Há um
certo fascínio dos leitores com a cronologia.
Vejam os
exemplos dos “advogados de regras” dos quadrinhos
americanos, capazes de citar com certeza quando cada coisa aconteceu
e onde. Estes mesmo advogados são capazes de anular parte do cânone
de um herói por lembrarem que a premissa vai em desacordo com o
estabelecido em outra aventura.
Histórias
de ficção de tomam um tom épico como a História do
Futuro da Humanidade de Heinlein, A fundação
do Asimov – inserindo em sua cronologia Os robôs
como o autor fez próximo ao fim da vida e tornando tudo uma única
macro-história da humanidade, ou ainda obras de fantasia medieval
como O senhor dos anéis tem um fascínio mítico no leitor,
seja pela qualidade dos material, seja pelo nível de acertos ou
ainda pela acurada descrição dos seres humanos presentes nas
tramas.
Mas
também parece que em alguns casos o simples fato de criar uma linha
cronológica e continuar e trabalhar nela já valoriza uma obra.
Mas a
reunião de contos em “O homem que vendeu a Lua”
é sofrível, incapaz de impressionar leitores já contaminados pelas
narrativas de Jules Vernes, onde o homem conseguia quebrar
todas as barreiras – veja Viagem à Lua – ou Asimov com
seus cientistas capazes de antever fatos apenas com a observação
pura e simples.
É certo
que o primeiro conto “A linha da vida” é impressionante e
o segundo - “Faça-se a luz” - é bem revelador sobre a
natureza das patentes, mas os restantes tem um feito principal de
servir apenas para cimentar um cenário maior, seja com a introdução
da natureza militar nos engenheiros ou o foco de que todo
empreendimento deve ter uma grande natureza comercial como no maior
conto da coletânea. Este, em especial, é por demais verborrágico e
concentrado no aspecto administrativo do feito de levar o homem à
lua – Heinlein por sinal previu a chegada para 1.978, quase uma
década depois do fato histórico. Verborragia, por verborragia,
Viagem à Lua com seus dois volumes longos é mais interessante – e
certamente mais fantasioso.
Os contos
presentes são a base de toda uma estrutura narrativa vindoura, mas
não impressionam em início. Como várias histórias de quadrinhos,
parece uma trama onde você tem que ler muitos enxertos para saborear
a história principal. Comparando de forma simplificada, seria como
para ler e entender uma aventura atual do Aranha eu tivesse de ler
todas as 700 edições de The Amazing Spider-Man. Se nos quadrinhos
não funciona, que dirá da ficção.
Mas
diferentes de A fundação, As Crônicas Marcianas ou por
exemplo Batman, não sabemos quem é o personagem principal –
talvez a humanidade? - e então fica difícil apreciar pois não é
possível ao leitor comum deixar de tomar um lado e defendê-lo
ardorosamente como o seu.
Não é
de se estranhar que diante de tantas reedições recentes de ficção
na Editora Aleph ou publicações novas, o verborrágico e
inconstante Heinlein ainda não tenha ganho nova edição. Segundo li
na pesquisa, seu maior feito foi polemizar em seu Starship Troopers
onde “(...) Foi acusado de fascista por que nesse romance a
estrutura social do mundo exigia que o cidadão, para votar, tivesse
servido nas forças armadas.”
Visto que
Heinlein é parte de uma “santíssima trindade da ficção
científica” junto com Asimov e Arthur C Clarke, é natural que
haja gente disposto a defendê-lo cegamente. Mas ainda que seja
possível encontrar aqui as sementes das futuras polêmicas, O homem
que vendeu a Lua é uma coletânea que só serve para mostrar que nem
sempre os melhores autores nascem prontos.
Coleção Mundo
Fantástico
Vol
|
Título
|
1
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A espada diabólica – Michael Moorcock
|
2
|
Os Dentes do Inspetor – L. Sprague de
Camp
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3
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Contos da Taberna – Arthur C. Clarke
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4
|
Construtores de Continentes – L.
Sprague de Camp
|
5
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O homem que vendeu a Lua – Robert A.
Heinlein
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6
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Parasitas da mente – Colin Wilson
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