The Authority v1: A autoridade que cansa!

Ontem terminei de ler o primeiro volume da série norte-americana The Authority, publicada pela WildStorm, um selo/editora da DC Comics, que terá sua vida encerrada em dezembro de 2010.

Publicado originalmente entre 1.999 e 2.001, The Authority é um reflexo de sua época: militarizado, beligerante, violento, pró-ativo e... cansativo.

Criado por Warren Ellis (Transmetropolitan) e Bryan Hitch (Os Supremos), a série mostra um grupo de pessoas (Heróis? Não! "Super-seres", e desde vez a terminologia faz a diferença) que passa a ter uma postura diferenciada em relação aos vilões daquela realidade. Em vez de prender e educá-los para se reintegrarem na sociedade, algo que nunca funcionou nem na ficção, nem na realidade, eles decidem agir como juízes e executores, sendo raro a vez em que não matam o vilão!

Então nos três primeiros arcos criados pela dupla a fórmula anda bem pois sempre há a surpresa! Você não acredita que a equipe irá agir daquela maneira! E eles agem causando impacto!

Mas nos quadrinhos, no cinema e na música há um problema maior a repetição cansa!

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Junto com tudo isso houve o ataque terrorista de 11 de setembro que tornou os americanos bastantes sensíveis a quadrinhos ultra-violentos. A equipe mudou e chegou um Mark Millar ainda não extremamente famoso, além de um Paul Levitz, editor da DC, insatisfeito com o conteúdo violento da série.

Sem sutilezas o autor trocou as insinuações de homossexualidade entre Apollo e Meia-Noite para fato – não, meu leitor não há cenas de sexo, mas diálogos nada sutis e a série termina com o casamento de ambos! - e partiu para o choque do leitor pelo prazer do choque.

Em determinado momento sabemos que há alguns sobrevivente na Balsa – um nave gigantesca que serve de base à equipe e atravessa dimensões. A nova equipe, que atacou a anterior, não se sensibiliza com as condições de saúde destes sobreviventes e decide jogá-los fora, como se faz com o lixo. Ainda que esteja provocando o leitor com o tratamento desumano, tudo que o escritor consegue depois da cadeia de eventos é um bocejo do leitor, especialmente pelo desenho não ter impacto algum. Fica implícito que nas mãos de um desenhista mais talentoso, mesmo o padrão de violência superando violência, poderia ser interessante. Mas já em decadência a série navega nas mãos de artistas nem sempre talentosos ou adequados. Arthur Adams, talentoso, é um exemplo de artista inadequado para o tipo de série que era The Authority volume 1.

É claro que nos quadrinhos a técnica da violência gratuita e do impacto provocado pelas mortes contínuas funciona. Note que mesmo depois da DC Comics matar o Superman, matar o Batman, matar o Caçador de Marte e a Marvel matar o Capitão América, matar o Capitão Marvel, matar o Nick Fury... matar e matar e matar... ainda há algum interesse em matar o Homem-Aranha!

Não quero imitar explicitamente o site de notícias Universo Hq mas alguém acredita que realmente a Marvel, agora parte do grupo Disney, irá matar um dos personagens-chaves de seu catálogo no ano anterior ao lançamento de uma nova cine-série?

Então em The Authority, o grupo mata terrorista orientais, mata terroristas extraterrestres, mata o criador da vida na Terra – um verme lovecraftniano, conceito que seria melhor trabalhado pelo mesmo autor em uma série para a Marvel Comics – depois causa muita destruição quando a Terra, enquanto ser, reage às ações, até que é substituído por outra equipe com as mesmas características e então a derrota.

Com 29 números e um anual o volume 1 da série The Authority parece ser uma piada longa, bem narrada no início, mas que a toda hora o telefone toca e impede o narrador de continuar: perde a relevância logo.

Lendo-a de um fôlego só, fica ainda pior por que não há nada mais clichê no mundo dos heróis do que a equipe já estabelecida ser posta em dúvida, ser derrotada e retornar das cinzas.