Uma nova guerra em outro lugar

A re-imaginada “Astronave de combate” Galáctica e sua guerra contra os cilônios

Os cilônios foram criados pelo homem. Eles foram criados para tornar fácil a vida nas doze colônias.
E, então, chegou o dia em que os cilônios decidiram matar seus mestres.
Após um longo e sangrento conflito, um armistício foi declarado.


Há pouca relação entre a recente Battlestar Galáctica e sua versão dos anos 1970. Para simplificar a história, podemos dizer que são versões bem distintas de uma mesma trama geral. O foco da versão original era a ação e pegar carona no sucesso de Star Wars. Já a nova versão não imita ninguém, nem Star Wars, nem Star Trek, nem Babylon 5. Prefere trilhar seu próprio caminho, e se não criar algo “novo e original”, ao menos mostrar que entre o branco e o preto, há muitas nuances de cinza.

A trama iniciou em uma minissérie do Sci Fi Channel com três horas de duração. Nela fica estabelecida a história geral. Os cilônios são robôs e foram criados para executarem serviços. Houve uma revolta, uma guerra e quarenta anos de trégua.

Mas novamente as criaturas retornam, não mais na “clássica” armadura de centurião chupada de Star Wars, mas numa nova versão desta armadura de guerreiro e também num corpo humano sintético, com direito a uma dúzia de corpos para cada cilônio e transferência de memória de um corpo para outro.

Semelhante à Blade Runner (Ridley Scott, 1982), os cilônios pensam e tem conflitos emocionais, ciúmes, dúvidas e ódio, muito ódio. Por isso, sem aviso algum eles destroem as principais cidades-estados das 12 Colônias.

E já que falamos no clássico Blade Runner é bom lembrar que Edward James Olmos, o ator que vive o rígido Comandante Adama era o policial que criava origamis e questiona Deckard (Harrison Ford), deixando dúvidas sobre a humanidade do detetive.

Enquanto alguns poucos sobreviventes continuam nos planetas, cerca de 50 mil últimos sobreviventes são escoltados no espaço perseguindo uma lenda a décima terceira colônia perdida: a Terra!

Discurso do Comandante Adama na cerimônia de descomissionamento:
“A guerra com os cilônios terminou há muito tempo. Contudo, não devemos esquecer as razões pelas quais tantos sacrificaram tanto pela causa da liberdade. O custo de usar o uniforme pode ser alto, mas... Às vezes, é alto demais.
Sabem, quando enfrentamos os cilônios, nós o fizemos para nos salvarmos da extinção, mas nunca respondemos a pergunta "por quê?"
Por que somos um povo que mereceria ser salvo?
Continuamos a cometer crimes por causa de cobiça, rancor ou ciúmes. E continuamos transmitindo os nossos pecados aos nossos filhos.
Recusamo-nos a aceitar qualquer responsabilidade pelo que fazemos, como fizemos com os cilônios.
Decidimos brincar de Deus, criar vida. Quando essa vida se voltou contra nós, nos confortamos com o sentimento... sido culpa nossa.
Não realmente.
Não se pode brincar de Deus e, então, lavar as suas mãos... das coisas que se cria. Mais cedo ou mais tarde, chegará o dia... em que não poderá mais se esconder das coisas que fez.”


Mas a coisa não é tão simples assim.

E nem poderia ser.

O arsenal das 12 colônias teve seu código descoberto graças à colaboração do Dr. Gaius Baltar, que trabalhava com uma cilônio loira e voluptuosa – conhecida por Número Seis. Por causa disto, nenhuma arma moderna funciona contra eles. Numa seqüência nervosa uma frota é destruída sem poder dar um único tiro por que os cilônios estão controlando os computadores.

As questões éticas
Sem defesa, as grandes cidades das 12 colônias são destruídas uma a uma. Apesar de várias explosões atômicas acima dos grandes centros populacionais, sabe-se que há sobreviventes mas eles não aparecem em toda a primeira temporada.

Haverá sub-tramas que irão contar os ataques dos cilônios e o extermínio desta população sobrevivente. Em determinado momento, esta população ganhará tanta importância que receberá uma série de “web episódios” com duração de 1 a 3 minutos cada, chamada “Battlestar Galáctica: The resistence” – situado entre o final do segundo ano e o início do terceiro ano e feito originalmente para promover o lançamento da 3ª temporada.

Mas as grandes dúvidas tomam tanto a Presidente Roslin, quanto o militar linha dura Comandante Adama. Escolhas têm que serem feitas rapidamente e às vezes friamente. Logo no início da série, o primeiro episódio mostra a constante fuga dos cilônios que rastreiam a nave em 33 minutos – daí o nome do episódio “33” –.

Após 238 fugas, uma nave fica para trás e os cilônios não os perseguem. Teria esta nave um dispositivo de rastreamento cilônio?

Logo que a nave surge no espaço, Adama reinicia o cronômetro e os cilônios ressurgem no tempo esperado. Então se decide pela destruição da nave. Numa seqüência tensa, que põe em dúvida se há ou não pessoas na nave, 1.300 pessoas são assassinadas para que a fuga continue.

Episódios depois, graças a um ato sabotagem cilônio, a frota fica sem água e após uma certa dificuldade para encontrá-la, é sugerido que, devido ao risco de extração, se utilize uma parte dos 1.500 prisioneiros que seguem com a frota – em geral, criminosos que já estavam em processo para liberdade condicional.  Um dos criminosos é um ativista político que questiona a escolha de Laura Roslin para presidente – ela foi a última sobrevivente do gabinete do presidente anterior, sendo a 43ª na linha de sucessão. Como naquele momento da série ela já havia escolhido Apollo como Conselheiro, ele faz um pacto para que se convoque uma eleição para meses no futuro, quando terminaria o mandato do presidente anterior. Nota-se claramente uma insatisfação tanto na Presidente quanto no Comandante, democracia gera questionamentos, questionamentos às vezes geram conflitos.

O restante da primeira temporada é gasto no desenvolvimento dos personagens. Dr. Gaius Baltar e seus delirantes sonhos eróticos com a Número Seis, que bem intensos no início, vão diminuindo e tornando-se mais aceitáveis, apesar do público constantemente se questionar por que não fica claro para os colegas de Baltar que ele é louco?

Talvez a grande questão seja que todos sabem que ele é um “gênio”, e “gênios” são “excêntricos”.

Há muita perseguição em Caprica Ocupada, mas focada na fuga de Helo e Boomer de Número Seis e um batalhão de cilônios. O resto é o conflito de interesses entre os personagens e busca de alimentos e combustível.

Na conclusão da temporada há uma série de eventos intensos. Primeiro encontra-se um planeta que aparentemente seria “Kobol” e que teria pistas para a localização da Terra. Adama envia uma equipe para a superfície do planeta, mas surge um intenso ataque cylon. Ele decide usar uma nave cylon que Starbuck capturou episódios antes, mas Roslin pede que a piloto volte à Caprica para conseguir a “Flecha de Athena” que abriria a tumba da deusa em Kobol e indicaria a posição da Terra.

Isto causa uma cisão entre militares e políticos, e Adama prende Roslin, enquanto envia Boomer para uma missão suicida – que por sinal lembra a trama de Independency Day com o envio de uma nave com sinal alienígena para armar uma bomba dentro da nave mãe.

Só que, ao retornar, com o sucesso da missão, Boomer obedecendo a um comando cilônio atira no Comandante Adama!

Assim termina a temporada.