DC faz reboot... novamente!, Parte 4: Por quê?

Antes de partir para lista as equipes, cujas listas de atualizações podem facilmente serem encontradas nos sítios UniversoHQ, Omelete e Action & Comics, vou comentar a questão primordial: não há necessidade de reboot!

Os quadrinhos há anos aprenderam com os livros de Ian Flemming que não é necessário reiniciar seus universos, basta “esquecer o que foi escrito”.

Simples e eficiente.

Em termos genéricos Flemming citava personagens, organizações e acontecimentos, mas não continuava a mesma linha narrativa, apenas dava sequência à história do personagem principal. Não raro usava somente o personagem principal, já que seria ruim para ele obrigar aos leitores ler todos os livros escritos antes daquele.

Há diversas histórias em sequências famosas. O senhor dos anéis, As Crônicas de Nárnia, As Crônicas de Fogo & Gelo (que deu origem à Game of Thrones) ou mesmo nos quadrinhos Os Supremos, Poder Supremo e diversas dezenas de passagens de escritores nos títulos mensais. Se for citar as passagens posso começar com Demolidor de Frank Miller, com Thor de Walt Simonson, Quarteto Fantástico de John Byrne, Superman de John Byrne, a Liga da Justiça de Keith Giffen, o Batman de Greg Rucka. Quando as fases – ou os contratos – terminaram, demos adeus e continuamos nossas vidas.

Explico. Quando Jeph Loeb foi contratado para escrever Superman, depois de As quatro estações, ele pegou o conceito geral do herói, os coadjuvantes, os vilões, o cenário e realinhou de acordo com a sua perspectiva, somada aí a experiência dos editores e outros autores do homem de aço, já que neste caso é um personagem especial para a indústria.

Mesmo introduzindo um cenário diferente (uma Metropolis evoluída mil anos) e mudando personagens para que eles refletissem a sua visão de mundo, Loeb não necessitou que a DC Comics reiniciasse o personagem do zero e obviamente não deu continuidade explícita ao que um argumentista anterior estava fazendo, até por que não estava funcionando, se estivesse funcionando ele não seria chamado para consertar.

É raro, talvez raríssimo, que um escritor famoso como Ed Brubaker, já bastante famoso, aceite dar continuidade narrativa ao que Brian Michael Bendis estava fazendo em Demolidor. Já, Andy Diggle, um escritor menor em termos de fama, tinha que receber o Demolidor como estava e ver o que era possível fazer diante das limitações impostas.

Em geral apenas se esquecem o que fizeram antes dele.

Tem uma história clássica do Quarteto Fantástico que cita Ben Grimm (o Coisa) e Reed Richards (o Sr. Fantástico) juntos na Segunda Grande Guerra. O Quarteto Fantástico foi criado em 1.961 e os personagens tinham caracterizações de pessoas “maduras” - eufemismo para velhas, perdão – então seria admissível que 17/18 anos antes Grimm e Richards, no início de suas vidas adultas, talvez com 20 ou 25 anos tivessem lutado na Guerra nos momentos finais ou mesmo a partir de 07 de dezembro de 1.941. Sem leitores chatos para fazerem as contas e descobrirem que os personagens estavam no berçário, a história foi publicada, serviu ao seu propósito máximo de entreter jovens durante 10 ou 15 minutos e anos depois a Marvel deixou de citá-la. Não quer dizer que ele não exista. Ele existe! Simplesmente quer dizer que ninguém mais se importa com ela ao ponto de todo um cânone ser estabelecido a partir deste evento.

Ou seja diferente dos livros em série, onde um evento puxa outro, que puxa outro, e mais outro, os quadrinhos são feitos para puxarem eventos por, no máximo, um período de tempo variável que se reflete no contrato de uma personalidade como autor ou artista. Grant Morrison, escritor de Batman, usa os eventos de antes de sua passagem. Ele cite que houve um Terremoto, que houve a exclusão de Gotham City do território dos EUA e que houve uma reunificação, mas fala de maneira genérica, usando um balão de texto para explicar todo o complexo evento que houve antes, assim “explica” mas não cansa.

Em função desta facilidade de seguir em frente, e que fique bem claro não é somente dos quadrinhos mas também dos livros, filmes e séries de TV, não há necessidade alguma de haver reboots. Ninguém está dando continuidade às tramas de John Byrne em Superman (ele encerrou sua passagem em 1.989), mas no máximo citando este ou aquele personagem que fez sucesso durante aqueles anos, como a policial homossexual Capitã Swayer, que anos depois migrou Gotham City.

Em função de toda esta argumentação é que sustento que nenhum universo necessita de reboot. Querem contar histórias do início de maneira diferente? Façam uma minissérie ou uma série regular com este objetivo. Querem colocar uma nova equipe em um personagem com estardalhaço? Simplesmente deem sequência à numeração ou, de acordo com os princípios do mercado, ou a falta deles, reinicie a série e não o universo.

Não necessitamos de reboots!