Fatcop é um policial corrupto, desumano, insensível, extremamente violento e capaz de assediar e violentar os cidadãos que deveria proteger.
Obeso, Fatcop, tem uma filha portadora de deficiência e desconta sua insatisfação no mundo e numa alimentação repleta de “junk food”, além de surrar, matar e adulterar provas, inclusive aquelas que o incriminam. Mesmo esta trilha não impede de cometer uma série de atos extremamente questionáveis durante toda a graphic novel.
Seus excessos, é claro, caem “nas graças” de sua superiora que o obriga a ter um parceiro – não por acaso, amante da superiora.
Em seguida a dupla tropeça em uma rede de sequestro de menores com tons de “satanistas cthullianos” e além de monstros semelhantes a híbridos, algo que ecoa em uma dezena de teorias conspiratórias tão próprias dos anos 2020.
Johnny Ryan produz um álbum com narrativa e traço bem semelhante ao que víamos em “Chiclete com Banana” e “Animal” e consegue perturbar o leitor. Em nenhum momento Fatcop é visto como sequer um rascunho de herói ou de anti-herói. Ele é tão detestável que ultrapassa esta aproximação com o leitor. Mas, reflexo dos tempos, nos vemos torcendo para que ele encontre todas as pistas e encerre a rede de sequestro.
É um álbum adulto e não seria justo compará-lo com nada, mas em tempos de séries de canais de assinatura com detetives que se envolvem no oculto, Fatcop seria bem próximo disto: uma série policial sobre sequestro com tons de ocultismo.
Para mim foi a melhor leitura do ano, até o momento.
Fantagraphics Books.
Fevereiro de 2024
ISBN 978-1-68396-922-8.
190 páginas.