Domingo que vem
(29/09/2013) termina a série Breaking Bad em sua quinta
temporada, parte 2. Este é o momento de comemorar o trabalho, uma
série original que essencialmente trata da moralidade dos atos. Para
tanto, atrasei leituras e outros entretenimentos para terminar a
segunda temporada, exibida originalmente entre 8 de março e 31 de
maio de 2009.
Caso você viva em Marte,
Breaking Bad trata da transformação de um professor de química em
traficante.
Chocou? Não? Deveria,
pois é uma transformação muito semelhante a uma que poderia
acontecer contigo.
O professor Walter
White (Bryan Cranston) tem uma vida simples e cheia de
restrições financeiras em Albuquerque, Novo México
(EUA). Sua vida é composta por uma boa esposa (Skyler White
interpretada por Anna Gunn), um filho com paralisia cerebral
(Walter White, Jr. interpretado por RJ Mitte) que anda
de muletas e fala com alguma dificuldade e um segundo emprego para
pagar as contas em um posto de lavagem de carros. É humilhado pelos
alunos, que não vem em sua profissão o resultado de seu
conhecimento.
Repentinamente
descobre-se com câncer e com a esposa grávida!
E em um desses lances de
“gênio” crê ser possível fabricar e distribuir metafetamina
junto com um ex-aluno traficante e viciado chamado Jesse Pinkman
(Aaron Paul).
E então sua vida virá
de ponta cabeça!
* * *
A temporada é agitada e
cheia de conflitos. Walt & Jesse sempre procuram passar ao largo
do tráfico propriamente dito, buscando alguém que distribua a droga
para eles – basicamente o primeiro terço da temporada. Mas após
sobreviver a um conflito com um distribuidor e fingir uma perda de
memória, White obriga a Jesse a tornar-se distribuidor, sempre tendo
em vista a acumulação de recursos que supostamente dariam segurança
financeira para sua família. Cálculos são feitos e refeitos, uma
rede de distribuição é montada e muitos planos são postos em
prática.
A dupla, no entanto, não
ganha a aversão do telespectador. Longe de odiar, o telespectador
simpatiza com o dilema moral de Walt e com o ciclo de destruição ao
seu redor, fazendo uma mentira para justificar a outra e sugando para
si, como um grande buraco negro, o seu auxiliar que por sua vez suga
uma ex junkie para sua vida de erros e com consequências
fatais.
Tudo é uma relativa
comédia de erros, próprios dos anos 2.000. A moral do fabricante de
drogas que para salvar a família destrói outras, não é
questionada abertamente, ainda que os personagens tenham escrúpulos.
Mas este questionamento está implícito em cada episódio. Quem
questionará Walt abertamente será sua esposa, mas não nesta
temporada, quando não tem conhecimento do fato.
As críticas às drogas
são fortes. Em um momento pressionado por Walt, Jesse vai reaver
dinheiro roubado de um vendedor e tropeça em um lar distribuído por
elas: uma criança criada em uma casa imunda, com pais sujos e cheios
de feridas, com uma mãe prostituída para manter o vício. Noutro
momento a série mostra que a droga alcança a todos, ao trazer outra
criança para o mundo do crime, fazendo-a refém das instruções do
tráfico.
Claro que a dupla tem
reveses como, por exemplo, quando pagam um alto custo para libertar
um distribuidor considerado “amigo” (Badger interpretado
por Matt L. Jones), mesmo quando o advogado Saul Goodman
(Bob Odenkirk) sugere insistentemente que o matem na prisão –
e implicitamente deixando claro que teria meios para tanto.
E nos intervalos rápidas
sessões de quimioterapia (o show não perde muito tempo
nestes procedimentos), pagamentos e mentiras para sustentar a entrada
de mais de US$ 100 mil dólares que é rapidamente sugado pelo custo
da despesa hospitalar.
Walter White é um homem
bom – ou pelo menos era, no início da série. Ele é o herói de
seu filho, que reconhece as limitações do pai e eventualmente se
espelha no tio agente DEA. Em determinado momento o garoto faz uma
página na internet para receber doações, algo que o advogado tenta
convencer Walt a conspurcar e usar para lavagem de dinheiro. Sua
esposa, entendendo a suposta dificuldade financeira, volta a
trabalhar em adiantado estado de gravidez no setor de contabilidade
de uma empresa em que já havia trabalhado – e saído após receber
uma cantada em uma festa de fim de ano. Não demora a descobrir uma
contabilidade nebulosa e falcatruas.
Em conflito, silencia:
necessita do dinheiro! Seria esta sua postura quando descobrir as
ações do esposo?
* * *
No terço final da
temporada de 13 episódios, a dupla já controla o tráfico de Sky
Blue (a metafetamina de tom azul que produzem), mas devido à
pressão de White, sempre desejoso de ter um grande valor para a
segurança de sua família em pouco tempo, passam a invadir
territórios. Walt está lutando contra o relógio e sabe que mesmo
que ganhe tempo, serão meses ou anos. Nunca estará livre do câncer.
Então um de seus
vendedores é assassinado por uma gangue rival e eles decidem
retroceder a um estágio anterior, fornecendo a meta para
distribuição alheia. Saul entra em contato com Gustavo “Gus”
Fring (Giancarlo Esposito) que, depois de um teste, aceita
adquirir a droga. Ganham US$1,2 milhão, que menos os 20% do
advogado, transforma-se em cerca de 480 mil dólares para cada.
É suficiente para que
White se afaste deste jogo, mesmo que tenha pela frente uma operação
arriscada – e cara. Ao mesmo tempo Jesse se apaixona por sua
locatária, ex drogada em tratamento. Fascinada pelo traficante e
tendo as drogas à mão Jane (Krysten Ritter) retorna a
esta vida.
Walt percebe que Jesse
está consumindo muito e responsabiliza a garota. Ao ser cobrado por
Pinkman, White se nega a pagar o quinhão dele do dinheiro. Jane, ao
saber, ameaça o químico. Derrotado, White entrega, mas preocupado
com o destino do garoto, que possivelmente usaria para alimentar o
vício, vai até a casa onde descobre Jane em uma crise de vômito.
Aí ressurge o
Heisenberg, a persona traficante de White que já tinha
aparecido em alguns momentos. Diante do casal adormecido em sono
profundo provocado por drogas, vê alguém que tira seu controle
sobre o peão em uma crise. Decide deixá-la morrer!
White entra em contato
com Saul que providenciam um agente para a remoção de evidências
que possam incriminar Pinkman. Ele se entrega às drogas pesadas e
arrependido, White leva-o para uma clínica de recuperação,
enquanto segue para sua operação.
A operação é um
sucesso!
Estaria tudo pronto para
terminar este jogo nefasto. Mas o circo caí!
Pouco antes da operação,
sob efeito de drogas, White confessa à esposa que tem dois
celulares, algo que desmentiu e sustentou durante toda a temporada e
foi a razão de criar um falso lapso de memória. Enquanto Walt se
recupera, ela puxa o novelo e descobre que o responsável pelos
pagamentos do tratamento de seu marido não é o fundo que ela
acreditava ser, e que ele não visitou a mãe quando se ausentou
quatro dias para tanto – foi “cozinhar” meta.
Skyler expõe tudo para o
marido e pede para que ele sai de casa, pois teme a origem dos
recursos, ainda que esteja mais irada com a mentira do companheiro.
A esta altura devo
efatizar que um dos coadjuvantes importantes da série é Hank
Schrader (Dean Norris), cunhado de Walt, casado com a irmã
de Skyler, Marie Schrader (Betsy Brandt). Hank é
agente de DEA, o departamento de combate a entorpecentes. Envolvido
na trilha do Sky Blue, ele é responsável pela prisão de um
falso Heinsenberg quando Badger caiu nas mãos da polícia. Hank fica
bastante desconfiado da credibilidade da prisão.
Ele não tem nenhuma
razão para desconfiar do cunhado, mas se Walt pressionar Skyler e
ela fornecer as informações que tem, Walt poderá ter alguém em
seu encalço.
Então um avião cai na
casa dos White! Literalmente!
* * *
Quão sádico somos! Nos
divertimos com a desgraça de um homem íntegro, vendo sua
transformação, lenta e gradual, em um monstro amoral. Vemos ele
arrastar a família para o grande buraco negro que criou e justificou
para manter unida e confortável a família, que em uma ironia
simples e direta, perderá no processo.
Durante a temporada vemos
se apagar o trêmulo professor de ginásio e surgir um frio ser, o
quê nos leva a refletir sobre as transformações que o ser humano
passa quando tem as chances e oportunidades à sua disposição.
Walter White é diferente
de nós? Até qual ponto? Qual é o limite? Até onde iriamos nos
corromper para ter o conforto econômico?
Fica a questão em
aberto.