Então um dia a Marvel percebeu que poderia se
aproveitar do público que foi assistir X-Men, o filme e iria assistir Homem-Aranha
para aumentar suas tiragens.
Porém teria que ser algo sem o peso cronológico de 40 anos
de publicações que nunca tiveram um verdadeiro rebute (ou reboot, se preferir).
Assim, teve a ideia de produzir um novo universo com seus
personagens clássicos mas no século XXI.
O mote inicial foi a droga para criação do super-soldado,
mas engrossou o caldo com o ataque terrorista ao World Trade Center e
então se tornou uma máquina da visão americana de domínio cultural e militar,
ainda que seja um universo muito bom e divertido, com vários momentos de
excelência em seu início.
Surgiu o selo MARVEL ULTIMATE, que tem na série ULTIMATE
SPIDER-MAN sua produção mais contínua e juvenil, e em THE ULTIMATES
sua produção mais pessoal e adulta.
The Ultimates é a versão século XXI dos Vingadores. A
série produzida por Mark Millar (texto) e Bryan Hitch (lápis) é
dividida em dois volumes que narram com eficiência a formação de uma gigantesca
força de ataque militar criada para uma guerra vindoura que é consequência de um contato alienígena ainda na Segunda
Grande Guerra.
Como resposta à esta força em ação, criou-se um soro que
transformava o homem comum em super-soldado e sua fórmula foi perdida após o
heroico Capitão América tombar na 2ª Grande Guerra.
Isto não impediu várias tentativas de recriar o soro, o quê
levou diretamente à criação do Homem-Aranha, Duende Verde, Gigante
e Hulk, mas eis que o herói original, num lance irônico do destino
retornou em um bloco de gelo.
Deslocado e tendo apenas as forças militares como atuantes
no processo de readaptação, Steve Rogers (o Capitão América) torna-se um
reflexo puro e simples do Governo George W. Bush, que direito a defender
sua visão política do mundo.
As seis primeiras edições do volume 1 da série narram como o
industrial bilionário, inteligente e hiperativo Tony Stark decidiu unir
forças com a organização militar SHIELD para criar uma equipe de
super-humanos que deverão em breve enfrentar uma grande ameça... mas antes, a
pressão, a inveja e a forma de como as coisas se dão faz com que a equipe
enfrente um de seus membros, o Hulk.
Apesar de uma trama, em um primeiro momento bem simples – é
uma falsa impressão, acredite! - isso não impede surpresas excepcionais como a
maneira em que é retratado Thor, um homem que após um surto psicótico
acredita ser filho de deus, aqui o deus nórdico Odin, pai de todo o seu
panteão.
Thor “renasce” com um visão política que confronta os
valores propostos por Rogers, mas aceitar entrar na equipe, apesar de divergir
do Coronel Nick Fury – o homem por trás da SHIELD e fomentador da ideia.
Nenhuma explicação seria clara o suficiente para elucidar o porque Thor entra
nesta versão dos Vingadores, mas há uma subtrama da proximidade dos 33 anos do
deus-vivo e uma possível morte. Sabendo de sua morte para breve, não deveria
ele fazer com que sua mensagem alcance o maior número de pessoas?
Sim The Ultimantes volume 1 #1-6 é uma trama sobre o
encontro de heróis, mostrando uma versão século XXI para o clássico confronto
antes da união definitiva contra uma ameaça maior, elevado à enésima potência,
com direito a mortes e choque de valores.
É Mark Millar em seu auge. É Hitch produzindo páginas
lindas. São os quadrinhos criando narrativas inteligentes e bem construídas,
trilhando um caminho que foi iniciado por Warren Ellis & Hitch – e
depois pelo próprio Millar – na série da concorrente, The Authority.
E é um início inusitado para uma equipe que tem que salvar o
mundo.