Se eu olhar para trás
não tenho muitas lembranças do Superman pré Crise, mas o
motivo é que eu nasci em 1975 e fui educado no primeiro momento com
os quadrinhos da Marvel. Tanto que a “primeira história do
Superman” que li não é do personagem, é do Superboy (a
segunda é da Supergirl).
Eu conheci o Superman na
Editora Abril e realmente Superman Special #02 (1984) é
a primeira história que li completa do homem de aço. Assim, não
tenho tantas lembranças de Lex Luthor como um vilão
cientista maléfico. Especialmente por que depois da edição #1,
sabendo que as tramas de Action Comics e New Teen Titans
iriam se cruzar a Abril decidiu publicar a revisão do herói de
1971, onde, por sua vez, o Luthor (e todos os vilões tradicionais)
sumiam por um tempo.
Minhas lembranças de
Luthor são as produzidas por Marv Wolfman, Jerry Ordway
e John Byrne, um empresário levemente baseado na
interpretação de Gene Hackman em Superman, o filme (1978)
e malévolo. Não penso apenas em um vilão ruim e confuso, invejoso
do espaço que o Superman lhe roubou na imprensa. Penso em um
empresário inescrupuloso, malévolo, a incarnação do demo, da
mesma forma que fui ensinado pelos pensadores da esquerda a odiar os
empresários. Com os anos sarei da doutrinação, mas na fantasia eu
poderia me dar ao luxo de continuar.
Então nada mais lógico
do que Luthor tenta sabotar a ascensão da raça humana para um
próximo passo evolucionário. É certo que hoje sabemos que
Millennium (1987/88) não foi tudo isso, mas temos que pensar
que foi apresentado como tal: um grupo de escolhidos iria evoluir
para a próxima fase da raça humana e iria se transformar em... mais
um grupo de heróis! (Ridículo! Eu sei)
Mas Point of View
publicado em Adventures of Superman #437 (fevereiro de
1988) produzido por John Byrne & Jerry Ordway (texto), Jerry
Ordway (lápis) e John Beatty (finais) mostrou um uso
inteligente para um personagem inteligente. Lex Luthor queria provar
que a humanidade era fraca, essencialmente egoísta e convida uma das
pessoas a serem evoluidas, Celia Windward, para um jantar onde
ele narra uma versão de um confronto entre o Superman e Combator,
que supostamente deveria estar acontecendo naquele momento.
Mal sabe o empresário, que deseja plantar a semente da dúvida, que um ser humano comum se sacrificou no combate devido a ausência do homem de aço. José Delgado, o Predador, enfrenta o Combator com o auxílio de transeuntes e paga um preço alto por isso.
A arte divide a página
em dois painéis, um mostrando a narrativa fictícia de Luthor e
noutro mostrando os acontecimentos no conflito Predador e Combator.
Ainda que Millennium
tenha se tornado nota de rodapé na história dos quadrinhos, a
história é muito boa e merece atenção pela forma odiosa e polida
em que apresenta Luthor: diante da possibilidade de que a humanidade
avance, o empresário só pensa em implantar a semente da dúvida em
seres que poderiam tornar-se deuses.
Se você conhecer algo
mais malévolo que isso me avise.