Já está nas bancas a piauí #52 – assim mesmo, com “p” minúsculo – que trás algumas matérias interessantes como um perfil de Rodolfo Landim – ex-empregado e atual adversário de Eike Batista -, um de Keith Richards, dos Stones e do livro “Vida” a autobiografia do guitarrista da maior banda do mundo (de rock?), e acredite um perfil interessante de como se constrói um ídolo adolescente analisando o cantor sertanejo pop Luan Santana (é sério! O texto é muito bom) e um artigo sobre a Irlanda de Colm Tóibín da qual retiro o seguinte parágrafo:
“Era um pouco estranho viver aqui [na Irlanda], um lugar que não teve Renascença, que quase não teve Reforma, nem Iluminismo, nem Revolução Industrial. Somente uma história de violência, pobreza e emigração. Um lugar governado até 1.922 pelo Império Britânico, seguido de quatro décadas de estagnação cultural e econômica antes da integração ao império europeu, por assim dizer, em 1.973. E, no entanto, havia também um surpreendente fascínio em torno da Irlanda, em especial de Dublin, onde o mundo da escrita – o poema, o romance, a peça de teatro, o artigo de jornal – era tratado com uma espécie de reverência e seriedade que só se encontra em sociedades nas quais faltam muitas outras. Isso foi algo de que o governo se deu conta no final dos anos 60, compreendendo que a imagem da Irlanda era criada por escritores e cantores, e que essa imagem era tão importante quanto as políticas econômicas da Irlanda para atrair investimento estrangeiro. Subitamente, Yeats, Joyce e Beckett ficaram na moda, e a política governamental com relação à cultura se tornou esclarecida.”
O mais chato é que aqui no Brasil até teve algumas coisas (Inconfidência Mineira e Baiana, República, Ditadura, fim da ditadura...) mas nossa história também é uma soma de violência nos grandes centros, pobreza de todas as maneiras (cultural, política, financeira, intelectual) e emigração (pessoas das pequenas cidades aceitam o sub-emprego nas grandes cidades, pois não tem formação para conseguir concorrer para os verdadeiros empregos). E quando notamos o que gera fascínio no exterior temos a estereotipagem de nossas mulheres como mulatas boas para o sexo fácil. E para quem acha futebol algo relevante temos a exportação de jogadores talentosos sob o pretexto de que um jogador brasileiro “tem” que ser melhor pois não “perdeu” anos na escola: aprendeu a jogar assim que aprendeu a andar, sem ter pausa para ir à escola (sobre isto veja um artigo de Roberto Pompeu de Toledo na VEJA sobre o Neymar).
O governo não tem uma política clara de cultura e de transformar nossos escritores e intelectuais em grife. Por sinal política clara não tem em nada, um mal herdado dos anos de chumbos que permanece. Aqui tudo é passível da interpretação do mandatário do momento.
O que se transforma em grife são períodos da nossa história. Quando dos quinhentos anos houve a excelente série Terra Brasilis e agora há o texto afiando de “1808” (em referência aos duzentos anos da chegada da Família Real ao Brasil) e “1822”. Vendem bem, são bem escritos, bem documentos, divertidos, mas são textos de história pop, escritos por jornalistas habilidosos para causar impacto no leitor e divertir com o curioso do fato, com o curioso de como as coisas aconteceram.
Quando teremos nosso “Ulysses”?
Ou simplesmente não precisamos? Afinal o autor também aponta no mesmo parágrafo que o tratamento especial a estes temas é resultado de uma sociedade onde faltam muitas outras coisas, e a literatura seria apenas um escape.
O engraçado é que aqui também falta muita coisa e ainda assim só contribuímos com a alegria do mundo – ou o sexo fácil, entenda como quiser.
Uma pena: poderíamos ser uma grande nação!