De tempos em tempos a Marvel Comics aparece com uma novidade que “irá inovar conceitos” ou simplesmente “mostrar um novo universo maravilhoso de personagens e possibilidades”.
A maior parte destes eventos fica esquecida depois de três ou quatro anos, quando dura isto tudo.
Foi assim com o projeto Marvel Universe of Tomorrow (Universo 2099), com o projeto M2 (que teve como única sobrevivente a Garota-Aranha, e sempre correndo risco de ser cancelada).
E foi assim em 1986, quando para comemorar os 25 anos da Marvel, seus principais editores e autores uniram-se e criaram o Novo Universo Marvel.
A trama das oito séries que surgiram era vinculada ao Evento Branco, um misterioso raio que iluminou o mundo e que não tem maiores explicações. Os responsáveis foram Jim Shooter, Archie Goodwin, Mark Gruenwald e Peter David, entre outros.
Como a maioria destes projetos revolucionários, o Novo Universo caiu no mesmismo dos eventos que ocorriam na universo Marvel padrão – até por que as revistas vendiam mal.
À Roy Thomas é atribuída uma frase que sintetiza o selo: “O Novo Universo parece-me ser adaptações em quadrinhos de adaptações para TV do universo Marvel.” Explico: todos os personagens do Novo Universo lembravam demais os personagens do Universo Marvel tradicional, porém... versões pobres. Trovão certamente era uma outra visão sobre o Homem de Ferro. Merc não poderia ser outra coisa que não o Justiceiro. Força PSI eram os X-Men com outro nome e Estigma sem sombra de dúvida era o Superman.
Olhando com a distância devida eles não ousaram mas trouxeram conceitos que impressionavam. Máscara Noturna caminhava entre os sonhos bem antes de Sandman de Neil Gaiman, mas depois do Sandman dos anos 1970/80. Força PSI já mostrava o líder de equipe manipulador que depois veríamos em Ultimate X-Men na figura daquela versão de Charles Xavier que nunca teve escrúpulos em controlar mentalmente seus alunos. E o tamanho de Trovão e a forma de ser controlado evoluiu e anos depois tornou-se o Ultimate Homem de Ferro.
Algumas narrativas como Os Torpedos – um grupo de jogadores de futebol americano cujo líder recebe super-poderes – e Justice – um soldado de outra dimensão, onde tinha um caso com a rainha, chega para estender a justiça ao modo de seu reino aos criminosos e traficantes dos EUA – não mostravam personagens em situações novas, mas apenas novos rostos repetindo ações passadas.
Assim, em pouco tempo personagens morreram, e os títulos ficaram reduzidos à metade, e quando John Byrne assumiu Estigma (Starbrand, no original) começou uma seqüência de eventos que afastariam o Novo Universo de qualquer possibilidade de “mais próximo de nossa realidade”.
Publicados no Brasil em duas séries mensais (Justice e Força PSI) que duraram apenas 12 números, a trama de Estigma ainda teve força para retornar anos depois em Superaventuras Marvel na fase de Byrne. É impressionante, no entanto, que a Editora Abril Jovem nunca tenha explicado o desfecho das tramas e o final definitivo das séries ao menos em uma seção de cartas.
A Marvel encerrou definitivamente os títulos do Novo Universo em fevereiro e março de 1989 e reuniu os personagens uma última vez para a 3ª Guerra Mundial na série The War de Doug Murray & Tom Morgan.
Como o mercado vive de (tentar) tirar água de pedra, em diversos momentos a Marvel tentou resgatar os personagens, sendo uma curiosa, no mínimo.
Ao fazer uma nova roupagem para o Novo Universo pelo escritor Warren Ellis a editora também lançou uma série de especiais com a concepção clássica dos mesmos. Ou seja atirou em duas direções e não atingiu ninguém.
No fim Novo Universo é apenas mais um universo alternativo da Marvel Comics e não faz saudades a ninguém!