Afinal livro é chique.
(Quadrinho é que é sujo.)
A EL James faz
agora o quê Harold Robbins e Sidney Sheldon fizeram
uma geração atrás. Robbins, que tinha títulos como “O
garanhão” chegou a ter volumes traduzidos por Nelson
Rodrigues para dar ao leitor o “tom” da obra. Detalhe:
o dramaturgo não tinha conhecimento algum da língua de Shakespeare
e apenas assinava as traduções.
No fundo voltamos à
questão primordial: leitores de “Harry Porter”
continuaram a ler livros depois da série? Ou na narrativa
contaminada do livros e filtrada pela cine-série apenas viciou os
leitores infanto-juvenis?
Noto claramente que
todo o contexto de “revolução dos duendes escravos” da série
do menino-mago nunca foi um tópico muito distinto de debates, assim
como o fato atual que uma garota aceita ser submissa numa relação
romântica e sadomasoquista não vai acender a luz vermelha de
ninguém, para transferir para o romance a responsabilidade de
transformar as mulheres em objetos submissos. Ninguém realmente
liga para o livro que rendará quando muito uma experiência sexual
com menor culpa.
O melhor de tudo é que
depois dos três livros, dos três filmes (sim, eles virão, espere)
e passados dez anos ninguém irá se lembrar. Nenhuma mãe daqui dez
anos irá entregar à filha a sua cópia do livro, com a mesma
tranquilidade que passo para minha filha um Jules Vernes. Se
as cópias ainda existirem nesta época, ficarão em algum lugar sujo
e empoeirado como “cabe” ao soft porn que lemos na
adolescência e temos vergonha de ter lido.
No mais, o desejo aceso
irá encontrar uma recepção em muitos maridos, que irão locar
produções soft porn para abastecer o manancial de
expectativas criadas. Alguns apenas trarão para o quarto do casal as
produções habituais que já assistiam, mas tinham vergonha do fato.
A indústria do porn irá criar novas produções e assim um produto
supostamente cultural irá criar uma geração de consumidores de
pornografia.
Não a culpa não é de
James, nem das editoras, nem dos leitores, mas todos usam o contexto,
o mercado e as necessidades do público para ter lucros.
Grandes lucros.
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post scriptum:
Ninguém fala, mas o grande objetivo por trás de toda a indústria
de robôs é a pornografia. Robôs com pele, cheiro e aparência
humana serão comercializados como bonecos infláveis e terão
modelos criados sob encomenda para necessidades bem específicas. A
ficção científica se não trata deste assunto de forma mais
explícita é por que os editores querem ver livros que seus pais
tenham orgulho e leiam.