Desde quando uma conhecida devolveu-me a minha cópia de “O cemitério” (Stephen King, Círculo do Livro) semi-destruída decidi não pegar livros emprestados. Numa cidade como Nanuque, isto torna-se ainda mais fácil, já que pouquíssimos lêem e ninguém que eu conheça a ponto de trocar figurinhas a respeito de livros.
Assim é estranho que tenho conseguido emprestado “Sua resposta vale um bilhão” de Vikas Swarup (Companhia das Letras, 2006), exatamente quando não tenho tempo para lê-lo, afinal estou desbravando as páginas de “Crime & Castigo”, mas surpreendo-me com uma leitura ágil e que pega o leitor após poucas páginas.
Apesar de ser de estilo diferente, cultura diferente, países diferentes, não deixa de lembrar-me de “O caçador de pipas” por ser uma ficção altamente educativa sobre a cultura de um povo, neste caso a Índia.
No romance de ficção que serviu de base para o filme "Quem quer ser um milionário?", um barman indiano de dezoito anos chamado Ram Mohammad Thomas ganhou um prêmio de perguntas e respostas homônimo ao livro, mas a produção, por não ter os fundos, desconfia da sinceridade do concorrente e ele, após ser preso e libertado por uma advogada desconhecida narra como um jovem que apesar de saber falar inglês (não tão surpreendente assim, visto que a Índia foi colônia da Inglaterra) e que não tem uma cultura formal que lhe permitisse o acesso a estas informações conseguiu o prêmio.
Daí que vem uma questão importante: será que toda a cultura disponível só pode ser aprendida por meios formais ou está a disposição de todos em filmes, sítios de internet, quadrinhos, músicas e acima de tudo na soma das experiências da vida de uma pessoa?
Ram Mohammad Thamas prova que o aprendizado é uma constância em nossa vidas.
No ponto de realidade convertida em ficção deixa claro os bastidores de programas de TV no formato “quiz show” (criado originalmente no início da televisão nos EUA e constantemente revisto com upgrades e releases) e especialmente a complexa cultura da Índia. Numa passagem especialmente triste há um gangster que tem uma indústria de meninos pedintes de rua para se manter e chegar ao ponto de ensinar a arte do canto e depois cegá-los com brasas para obterem a sensibilidade dos transeuntes e receberem melhores esmolas.
Um livro, senão genial, ao menos uma grande diversão para ser lido em uma sentada só.