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Em poucas oportunidades é
possível ver o choque de valores provocado por
John Byrne
no
Superman, como
quando se compara duas aventuras nomeadas
Return to Krypton –
há também um arco na fase
Jeph Loeb.
Publicado em Superman
#141 (novembro de 1960) a Return to Krypton de
Jerry Siegel, Wayne Boring e Stan
Kaye é um belíssimo conto sobre a perda e a aceitação
do destino. Superman viaja no tempo, indo para Krypton algum tempo
antes da explosão. Lá, sem poderes, encontra seus pais e se
apaixona por uma atriz, Lyla Lerrol.
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Conhecida como um ponto
alto da carreira de Jerry Siegel quando ele retornou para a
DC
Comics, depois de um período afastado, Return to Krypton é um
conto sobre o amor perdido e sobre como a memória de um amor
inesquecível pode se apagar, tornando-se um doce lembrança, até se
tornar nada (ao voltar para a Terra Superman pensa “
Tudo já
parece um sonho estranho e fantástico!”). A veia romântica é
tão estranha e onipresente que há uma sequência passada na Terra
com
Jonathan e
Martha, ainda não casados e observados
pelo Superman lá de Krypton. Nesta sequência Jonathan tímido, mas
honesto, percebe que um banqueiro desonesto está ganhando a afeição
de Martha mas se impõe de forma física.
Seria a história um
reflexo de sua vida conjugal destruída? Uma versão de seus sonhos
pueris, agora transformados em pesadelos de contas e limitações
financeiras?
Não sei. Só sei dizer
que é uma história romântica, meio piegas e razoavelmente bem
escrita e lindamente ilustrada por Boring – diversas vezes
homenageado em Adventures of Superman na fase Marv
Wolfman/Jerry Ordway.
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Então em
Superman #18
(julho de 1988) John Byrne,
Mike Mignola e
Karl Kesel
criam uma versão distópica da história. Agora o herói de aço vai
ao escombros do planeta morto com o auxílio do
Gavião Negro
e
Mulher-Gavião e, delirando devido à exposição à
kryptonita, sonha com uma realidade onde os seus pais e parte da
população de Krypton – frios, lógicos e insensíveis – vem à
Terra. Aqui, dominam o nosso mundo e anos depois iniciam uma guerra
interna, um lado defendendo o direito dos terráqueos, outro
acreditando que sejam apenas uma raça a ser subjugado, deixando como
antagonistas
Jor-El e
Lara.
Apesar de um delírio a
aventura é de certo modo uma “continuação” da excelente série
World of Krypton com a mesma equipe de produção de texto e
lápis e que apresentava o passado daquele Krypton distópico criado
e defendido por Byrne e ilustrado com um segurança seca e sombria
por um iniciante Mike Mignola.
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Comparar as duas
aventuras, separadas por 28 anos de distância, mostra como um
personagem de quadrinhos é adaptável aos sabores do mercado, das
tendências e das limitações e visões de seus artistas. A primeira
é uma história romântica, inspirada na vida pessoal e no sucesso
de mercado que havia naquele momento em histórias de amor. A
segunda, uma história que tinha um esquema cronológico implícito
(Superman não podia ir aos escombros de Krypton, então pediu uma
carona a dois policiais alienígenas que atuavam na Terra) e mostrava
por que só deveria haver um único kryptoniano na Terra, condições
também imposta pelo padrão do mercado de então.
Ambas são boas aventuras
e visões distintas de um mesmo mundo ditadas por suas épocas (assim
como o é o arco de mesmo nome). Ambas são saborosas.