Aquaman – O tempo e a maré

Em 1992/93 a DC Comics, famosa empresa de quadrinhos norte-americana, proprietária das marcas do Superman, Batman, Liga da Justiça entre outros, estava fazendo uma faxina em seus personagens... novamente!

Em 1.987 os conceitos tinham sido atualizados, mas erros diversos deixaram alguns heróis pouco interessantes rapidamente. O Superman teve de morrer, Batman ficar aleijado e ser substituído e o Lanterna Verde enlouquecer.

Neste modelo de negócio onde nada é sagrado e tudo é passível de mudança, Peter David, escritor famoso por uma longa temporada na série Hulk da Marvel construiu duas séries inéditas no Brasil que iriam servir de base para a série Aquaman de 1.994, sem provocar mudanças radicais. Uma é Crônicas Atlantes (março a setembro de 1990), sobre a história do povo da lendária cidade submersa, e outra é “Aquaman: Time and Tide”, minissérie em quatro partes com arte de Kirk Jarvinen iniciada em dezembro de 1.993.

A série tenta contar a história de Aquaman juntando as várias pontas soltas existentes e criar novas mitologias. Tem o clássico bebê filho de uma mãe bruxa enlouquecido que teve relações com um monstro, sendo assim o fruto deixado para a morte como alimento para tubarões – ou por asfixia quando a maré baixar – e também um longo período em companhia de golfinhos. Acrescenta o período no Alaska, a relação com Kako, e destila disso a envolvimento com o vilão Mestre dos Oceanos, além do contato com uma maldita herança mística que o perseguiria ao longo das séries.

Ou seja, usava o que efetivamente já se sabia, tentava diferenciar do príncipe submarino da concorrente e atirava em todas as direções de modo a criar uma mitologia própria e forte.

A série é considerada o “Ano Um” do herói aquático. “Ano Um” é uma expressão usada livremente nos quadrinhos de modo a que se entenda que as aventuras narradas ocorreram no primeiro ano de vida ou de aventuras do herói/personagem. Não é apenas a origem do personagem – a forma como ganhou poderes ou como escolheu combater o crime – mas também o quê aconteceu em um período de tempo (normalmente um ano, daí a origem da expressão). A DC Comics tem um famosíssimo “Ano Um” que é “Batman – Ano Um” a perfeita obra de Frank Miller & David Mazzuchelli e uma série de anuais de 1.994 chamada “Year One, the legends in the begging” (traduzindo livremente: Ano um, as lendas no início).

Time and Tide é uma boa leitura por que consegue recontar a história de Aquaman até aquele momento, deixar pontas soltas para serem exploradas na série mensal vindoura e acima de tudo divertir. A arte é adequada, sem os estrelismos dos pin-ups da Image Comics – bastante forte naquele momento – mas não chama a atenção, ironicamente o lápis de Jarvinen com os finais de Brad Vancata produz um resultado muito semelhante ao traço de Erik Larsen, criador do Savage Dragon e desafeto de David. A força da série estava no texto, não no traço, mal que também afetou a série do Hulk, que tinha textos bons mas arte inadequada.

Em 1.994, Aquaman ganhou nova série mensal que teve David à frente durante quatro anos, passando o centro não muito agradavelmente exatamente àquele Erik Larsen cujo traço da dupla Jarvinen/Vancata lembrava. Larsen conseguiu o empobrecimento da série e a “morte” de Aquaman durante o evento Mundos em Guerra (2000). O herói e Atlântida sobreviveram, mas ficaram perdidos no tempo numa era esquecida, a partir do resgate conhecida como “Era Obsidiana”.

Resgatado pela Liga o herói ganhou nova série, também já encerrada. O conceito de “herói submarino” (seja o Aquaman, seja Namor da Marvel) é um conceito ultrapassado e que o público não acha mais plausível. São excelentes personagens coadjuvantes, capazes de sustentar arcos centrados nele e em suas civilizações, mas incapazes de manterem os leitores interessados durante muito tempo em suas peripécias. Talvez o correto para preservar estes personagens fosse séries limitadas de quatro partes com equipes de ponta.

Ainda assim, a Marvel anunciou nova série mensal para Namor, que tem sido um verdadeiro arroz-de-festa nas tramas mais recentes da Casa das Idéias.

Poucos autores souberam retratar tão bem Aquaman quanto Peter David. Muitas das aventuras deste período podem ser lidas em Superboy 2ª série e Os Melhores do Mundo da Editora Abril. O início da péssima fase de Erik Larsen pode ser visto em Superman Premium, também da Abril. Já “Em busca de Aquaman: A Era Obsidiana” pode ser visto nas páginas de Liga da Justiça da Panini Comics.