A morte do Capitão Marvel (1982)

(Quase 25 anos depois do lançamento no Brasil e 30 do lançamento nos EUA finalmente eu li “A morte do Capitão Marvel” [Marvel Graphic Novel nº1: The death of Captain Marvel]. 

Achei que não me importaria com a história de um homem e a aceitação da derrota a um inimigo maior e definitivo, o câncer. 

Ana Vitória (6), Ágata (nascida a 21/12/11) e Maria Paula (11)
Mas à medida que as páginas se passam vem à memória os amigos que já se foram e especialmente retorna a saudade de minha mãe morta em um AVC em 7/12/1.996 e de meu filho Kal'El que morreu duas semanas antes do parto em 2010. 

São feridas que nunca se curam e logo o tom de despedida da história faz as lágrimas virem aos olhos; não em função de páginas de homens e mulheres usando uniformes aberrantemente coloridos, mas em função da saudade das pessoas amadas, alguma ainda vivas como minhas filhas Maria Paula & Ana Vitória que moram com minha primeira esposa e nem sempre estão em meu convívio.

A (relativa) solidão e a saudade são sentimentos que trabalhamos e não nos deixamos conduzir por eles, mas certamente nunca aceitaremos de total. Admitimos a derrota em função de que não há outra opção. Mas é só. Se pudéssemos resistir, iríamos até o último instante.

O que me lembra Morte dos Perpétuos [da série Sandman] quando diz que não há vida maior ou menor e que todos recebessem o mesmo tempo de vida: uma vida inteira!)


A morte do Capitão Marvel primeira graphic novel da Marvel Comics foi concebida por Jim Starlin, autor que trabalhou com o personagem em uma memorável passagem nos anos 1.970. Independente da trama a história é o exorcismo do autor dos fantasmas provocados pela morte por câncer de seu pai.

A graphic novel é comovente não em função da história e arte em si, mas da identificação que o leitor tem com ela, pois é fácil ter perdido alguém querido.

Na trama, devido à exposição à gases tóxicos anos antes, o herói kree contraiu câncer e suas pulseiras fotônicas adiaram o desenvolvimento da moléstia durante muito tempo. Infelizmente as mesmas pulseiras não permitem atualmente a ação dos vários médicos, físicos e cientistas de um universo de heróis padrão.

A história narra um pouco da fase de negação – mais pelas pessoas ao redor, do que pelo herói em si – e a fase de aceitação dos limites. Temo então uma rápida narrativa da vida de Mar-Vell e seu relacionamento com as pessoas amadas que estão ao seu lado no leito de morte.

Uma grande história que não sofre com o “morre ressuscita” das editoras americanas, até por que o herói continua morto (o herói, a marca não, há outros “Capitães Marvel” na editora).

Indicado para adultos, não em função de cenas fortes, mas por que a trama necessita de alguém experiente na vida para absorver as sutilezas dela.

Publicado no Brasil em Série Graphic Novel #03 da Editora Abril.