Trilogia Millenium 3: A rainha do castelo de ar

Stieg Larsson fecha a trama iniciada em Os homens que não amavam as mulheres dando um passado para Lisbeth Salander e fazendo-a ficar dependente de Mikael Blomkvist, por conta da situação em que se encontra. Costura habilmente tudo e com isso dá um futuro também para os personagens, inserindo, no mínimo, uma trama que poderia render em uma possível sequência.

O livro inicia segundos depois do volume anterior e começa levando a anti-heróina para um hospital com uma bala no cérebro. Está à beira da morte! Seu pai também está semi-morto e sobrevive, ainda atenção indejesado e assim, os mesmos agentes da lei que ocultaram as ações dele no passado, desejam agora, que Salander seja considerada louca ou criminosa e novamente seja posta atrás das grades, preferencialmente definitivamente.

Blomkvist, mesmo entendendo que Salander é reservada, decide auxiliá-la, indicando sua irmã como advogada e fornecendo, sob toda a fiscalização do estado, material para que a moça auxilie no projeto de provar sua inocência.

O livro funciona, mesmo tendo 680 páginas. Às vezes é possível, ler de um fôlego só, 200, 300 páginas. Há tramas que não acrescentam em nada a trama geral, em especial uma trama com Erika Berger, editora da Millenium e amante de Mikael, que é ameaçada, acredita-se, por uma fã obsessivo.

Mas, assim como o segundo que tem um prelúdio longo, este tem um posfácio demorado. A trama termina, mas fica um gancho em aberto que consome bem umas 80 páginas. O livro é divertido e Larsson é didático. Depois de alguns momentos é possível esquematizar seu método de apresentação de personagens. Há duas narrativas padrões de apresentação, a primeira de um agente da Seção e outra de um profissional de limpeza do Hospital onde Lisbeth passa dois terços da trama, que tem estrutura semelhantes. Mesmo nos outros personagens, há ecos do padrão de construção e a maneira como o autor os apresenta.

Para alguns padrões o livro choca em alguns momentos em que apresenta a sexualidade dos personagens. Não gasta páginas narrando mirabolantes fantasias sexuais. Às vezes nem sequer meio parágrafo. Mas deixa claro que os personagens são adultos e que estão abertos e novas experiências e parceiros. Por isso choca. Trata com naturalidade e não como exercício de imaginação e faz com que, o leitor acredite que tudo aquilo realmente pode acontecer.

Sobre o quê “pode acontecer” é que fica o defeito do livro. Os vilões primeiro se posicionam um passo à frente dos heróis. Estes se põe então dois passos à frente. Os vilões percebem e se reposicionam. Os heróis então novamente se reestruturam, sem nunca serem realmente derrotados e ao leitor fica a impressão que nunca estiveram realmente sob ameaça, mesmo Salander passando praticamente todo o volume na prisão e Mikael sob vigia e escuta telefônica. Cria-se a tensão diante dos avanços dos vilões, mas não cria em nenhum momento uma real ponta de dúvida de que os heróis triunfarão.

[O futuro da série]
É público que Larsson criou rascunhos para uma decalogia. Ele morreu em 2.004 depois de entregar da entrega dos três primeiros volumes completos. É sabido que no notebook de sua amante há ¾ do quarto volume da série. E a amante tem se apresentado na impressa como auxiliar nos livros anteriores, tentando validar-se como uma pessoa capacitada para dar sequência ao trabalho.

As leis da Suécia não foram construídas prevendo um possível direito para amantes. Assim, os herdeiros legais da obra de Larsson são a esposa e filhos do casamento constituído.Porém como a possível sequência da série está em um notebook que pertence à amante, o assunto tem sido tratado com o maior cuidado.

Em breve veremos novos lances para esta trama.

A rainha do castelo do ar, Stieg Larsson, Companhia das Letras, 2010, ISBN 978-85-3591628-7.

Trilogia Millennium
1 Os homens que não amavam as mulheres
2 A menina que brincava com fogo
3 A rainha do castelo do ar