Kevin J Anderson é
um conhecido autor de ficção científica (sci-fi), mas pouco
publicado no Brasil. Apesar de dezenas de romances originais
ganhou notoriedade ao publicar livros que estendem o cânone de
séries conhecidas como Star Wars, Arquivo X e
especialmente a saga Duna.
Os últimos dias de
Krypton é de certa forma um livro pueril. Não há violências
extremas e nenhuma sequência de sexo (em uma há uma sugestão
sutil). Assim, poderia perfeitamente ser vendido para os fãs de
sci-fi, os nerds padrão da DC Comics e também
para crianças e jovens atraídos para um eventual reboot
cinematográfico do personagem.
A história que ele
aborda é a narrativa do último ano e meio do planeta Krypton.
A estrutura apresenta Jor-El como um grande cientista que tem
seus inventos negados por uma Comissão liderada por Zod e
submissa ao Conselho. Ambicioso, Zod guarda para si os
inventos, tencionando um dia suplantar o Conselho; dia que chega
quando um alienígena “engarrafa” a capital Kandor e a
leva para si.
A partir daí a narrativa
passa a ser sobre o uso do poder para se estabelecer como dirigente e
as manipulações da população e dos inocentes úteis.
Chama a atenção o uso
de dezenas de personagens coadjuvantes. Zor-El & Alura
e Argo City, com seu escudo que lhe permitiriam uma
sobrevivida estão lá; e em vez de irmãos em conflito, temos um
cientista (Jor-El) e um político (Zor-El). Os auxiliares de Zod
tomam os nomes de Aethyr-Ka e Nam-Ek, este um
fascinante mudo musculoso e servil, e Lara ganha uma profissão
e uma história interessante, ainda que, repito, pueril. É retratado
como uma menina que encontra o príncipe encantado em Jor-El que, por
sua vez, encontra nela a princesa perfeita.
Há inventos que remetem
ao histórico que se espera como a Zona Fantasma, mas esta
Krypton não é um planeta de superciência e devido a um histórico
no passado, aboliu grande parte de sua tecnologia e não domina a
viagem ao espaço, razão pela qual mesmo com uma desgraça prevista
não é possível a construção de “arcas” para salvar a
população em massa.
Há referências rápidas
a Oa, Rann e Thanagar (uma linha na página
132), J'Onn J'Onzz (página 244) e Lyla Lerrol (página
265), mas não acrescentam nada, tendo gosto de easter eggs
apenas. Com J'Onn J'Onzz há inclusive um erro trágico. Ao ouvir a
mensagem de morte do planeta de J'Onzz percebemos que ele é o último
sobrevivente de Marte! Ora, “Marte” é como os terráqueos
chamam o planeta vermelho e não como ele se chama.
[Opinião]
O romance, na verdade, é
uma narrativa sobre o uso das tecnologias. Elas não são boas, nem
más, e o ser humano é que deve fazer o uso adequado delas. Há
erros de análise de ambos os lados, e mesmo estando certo, Jor-El em
vários momentos lembra uma Cassandra, o quê não deixa de
lembrado pelos seus opositores. A impressão que fica é que caso não
fosse destruído por “isto” o planeta seria destruído por
“aquilo” - exatamente igual a uma série de histórias de
suporte dos anos 1970 nas séries mensais do Superman.
Zod é construído
de maneira que não se torne um vilão inescrupuloso, mas um homem
enfeitiçado pelo poder. Enfeitiçado foi levado aos extremos pela
crescente ambição.
Apesar do tamanho – 466
páginas – é um livro de leitura rápida, especialmente os 2/3
finais quando os capítulos se tornam pequenos (4 a 6 páginas em
média). É profundamente indicado a jovens, visto que não tem
conteúdo violento e sexual, mas entretêm igualmente aos fãs dos
quadrinhos, especialmente os pré Crise, que encontrarão os
resquícios daquela Krypton aqui, mas advirto que não é “aquela”
Krypton, mas uma nova, recriada sob a vida de Anderson – e não,
não há referência visível à Krypton distópica de John Byrne.
Sob muitos aspectos pode
ser um romance introdutório de ficção aos fãs de quadrinhos e
cinema.
Os últimos dias de
Krypton, Kevin J Anderson, ISBN 978-85-7734-361-4,
Casa da Palavra/Leya, 1ª edição de maio de 2013, tradução Heitor
Pitombo.