Byrne ou Eu era feliz e não sabia

Em 1987 eu estava com 12 anos e lia o material da Marvel e DC publicado no Brasil pela Editora Abril.
Apesar da DC morar no meu coração, o melhor naquela época era a Marvel com suas super-equipes. Os Poderosos Vingadores estavam com Roger Stern & John Buscema, Os Fabulosos X-Men estavam com Chris Claremont & John Romita Jr, e o Quarteto Fantástico, a eterna família vivia sua fase de ouro nas mãos de John Byrne.
John Byrne é conhecido por falar demais. Sua carreira começou séries de segunda com Punho de Ferro e Os Campeões, onde trabalhou com Claremont – sim, eu sei de uma história em The Tomb of Dracula e outra em Space 1999.
Com a saída de Dave Cockrum da série dos mutantes X-Men, ele inicia uma fase que até hoje é referência para os quadrinhos.
Ao mesmo tempo ele trabalhou com o Quarteto Fantástico, numa série curta de aventuras com o argumento do Marv Wolfman, para depois iniciar sua verdadeira odisséia na série. Sua fase no Quarteto termina em 1986 (edições Fantastic Four # 232-293), quando ele vai para a DC reformular o Superman, mas ainda produziria a série Tropa Alfa (Alpha Flight) uma versão canadense dos X-Men, que apesar de insistentemente publicada por aqui, e com vários personagens cativantes jamais passou a pura imitação.
Depois de produzir 22 edições de Superman e Action Comics, e auxiliar Marv Wolfman em algumas edições de The Adventures of Superman, Byrne abandona o personagem e jamais se ligaria novamente a um personagem de grande editora por muito tempo.

Fez Starbrand para o Novo Universo apenas para pregar mais um prego no caixão do selo da Marvel e de seu criador maior o desafeto Jim Shooter.
As várias mortes de Batman, Mulher-Hulk (graphic novel e a série), Homem de Ferro e Namor, foram outras séries que fez ao final dos anos 1.980.
No primeiro biênio da década de 1990, lançou sua série Next Men no selo Legends da Dark Horse (de onde surgiu Sin City de Frank Miller e Hellboy de Mike Mignola). Depois fez Novos Deuses/O Quarto Mundo e Genesis para a DC (1996/97); Homem-Aranha: Gênese (1999), que recontou a origem do herói, alguns números de The Amazing Spider-Man com roteiro de Howard Mackie, fez a série X-Men: Hidden Years, brigou com a Marvel, fez três séries “Gerações” com Batman & Superman, e alguns dizem que duas teria sido a conta perfeita, fez a sua própria série Rat Labs para divina concorrente, fez a Liga da Justiça com Claremont, fez fill-in com Gail Simone (texto) para uma série do Superman e mais recentemente fez All-New Atom e alguns números de Doom Patrol – que havia sido reformulada após participação na história da Liga que ele desenhou.
Importante apenas para os fãs de ontem que o conheceram no auge de sua longa carreira e seus bons momentos que diga-se de passagem não são poucos. Seu Superman é um dos melhores retratos do herói assim como de uma editora que tentava dar limites a um personagem que não deveria ter limites. Seu Quarteto é perfeito, sua Mulher-Hulk engraçada, seu Namor dá sentido ao Príncipe e espaço para a volta dos Invasores (que só aconteceria anos depois), seu Hulk é impressionante! Seus bons momentos são tantos, de tantas qualidades, com tantos ápices que nos surpreendemos com sua produção atual!
Byrne lembra uma série de artistas que surgiram entre os anos 1.970-1.980, excelentes, mas que há anos produzem algo que nem de perto lembra os bons tempos. Entre eles seu companheiro Chris Claremont, o amigo Frank Miller e Jim Starlin, que produziram seu melhor para a Marvel Comics.
Seria a produção de quadrinhos algo tão terrível que suga as energias vitais destes (e de outros) autores?
Seria a interferência dos editores algo tão importante que faziam que produzissem melhor em 70/80 mesmo quando visto pelos olhos que quem experimentou os textos destas e de outras décadas?
Seria a influência de Jim Shooter um fator decisivo para a qualidade do texto de seus autores?
Dúvidas atrozes que tiram meu sono...