Gerard Jones consegue em Homens
do Amanhã geeks, gângsters e o nascimento dos gibis
(publicado em 2004 e com edição de 2006 no Brasil pela Conrad
Editora, ISBN 85-7616-160-5) contar a história que
faltava até então: a da criação do mercado de quadrinhos e da
relação entre os fãs, os gangsteres e os judeus no processo.
Sempre houve e sempre haverá relatos
biográficos e autobiográficos de dezenas de autores e de
personagens, mas Jones se concentra na história da indústria, tendo
foco na narrativa da história de Harry Donenfeld, Jack
Liebowitz e dos criadores do Superman, Jerry Siegel
e Joe Shuster. É uma terrível história de injustiças,
roubos e trapaças que pode ser coroada de forma nada aprazível
quando, em 2.013, a questão dos direitos autorais do Superman foi
finalmente encerrada e a DC Comics ganhou a causa: os fãs de
então estavam com um estranho sorriso de satisfação dos lábios.
No processo de narrar a criação do
mercado de quadrinhos, Jones vai além e traz à luz dos holofotes
rápida ou mais intensamente a história de gente como Hugo
Gernsback, Major Wheeler-Nicholson, Charles
& Bill Gaines, Mort Weisinger, Bob Kane e
ainda mais rapidamente Martin Goodman, Stan Lee,
Jack Kirby, Jack Cole e Will Eisner. Não é a
história da vida deles, mas suas contribuições cheias de
coincidências, sucessos e dissabores à história dos quadrinhos,
uma mídia que, se não foi criada, foi encampada por judeus
imigrantes que buscavam sucesso financeiro e relevância social. Na
soma destes dois quesitos, ninguém obteve tanto quanto Jack
Liebowitz que viu e agarrou todas as oportunidades, criando uma
empresa que se tornaria peça fundamental no conglomerado AOL-Time
Warner.
Não é uma história feliz ou com um
final feliz. Não é uma história que termina coroada com uma
punição financeira por décadas de exploração da criação de
dois adolescentes. É uma história do gênero humano e de como o
dinheiro, se não muda as pessoas, traz à tona o que elas realmente
são.
Apesar da capa ridícula (e
apropriadíssima, diga-se de passagem, o quê nos leva à máxima de
que não se deve julgar um livro pela capa, ou então que sim,
deve-se julgar, porque não há capa mais geek que esta) é
um livro fundamental para entender a criação dos quadrinhos, mas
não é tão eficiente nos anos mais recentes. Não faz uma única
referência à DC Implosion, às revisões do Código de
Conduta dos Quadrinhos ou das constantes revisões recentes (o novo
universo DC em 1987, que cita rapidamente com foco só no Superman ou
o universo Ultimate na Marvel de 2001). Sequer cita Watchmen,
Alan Moore – que assina uma citação na contracapa!, Neil
Gaiman ou a invasão britânica. Mas não era esta a história
que ele queria narrar.
Mesmo assim garimpo uma citação de se
refere às revisões, próximo ao fim do livro, nas páginas 406-407:
"Personagem nenhum sobreviveu tão bem às areias movediças da cultura de massa como os super-heróis. Mickey Mouse e o Pato Donald permanecem como mascotes empresariais. Pernalonga e Patolino ainda fazem um retorno ocasional, mas nunca foram reinventados com sucesso para o momento atual. Blondie Bumstead ainda sai nos jornais por hábito e nostalgia. Os heróis dos pulps, O Sombra e Doc Savage, simplesmente sumiram. Mas depois de quase 70 anos os super-heróis dos quadrinhos continuam voando pelas telas dos cinemas, pelos televisores, em consoles de videogames e em lojas de brinquedo do mundo inteiro. Talvez eles até sejam mais conhecidos e mais relevantes, culturalmente falando, do que eram quando jovens.
Os quadrinhos se tornaram ponto de referência tanto na mais esotérica arte e ficção como na mais popular. Todo mundo entende uma alusão ao Super-Homem ou uma piada com o Batman. (…)”,
Gerard Jones.