Meu primeiríssimo
contato com
Ed Mort foi uma propaganda no verso de um álbum
do
Batman para
L&PM e algumas propagandas dentro da
Revista do Livro da extinta editora
Círculo do Livro,
ligada ao
Grupo Abril.

Me interessei por
Luís
Fernando Veríssimo e acompanhei suas crônicas na
VEJA e
na
Revista Domingo do
Jornal do Brasil e conheci dois
personagens marcantes: o
Analista de Bagé e a
Velhinha de
Taubaté – a última pessoa que acreditava no governo
Figueiredo.
Na época alguns amigos conseguiram as páginas das crônicas das
revistas das coleções pessoais de parentes que estavam para jogar
as edições no lixo. Ainda as tenho.
Mas o detetive
particular Ed Mort só li em tiras. Poucas, diga-se de
passagem.
Comprei mais Veríssimo
com suas comédias sobre a vida privada e pública, mas Mort eu
deixei de lado sem experimentar.
* * *

No início de dezembro
de 2011 zapeando entre os canais descobri uma série
Ed Mort
no
Multishow onde o detetive é interpretado por
Fernando
Caruso. Caruso e os roteiristas tentam dar uma estrutura aos
curtos contos de Veríssimo com o personagem, tiram alguns elementos
que funcionam bem no livro como os baratas e o rato
Voltaire mas
certamente não teriam impacto nenhum na TV e acrescentam o
ajudante, o dono do prédio (reaproveitando o nome Voltaire) e a
simpática moça que trabalha na pastelaria, apaixonada
platonicamente por
Mort... Ed Mort... está na placa!
Com 22 minutos o
programa funciona bem e já sinto-me triste com o retorno de Caruso
para o insonso programa de humor que fazia antes. Até a finalização
dos episódios com a equipe cantando uma música num estilo intimista
é bem divertido. Espero que tenha uma segunda temporada mesmo que os
contos sejam poucos. Mas como o programa mistura os curtos contos do
detetive com contos do livro original de Veríssimo e a história,
invariavelmente sobre a busca de um marido desaparecido, é contada
de forma contemporânea e com um película de cinema, produz uma
comédia agradável aos olhos.
Anteriormente os contos
foram adaptados para um filme com Paulo Betti interpretando o
detetive.
* * *

Já o livro é datado,
diferente de outras coletâneas de contos do autor como as sobre a
Era Collor, o Analista de Bagé, sobre a vida privada e sobre o setor
público que funcionam bem até hoje com o mínimo de
contextualização. São realmente contos pa
ra se ler em uma revista
entre as sisudas reportagens, achar engraçado e esquecer. E também
não são muitos sobre o detetive – cinco ou seis.
Numa passagem ou em
outra o livro transmite inteligência e a lembrança da Ditadura
Militar, noutras consegue ser engraçado mas completamente
dispensável.
Típica leitura para
uma viagem que dure entre três ou quatro horas.