Liga da Justiça: Um novo começo (1987)

Publicada originalmente pela Editora Abril e posteriormente pela Editora MythosUm novo começo” é o arco inicial da série “Justice League” (1987) e originalmente foi publicado nas edições 1 a 6 de Justice League e 7 de Justice League International. Hoje é muito conhecido como a fase cômica da equipe mas uma releitura em 2024, trinta e sete anos após a publicação original mostra que o arco inicial é apenas engraçado em alguns momentos e continua uma boa história, ainda que aja alguns furos decorrentes da facilidade com a qual a equipe cede aos planos de Maxwell Lord, um empresário que se apropria dela.

A publicação mais recente no Brasil foi em “Lendas do Universo DC: Liga da Justiça” de JM DeMatteis & Keith Giffen volume 1 em 2019 que reuniu exatamente o encadernado original americano.

Após o período de desconfiança do público em relação aos heróis (Lendas, 1987) Batman está à frene de uma reformulação da equipe que inicialmente reúne Sr Destino, o Lanterna Verde Guy Gardner, Capitão Marvel, Besouro Azul, J’Onn J’Onz, o Caçador de Marte, Canário Negro e Sr Milagre com Oberon. J’Onn está profundamente abalado com o fim da versão anterior da equipe – Gládio e Vibro morreram, Guy Gardner é o estereótipo de machão ufanista armado anos 1980 e cola da equipe parece que não irá se sustentar. Capitão Marvel é retratado como infantil, o quê não seria correto para alguém que tem a “Sabedoria de Salomão”, Oberon parece só interessado nos contratos que a presença do Sr Milagre na equipe irão oferecer e Sr Destino parece estar de passagem – como de fato.

Um novo começo” (Justice League 1, maio de 1987) mostra a equipe se reunindo e o interesse do empresário Maxwell Lord sobre eles. Esta é a primeira aparição de Lord e não fica realmente claro porque os personagens cedem aos interesses de maneira tão simples.

Durante a leitura dos estatutos um sinal de membro é acionado – mas todos os membros estão na reunião!?! - e os justiceiros descobrem que há uma situação de reféns na ONU, onde também se encontra dra. Kimiyo Hoshi, a Doutora Luz. Há diálogos e situações engraçadas mas nos centramos na situação principal: é um sequestro com reféns e há um suicídio para terminar a trama. As aventuras seguintes “Guerra nunca mais” e “Conflito nuclear” (edições 2 e 3) mostram Batman tentando descobrir quem forneceu à dra Hoshi o sinalizador ao mesmo tempo em que uma equipe do passado da Liga retorna à Terra. Feiticeira de Prata, Windina e Gaio não fazem referência ao seu encontro anterior com a Liga da Justiça. Eles vem de um mundo que foi devastado por uma guerra nuclear e pretendem impedir que o mesmo ocorra aqui. Para tanto se aliam ao ditador de Biália o Coronel Rumaan Harjavti.

Leitores mais atentos perceberão a semelhança entre os personagens e “Os Vingadores” da Marvel e a ironia de que a DC já voltava a usar o conceito de multiverso quase que imediatamente após o fim de “Crise nas Infinitas Terras” que teoricamente deveria ter reduzido o multiverso a universo.

Durante a ação os heróis do outro universo são sugestionados a invadir a União Soviética e a Liga cruza com a “Brigada dos Sovietes Supremos” - um exército armaduras criadas na série do “Lanterna Verde” que não recebem uma explicação maior aqui.

Em “Cartas na mesa” (#4) ao retornar à caverna a Liga encontra Maxwell Lord e o Gladiador Dourado. Lord se apresenta como um empresário para a equipe e “impõe” o Gladiador, que inicialmente fica constrangido com a situação e vai embora, mas a “providencial” interferência da “Royal Flush Gang” o faz passar em um teste.

Vinda cinza, sonhos cinzas”, “Massacre cinzento” e “A Liga da Justiça… Internacional” (5, 6 e 7), este arco é menos estruturado. As duas primeiras história mostram o Homem Cinza, um agente escravizado dos Lordes da Ordem que subjuga uma cidade e atrai a Liga e Jack Ryder – o Rastejante. Na verdade é uma grande ameaça para justificar a mudança de status da equipe – no caminho Batman se vê obrigado a esmurrar Guy para “provar quem manda na equipe” (5). A trama é resolvida com a interferência dos Lordes da Ordem na edição seguinte, enquanto na sétima edição, Lord & Oberon influenciam agentes da ONU a transformarem a equipe em um agente autorizado da organização, com Embaixadas nos países membros. Para tanto os EUA obrigam a equipe a aceitar o Capitão Átomo e, por sua vez, a URSS obriga a aceitação de um dos “Soviete Supremos” - que eram numerados.

O murro em Guy, seguido de um choque no crânio, o faz mudar de personalidade, tornando-se delicado, o quê passa a render excelentes momentos de piadas e constrangimentos.

Percebendo que as chances do projeto dar certo eram baixas, uma consciência que está manipulando Maxwell Lord ativa um computador e o enfrentamento da equipe com esta “máquina do fim do mundo” é transmitido via satélite, tornando-os heróis mundiais.

Com a mudança de status, Batman sugere que J’Onn se torne o líder da equipe. Capitão Marvel e Sr Destino se afastam da equipe.

Com a produção de Keith Giffen (argumento & esboços), JM DeMatteis (roteiro), Kevin Maguire (desenhos), Terry Austin & Al Gordon (finais) “Um novo começo” é um arco que envelheceu muito bem e consegue ser uma leitura divertida e relevante nos dias de hoje.