A fé como ponto de partida

No universo em quadrinhos personagem que compartilham fé quase sempre são estereotipados. Na verdade, numa mídia, como quadrinhos tudo tem que ser estereotipado para os fãs de pouca cultura perceberam na rápida leitura que fazem.

Raros são como o reverendo de O reino do amanhã, que na trama serviu como um observador neutro para um julgamento divino.

Existem um sem número de personagens místicos. Alguns têm uma abordagem “bondosa” como Dr. Strange da Marvel Comics, outros uma abordagem claramente “pouco se importa” como Hellblazer da DC Comics. Outros ainda são claramente malignos como “Filho de Satã” (Marvel Comics) e Demônio (DC Comics). Ou simplesmente confusos, muito confusos como Spawn (Image Comics).

Kurt Busiek em Astro City criou uma equipe de heróis ligada ao cristianismo. Como a equipe até hoje foi apenas rápida coadjuvante não se sabe realmente até que ponto ela é ligada à fé.

Mas em Sociedade da Justiça da América, Geoff Johns aproveitou um conceito simples dos quadrinhos e produziu um material com grande energia.

O conceito simples é sobre como um mesmo homem pode se tornar diferente no Multiverso da DC Comics.

Isto existe aos montes seja na DC seja na Marvel (que todo mundo se esqueça mas que tem um Multiverso, muito, mas muito, mas muito mesmo maior do que o da divina concorrente).

Este caso sensibiliza pelo apelo emocional.

O Senhor Incrível, Michael Holt, é um campeão olímpico do decatlo que após a morte de sua esposa em uma acidente automobilístico assume a identidade de Sr. Incrível.

Negro, rico, inteligente e com apoio tecnológico, suas primeiras aventuras foram narradas em The Spectre de John Ostrander & Tom Mandrake, inédita no Brasil.

No arco “Injustice be done!” ele entrou definitivamente na Sociedade da Justiça e em pouco tempo tornou-se o líder, quando a tensão sexual do triângulo entre Sandy – Moça Gavião - Gavião Negro deixou claro que ele era o personagem mais capacitado.

Sua capacidade logística é tamanha que mesmo na série de TV Liga da Justiça Sem Limites ele se tornou o coordenador da equipe quando J’Onn J’Onnz saiu em férias.

Relendo os arcos fica claro que houve indícios de uma trama sobre a morte ou vida pregressa da Srª Holt que nunca foi realmente trabalhada. Com o encerramento da participação de Geoff Johns na equipe dificilmente o arco retornará, ou se acontecer dificilmente será com habilidade.

Holt, após a morte da esposa, tornou-se ateu, o quê era chocante, visto que The Spectre era uma série em quadrinhos sobre o “espírito da vingança de Deus”! Assim como o Sr. Fantástico da Marvel Comics, ao seu ver os seres místicos são apenas outra forma de super-seres.

Já quase no final da série JSA, após um confronto com o Rei Fantasma, que havia matado o Sr. Incrível original e na trama havia espaço para fantasma e seres do além, Holt aceita o convite de Dr. Meia-Noite, católico praticante de ir numa missa.

No arco “Um mundo sob Gog” a voz do Sr. Incrível não é ouvida por Gog exatamente por que ele não tem fé verdadeira, e por isso o deus o ignora.

Mas uma das tramas deste arco leva-nos à Terra-2 onde a Poderosa procura o possível Michael Holt daquela dimensão para auxiliar no seu retorno à nova Terra.

Ao encontrar Holt da Terra-2, professor em uma Universidade, Poderosa se depara com um homem diferente que não perdeu a esposa e não teve uma crise de fé!

Quantas crises de fé começaram com a perda de uma pessoa amada para os braços da morte?

Sutil, Johns mostra que há espaço para fé mesmo em uma mídia onde cada espaço é disputado por mulheres voluptuosas e personagens enraivecidos, irados, nervosos e violentos.

Não por acaso a questão de vida e morte retorna em “Flash Renascido” (a volta de Barry Allen) e “A noite mais densa” – a mega-super-hiper-grande saga de verão da DC Comics – ambas escritas por Johns. Ambas são voltadas mais para a ação do que reflexão, mas o autor deixa claro sua fé.

Um detalhe interessante. A personagem Stargirl (Celestial por aqui) da SJA é uma homenagem de Johns à sua irmã Courtney que havia falecido em um desastre aéreo. Stargirl surgiu em “Stars and S.T.R.I.P.E.” série simpática mas de curta duração. A personagem continua a tradição de dois personagens do DCU: Starman (o personagem de James Robinson) de quem herdou o bastão cósmico e Celestial (membro da SJA e da Corporação Infinito) de quem herdou o cinturão cósmico.

Sr Incrível também pode ser visto no especial Crise Final: Resistência.
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