrato redigido quando foram morar juntos. Assexuado, seus interesses são outros e possivelmente só vê o sexo como forma de reprodução humana, mesmo que seu colega se enamore com a loura burra do prédio.

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A série mostra de forma nada sutil e idiotizada o sonhos de alguns nerds: tornar-se alguém de relevância na área de conhecimento, e reter os padrões de consumo da infância/adolescência. Ou seja o sonho de que mesmo sendo médico, advogado, engenheiro, professor entre outras profissões continuaremos a ler quadrinhos, jogar vídeo-game, assistir e ser fan de séries, além de ser esquisito.

Peraí... ser esquisito?!

Será que por ter estes hábitos de sub-culturas necessitamos sermos esquisitos?

Assim a série não passa de um “Quanto mais idiota melhor” ou “Debi & Lóide” ou “Forrest Gump” com personagens inteligentes, mas tolos por não terem habilidades sociais. A falta desta os faz tão estúpidos como aqueles que criticam.

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Se estabelece o início de mais um ciclo na TV estadunidense com o retorno das séries de comédias de situações (sitcom em inglês) para o top das grades. A última sitcom de grande aceitação foi “Friends” e seu fim marca o início de um ciclo de produções de qualidade como, por exemplo, The Sopranos, Battlestar Galactica, Dexter, Lost, Lost in Mars (TV inglesa), 24 Horas.

Com a exploração dos conceitos até a última gota de originalidade séries como Lost e 24 Horas se esgotaram ainda no ar e Dexter, apesar de exibido no Showtime e com apenas 12 episódios por temporada, poderá passar pelo mesmo caminho. Quem não acredita que uma série pode se esgotar por exposição lembre-se de “Arquivos X” e compare as temporadas 1 a 5 com o restante da série.

O retorno da ascensão desde tipo de sitcom's veio com o início de Two and a half men que conta a história de um homem fracassado no casamento e seu filho obeso e flatulento que passa a morar – eles se impõe – com o alcoólatra, misógino, sexólatra e irresponsável irmão que mora em uma casa de praia em Malibu. Antes de The Big Bang Theory a série Two and a half men era considerada a mais bem sucedida da TV e Charlie Sheen, ator que usa a própria personalidade para criar sua versão televisiva recebia por episódio na sétima temporada US $ 850 mil dólares, e teve extensa negociação para assinar o contrato de renovação – valor ainda não divulgado.

August T. Jones o menino flatulento, agora um adolescente com 16 anos, é simplesmente o ator menor de idade mais bem pago da TV, recebendo US $ 250 mil dólares por episódio (uma temporada tem em média 22 episódios).

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The Big Bang Theory é o jeito dos escritores exacerbarem a sua nerdice e fazerem rir com isso. Mas não deixa de ser um olhar preconceituoso do uso da inteligência e uma comprovação ficcional de que “só é feliz quem é estúpido”. Afinal entre ser um dos vários namorados trogloditas de Penny, sarrados e burros, mas com belas mulheres e carros, e ser um dos esquisitos PhD's em áreas do conhecimento que jamais permitiram uma conversa normal com ninguém, um garoto comum escolheria o quê?