Elric: The stealer of souls (1962), o conto

Às vezes é necessário contextualizar bem algumas coisas para entender por que se deram daquela maneira. Os contos de Elric, personagem criado por Michael Moorcock, foram publicados em uma série de fantasia e sci-fi inglesa chamada Sciense Fantasy, uma antologia de contos. São escritos de um jovem autor, que chegava a produzir quinze mil toques em um único dia (!) e foram publicados quase que mensalmente na revista. Não havia uma preocupação real com a qualidade das aventuras, que em geral eram sempre muito boas, mas sempre havia um quê de repetição.

As repetições, são, é claro, maneiras de estabelecer uma comunicação para com todos os leitores, tanto aqueles que compraram todas as edições, como para aqueles que compraram pela primeira vez.

Elric, um homem exilado, está em um bar, um grupo contrata-o para um feito extraordinário, que em geral tem relação com seu passado que vive teimando em assombrá-lo. No caminho vive aventuras, realiza feitiços, mas normalmente seu caráter o põe em cheque em diversos momentos e sem uma inclinação natural para herói, torna-se não um vilão, mas um anti-herói, capaz de fazer escolhas que beneficiariam a ele, e não raro somente a ele. A maior lição que se fica é que ao se permitir manipular o oculto, Elric torna-se um títere nas mãos do oculto.

De um modo geral, o personagem de Michael Moorcock ajudou a cimentar e construir a essência do anti-herói, coisa que Robert E Howard já havia avançado bastante no início do século nos EUA. Suas histórias em reinos distantes e, em geral, bastante tridimensionais ajudou a cimentar a fantasia de aventura em pé de igualdade com Edgar Rice Burroughs. Ao mesmo tempo Moorcock, certamente impregnado por comparações à O senhor dos anéis de Tolkien decide fazer narrativas curtas, seja pela mídia no qual publicava seus contos, seja por que realmente não tinha paciência para escrever livros longos, cheios de passagens desimportantes.

Lembro de Mike Mayers, comediante responsável por Austin Powers, uma paródia de James Bond, explicar matematicamente em um documentário como era construído um filme de 007. Ele próprio satirizava a fórmula fácil que estava oferecendo ao documentarista, assim como Moorcock parece rir do leitor seguindo a fórmula também fácil do “era uma noite escura e tempestuosa em uma taverna no canto oeste dos reinos selvagens e homens de poder vieram a ter com o amargurado Elric”. Moorcock, diferente de Mayers e dos produtores de 007, consegue criar boas histórias partindo de um princípio quase sempre idêntico.

[A trama]
Tjhe stealer of souls (1962, publicado em Science Fantasy #51, fev) se passa cerca de quatro anos após The dreaming city, Elric e, por extensão, Mooglum são contratados por comerciantes para eliminar Nikorn de Ilmar, cujas estratégias de negócios estariam prejudicando-os. Elric aceita apenas quando o feiticeiro Theleb K'Aarna, que protege o comerciante, é mencionado. Este último, por sua vez, está apaixonado por Yishanna, rainha de um reino distante, que havia sido amante de Elric três anos antes. Derrotar Elric, seria para Theleb uma forma de ganhar a afeição da rainha e provar seu valor para seu empregador.

Elric reencontra as forças de Imrryr e Dyvim Tvar, que com alguma relutância aceita auxiliá-lo. K'Aarna invoca um demônio que não permite que Stormbringer sugue sua essência, alimentando, no processo, o príncipe almodiçoado. O processo na verdade é invertido e Elric tomba, é feito prisioneiro e tem sua espada retida.

Mas Nikorn, considerando que o príncipe não é uma ameaça o liberta. Fraco e à beira da morte, Elric envia Mooglum para um acordo secreto com Yishanna, o quê lhe permite retomar a sua espada.

Reenergizado, Elric ataca física e misticamente Theleb, que morre na batalha de tomada do castelo. No processo, infelizmente, Dyvin Tvar sucumbe, concretizando a tendência de que o príncipe albino é uma maldição a todos que o rodeiam.

Mas o detalhe pouco sutil fica por conta de Nikorn, a quem Elric tinha um débito de vida – a sua própria. Elric se recusa a matá-lo, mas é controlado por Stormbringer que assassina o comerciante. Note que apesar da ambiguidade de Elric, ele realmente sofre pelo assassínio de Nikorn.

A aventura termina com Elric e Mooglum juntos com a Rainha Yishanna, fazendo-nos supor da razão de que ela entregou a espada para o ex-amante.

O conto foi adaptado para os quadrinhos nas edições #1 e 2 da série Elric The Bane of the Black Sword, de 6 números, publicada pela First Comics a partir de agosto de 1.988. Os créditos da adaptação são de Roy Thomas, Mark Pacella e Nicholas Koening.