Em cada coração de
leitor habita um universo ficcional. Apesar de não ser a primeira de
conheci, no meu habita a DC Comics. Por isso é triste
ver as mudanças desnecessárias criadas apenas pelo choque do novo.
É irônico notar que o site que em português se chama “todo
dia é dia de a DC fazer algo errado” (adaptado) está certo.
A bola da vez, e confesso
insignificante para mim, é o Lobo. Criado como coadjuvante da
série Omega Men, Lobo foi “recriado” para a série da
Liga da Justiça na fase Internacional. Era um
personagem bizarro, arrogante, protótipo do machão estereotipado e
por isso cômico, combinando então com a Liga daquele momento. Em
complemento era o metaleiro estereotipado, ultra-violento, bobo e, em
síntese, um personagem que tinha eco em algumas narrativas da série
Juiz Dreed.
Tanto que Keith Giffen
& Allan Grant o levaram para a série LEGION onde
servia como pau mandando de Vril Dox e sua polícia fascista,
num tom que tentava ecoar o “prender, julgar e executar” de
Dreed. Seria a época de ascensão do personagem, não em LEGION, mas
nas dezenas de minisséries e especiais lançados entre 1.990-93.
Quando ganhou sua série mensal, parcialmente publica por aqui, Lobo
já estava cansado e o tom desta era de produzir algo mais próximo
das narrativas da editora. O mal já estava feito e logo ele
retornaria a ser apenas coadjuvante, não antes de ser humilhado ao
se tornar um adolescente e participar da Justiça Jovem de
Peter David – esta fase foi rapidamente publicada no Brasil
em um cross-over com o mega-super-evento de verão Mundos
em Guerra, que de tão grandioso ninguém se lembra.
* * *
Neste contexto moderno de
reapresentar os personagens para ampliar a audiência a DC produziu
poucos acertos e algumas releituras interessantes como Swamp
Thing, Batman, Action Comics e Earth 2.
Nenhuma, diga-se de passagem uma produção nova. Scott Snyder
(Swamp Thing e Batman) ora imita Len Wein, ora Alan Moore,
mas o faz para uma nova leva de fãs, enquanto nós, fãs antigos
ficamos escrevendo posts na internet que é tudo imitação
barata com nova roupagem. James Robinson e Grant Morrison
idem.
Mas agora a DC reviu
plenamente o anti-herói e lançou um produto metrossexual que não
se identifica em uma releitura: Ela recriou o Lobo para o Universo
DC Os Novos 52 como algo distante do estereotipo que havia antes.
Criou algo “novo” e inferior. Ao recriar chocou os fãs, e mesmo
a mim, que nunca achei o personagem relevante. Confesso: estou mais
preocupado com... digamos... o destino do Robin Vermelho ou da
Batgirl do que com o destino do Lobo.
Porém isto evidencia que
a DC está afastada de seus fãs e é incapaz de produzir algo que
persista além do choque inicial, a verdade suprema que há em Os
Novos 52: depois do choque as séries não persistem.
Ironicamente em uma
semana em que houve uma notícia bombástica (o anúncio de Ben
Affleck como Batman na sequência de O homem de aço
e a capacidade que o estúdio, o diretor e o ator tiveram de manter o
segredo durante meses) a editora consegue produzir outra bomba agora
de efeito localizado, que atinge apenas os fãs de quadrinhos.
Lobo, o personagem, não
merece estas linhas, mas a decisão da DC em recriar-se
constantemente e nem sempre com sucesso, merece uma atenção
constante pois está sepultando um rico universo de personagens.