Há algumas semanas a DC Comics
anunciou que irá lançar uma série em formato digital chamada
Adventures of Superman, explorando o personagem que irá
ganhar um novo filme em 2.013.
A DC anunciou como escritor do primeiro
arco o escritor de sci-fi e mórmon, Orson Scott Card,
responsável pelo excepcional Ender's Game, no Brasil, O
jogo do exterminador, que irá ter sua versão cinematográfica
neste ano e que a Devir Livraria acabou de lançar o quarto e
final volume da série – veja o review do primeiro livro
aqui.
Orson Scott Card já havia colaborado
com os quadrinhos com a versão Ultimate do Homem de Ferro
e teve uma produção razoável. Mas o autor é um conhecido
homofóbico e defensor do casamente heterossexual. A comunidade GLST
(gays, lésbicas, simpatizantes e transgêneros) pressionou a DC
Comics para que não contratasse o autor.
A editora primeiro publicou um
press-release em que avisa que as opiniões de seus autores
não correspondem às suas, mas no início da semana, foi anunciado
que Card se afastou do projeto.
Isto é censura!
A comunidade GLST está censurando um
autor que pensa diferente dela e impedindo-o de trabalhar e de
divulgar suas ideias. Em primeiríssima instação isto é
perseguição! Estão pressionando uma empresa para que não contrate
um funcionário apenas porquê ele pensa de forma diferente.
Quando autores gays forem demitidos,
não por vendas ou por produção inadequada, mas apenas por serem
gays, que ninguém venha reclamar. Especialmente em um momento em
estão inserindo uma dezena de personagens gays nas histórias.
Alguns com razoável qualidade (Batwoman, Earth 2),
outros apenas para explorar vendas em um novo nicho consumidor
(Jovens Vingadores, Turma Titã e X-Treme X-Men).
Diga-se de passagem que o texto que o
autor escreveria para uma série do Superman dificilmente iria
tocar no assunto já que o público é muito amplo. Também se
estranha o fato de que quando Chuck Dixon, autor conhecido por
suas ideias de extrema direita, assumiu a série do Meia-Noite,
personagem assumidamente gay, ninguém chiou tanto. Meia-Noite é uma
releitura do Batman para o universo WildStorm, agora
incorporado ao Universo DC (DCU). Ele tem um caso com Apollo,
que por sua vez é uma releitura do Superman.
Alocar um escritor de extrema direita
para as histórias de um gay fetichista sadomasoquista é limitar a
abordagem do personagem. Algo bem diferente que alocar um escritor
homofóbico nas aventuras do último filho de Krypton que terão como
público crianças, jovens adolescentes e adultos de todas as nações,
algumas com sérias restrições quanto ao conteúdo das publicações
em quadrinhos.
No fim, a questão que permanece, é se
fazer dos quadrinhos palco para os conflitos resultantes das novos
abordagens da sexualidade é sadio e oportuno? Às vezes vejo gays
retratados de forma estereotipada e que a editora apenas quer
empurrar seu produto para um público que tem alto poder de consumo.
Raros são os casos que um retrato sério do assunto. Raros são os
personagens que servem além do chocar o leitor e causar vendas para
a série.