Recentemente li um artigo onde um músico dizia que o hip-hop é extremamente conservador. A análise era que o que defende a linguagem deste tipo de música era a supremacia do macho, a mulher numa posição de mero adorno e a sobrevivência do mais forte. Choca a nós a constatação que é isso mesmo, o hip-hop da maneira atual não é mais contestação social como na época do Public Enemy, mas um desfile de violência, sexualização e sodomia.
Dito isto vamos transferir para os quadrinhos, o tema mais constante deste blog. A auto-nomeada “revolu$ão Panini” - o cifrão é por minha conta – enfrentou tantas resistências exatamente por mudar as formas como as coisas são apresentadas.
A Panini está a cem meses (oito anos e quatro meses) à frente do mercado de quadrinhos no Brasil, mas só tinha testado formatos “alternativos” em novas publicações. O mesmo formato que será adotado agora na revolu$ão já foi o formato de pelos menos duas publicações “Novos Titãs” e “Marvel Max” e ambas sofreram a alteração para o formato de cem páginas, por que já havia um entendimento naquela época de que era o melhor custo/benefício.
Os leitores chiam, reclamam, dizem que irão abandonar as coleções, mas com as semanas o que era novidade torna-se fato concreto e começam a surgir alguns poucos leitores que já encontram o mercado neste formato.
O leitor de quadrinhos é alguém extremamente conservador. Raramente aceita narrativas novas, prova que Grant Morrison escreve de duas formas: para o mainstream (Batman) e para o sub-mundo dos leitores (Crise Final, Os Invisíveis). Mortes e mudanças são criticados, mas o sonho do nerd é que Capitão América sempre seja Steven Rogers e Batman sempre seja Bruce Wayne. Em ambos os casos já tentaram, no mínimo, duas vezes a troca com sucesso momentâneo, mas nunca um novo status definitivo.
Existe tanto material disponível de tantas formas que é de estranhar-se tanto incômodo para um sub-universo composto por dez mil leitores, pois note que os leitores antigos estão afastados exatamente por que não gostam dos rumos que tomaram seus personagens. Alguns criticam a doce velhinha Tia May e suas quase mortes, mas acreditam que a melhor fase do Homem-Aranha é exatamente o período Stan Lee & Steve Ditko e por isso nunca experimentaram outras fases. Conservadorismo tão forte ao ponto de não se permitir o novo.
Talvez a Panini esteja errada ao implantar uma mudança tão pouco radical e encarecedora de seu produto, mas eles não tem capital para fazer uma pesquisa real para ver o feitor do público consumidor, pois já ouvi dizer que uma pesquisa abrangente o suficiente para descobrir os motivos de quem compra e quem não compra custaria de R$ 300 a R$ 600 mil. Para uma editora que vende 30 a 35% de uma tiragem de 10 mil cópias uma pesquisa que esclareça estas questões está fora de questão.
O melhor é fazer o quê fazem: deixar o produto sem publicidade já que o custo é alto. E aguardar que alguém tenha interesse em personagens tão conhecidos como Homem-Aranha, Batman, Freshmen, Deadpool, Midnight Nation, XIII – todos, sem exceção, muito conhecidos dos fãs. Muito mesmo...