Thor, o filme e o personagem III

Nada pior para os autores de quadrinhos que um período excelente que o antecede. Poucos autores conseguem superar esta referência. Dois casos são o de Geoff Johns em Flash, que superou o período de excelência de Mark Waid e de Ed Brubaker em Demolidor, que conseguiu produzir material no nível de Brian Michael Bendis e em vários momentos bem superior.

Tom DeFalco & Ron Frenz pegaram Thor e o Universo Marvel em transformação, já no meio de uma tendência de concentração nos mutantes, e criam tramas que lembram visualmente o período de Jack Kirby com uso de Celestiais, Alto Evolucionário, uma nova identidade humana, ampliação de coadjuvantes novos e investimentos uma versões de Thor. Não iam na contramão de uma tendência de mercado, mas tentavam explorar a riqueza do legado de Kirby que usou os mesmo personagens em histórias de Thor. Se o período é criticado, o dois primeiros anos produz um material de qualidade que não tenta se aproveitar do sucesso de Simonson.

Mas a onda visual dos mutantes já tinha atingido aos Vingadores e seus membros. Thor trocou de roteiristas na época do arco Vingadores: A travessia e seus desdobramentos e foi parar num tímido Warren Ellis (Transmetropolitan), que já havia trabalhado nos padrões Marvel em Doom 2099, Dr Strange e na série do Filho de Satã – este sim, um produto com a cara das obras do autor - e num Mike Deodato que tinha trabalhos em Hulk e Mulher-Maravilha no “padrão de qualidade Image”.

Em Massacre, um arco mutante, Thor “morreria” junto com outros personagens e iria para um universo paralelo. Seria o único personagem de primeiro escalão da editora em anos a não ter série própria. Já o título “The Mighty Thor” altera seu nome para “Journey into the mystery” e torna-se uma antologia, ainda que mostre aventuras de personagens ligado ao deus do trovão.

Após o evento “Heróis Renascem” - 13 meses – e a série semanal “Heróis Retornam”, Vingadores, Capitão América, Homem de Ferro e Quarteto Fantástico reiniciam novamente suas séries. Seria o volume 3 dos personagens (o volume 2 foi os 13 números Heróis Renascem). Thor recebe o volume 2 de suas aventuras e vai para as mãos tímidas de Dan Jurgens.

Jurgens, um roteirista que não passa do mediano em quase todas as séries que trabalhou, especialmente Superman onde foi, no máximo, uma extensão controlado pelo editor de John Byrne, voltou para o estacado de inspirar-se no passado. Procurou como tom o período Roy Thomas/John Buscema, sem maiores conseqüências.

Em 1.998/99 quando os roteiristas e artistas dos volume 3 estavam buscando outros rumos, Jurgens permaneceu e começou uma estratégia arriscada de um novo confronto com Surtur. Era arriscada por que o período Simonson já havia oferecido isto aos leitores. Matou novamente o pai de Thor, mas desta vez garantiu que a “força Odin” se transferisse para o jovem deus. Iniciou um longo arco de histórias onde os asgardianos se estabeleceu sob Nova Iorque e passou a serem adorados como deuses, chegando a arriscar mesmo a mostrar o enfraquecimento da fé judaico-cristã em prol dos objetivos tangíveis mostrados por um deus visível para uma população desiludida com os perdas dos ataques terroristas e dificuldades econômicas.

Na solução do arco criou um futuro alternativo onde um Thor impuro controla Asgard e os destinos da humanidade. Talvez o grande defeito do período tenha sido o tamanho da trama, que durou mais de três anos e finalizou a participação de Jurgens no personagens.

É interessante ressaltar que a Marvel sob a direção de Joe Quesada, que de diretor de departamento/selo (Marvel Knight), tornou-se editor-chefe da empresa, decidiu no período 2.000-2.005 distanciar os personagens. Eventos que aconteciam com os mutantes (na série escrita por Grant Morrison), os Vingadores (escritos por Kurt Busiek e que tratava da derrota da Terra para Kang), Hulk, Homem-Aranha, Demolidor entre outros não pareciam que aconteciam no mesmo universo ficcional. Existiam alguns raros cross-overs, mas tudo era fechado ao sub-universo do personagem. Assim, ficou fácil para Jurgens assumir a arriscada estratégia com Thor. O rápido cross-over com Homem de Ferro e Vingadores não pode ser levado à sério pois não mostra um desdobramento racional de tudo que acontecia, era apenas uma falha tentativa de provar ao leitor que os acontecimentos ocorriam no mesmo universo Marvel.

Na mesma época do lançamento do evento “Vingadores: A queda”, a Marvel entrega o Thor e seu universo a Mike Avon Oeming para concluir a série. Acreditando que vivia um ciclo infinito de repetições, Thor rompe com isso e “destrói” a sua realidade ficcional. A série é cancelada, e a editora passa a produzir séries com um jovem Thor e com ele e seus amigos, distantes do momento cronológico. Ou ainda a terrível série para o selo Marvel Max, Thor: Vikings.

Quesada, já havia redefinido a política de eventos da “Casa das Ideias” para o período 2.005-2.011 e os personagens voltaria a co-existir realmente num mesmo universo ficcional, o quê foi provado com os eventos “Vingadores: A queda”, “Dinastia M”, “Guerra Civil”, “Aniquilação”, “Invasão Secreta”, “Reinado Sombrio” - diferente dos outros eventos não era uma série, mas um momento do universo Marvel -, “O cerco”, “Era Heróica” e “Shadowland”.

Um dos confrontos épicos de Guerra Civil (veja aqui) foi entre os revoltosos e um robô-Thor, anunciando que o herói estava próximo do retorno, que aconteceu de fato. J. Michael Straczynski (Babylon 5, Homem-Aranha) assumiu o personagem e se afastou pouco após o primeiro ano exatamente em função do uso do personagens do universo asgardianos em O cerco, evento da Marvel após Reinado Sombrio.

Espero ansiosamente pelo resultado do filme do o deus do trovão e pela projeção que isto poderá dar para um personagem como ele nos quadrinhos. Com a produção de Thor e Capitão América, com a série do Homem de Ferro estabelecida, com a Viúva Negra e o Hulk já presentes nos cinemas, falta muito pouco para vermos Vingadores e sua invasão chitauri/skrull nas telonas.

No Brasil Thor pode ser encontrado em séries da EBAL e Bloch, na Editora Abril (Heróis da TV, Thor (minissérie), Superaventuras Marvel e nas séries Marvel 'ano). A Panini continuou com as séries Marvel 'ano e depois lançou Os Poderosos Vingadores, hoje chamada Novos Vingadores e todas estas séries tem o deus do trovão, além de uma série de encadernados da Panini em formatinho, um especial, o arco em Marvel Max e três números de Os Maiores Clássicos de O poderoso Thor com o texto de Walt Simonson e arte de Simoson e Sal Buscema – a editora já prometeu o quarto volume. Além destes, há a série Biblioteca Marvel com três volumes dedicados ao início da parceria Lee/Kirby.

Thor é um dos personagens mais constantes por aqui e o material das séries Os Maiores Clássicos e Biblioteca Marvel é muito fácil de ser encontrado em lojas virtuais em preços convidativos.