Produção Inferior

Sempre existiu um entendimento que os grandes eventos são prejudiciais às narrativas das histórias.

Por criarem uma expectativa de qualidade, e certamente de vendas, chamam a atenção.

Os críticos dizem que não deveria haver “a morte de...”, “a volta de...”, “o casamento de...”, mas histórias bem narradas que se completassem e que individualmente tivessem sentido.

Certamente isto é possível. Neil Gaiman nos arcos da série Sandman “Fábulas & Reflexões” e “Fim dos Mundos”, mostra que é possível a história auto-conclusa, mas parte de um macro evento, tornando possível ler em separado ou agrupado sem prejuízo do entendimento por parte do leitor.

Eventos longos nos quadrinhos quase sempre são feitos com passagens ridículas.

Acompanhando o evento ainda inédito no Brasil “A noite mais densa”, percebo a excelência da história principal e da série Green Lantern – se não excelência, pelo menos qualidade aceitável –, a boa qualidade de Green Lantern Corps, mas a total futilidade de séries como A noite mais densa: Superman, A noite mais densa: Batman, A noite mais densa: Mulher Maravilha e A noite mais densa: SJA.

Longe de acrescentarem algo que seja do interesse dos leitores, mostra apenas que a empresa tem uma necessidade de vender produtos com marcas fortes que se estabeleceram no mercado e empurrar junto a eles um conjunto lamentável de histórias feitas a toque de caixa.

Ironicamente a arte é quase sempre muito boa. Eddy Barrows, artista mineiro, desenhista fill-in de várias séries da DC Comics e recém confirmado como artista oficial para a fase de J. M. Straczynski no Superman a iniciar, é o artista de dois destes spin-offs de A noite mais densa.

A arte é muito boa e adequada, mas o texto junta “nada com coisa nenhuma” e, se não “obriga”, pelo menos “sugere” ao leitor comprar um material que não irá acrescentar nada à trama.

Mercado e soluções
O mercado tem se viciado num formato de série interessante. Mais recentemente podemos iniciar em “Dinastia M” da Marvel. A partir daí o editor prefere lançar uma série chamada “Dinastia M: Homem-Aranha” e continuar com a série mensal “Amazing Spider Man”.

Ganha dos dois lados. Os leitores do Aranha comprarão “Amazing Spider Man” e a série fechada “Dinastia M: Homem-Aranha”. Os leitores de “Dinastia M” comprarão a série principal e a série do personagem. Com sorte os leitores comprarão as três séries e encherão o armário com dezenas, centenas até, de cross-overs e tie-ins, alguns importantes, outros que mostram apenas o personagem entrando e saindo de uma sala ou com um céu vermelho ao fundo.

A DC imita a política da Marvel, e talvez buscando referências mais antigas a Marvel imite políticas da DC. No fim ambas são iguais: querem lucro! Se vier com qualidade ótimo, se não vier paciência.

Afinal ninguém obrigou leitores a comprar edições de “Teen Titans” desenhadas por Rob Liefeld, nem uma bobajada sem ritmo como “Invasão Secreta”. Leitores compram por impulso e há muito não se usa mais a história de “comprei para não deixar incompleta minha coleção”.

Poderia ser diferente?

Sim, pode!

Uma das maiores sagas modernas de heróis, a história “Crise nas Infinitas Terras”, com 12 partes não necessita de uma vírgula para se completar, e olha que foi uma história escrita em 1.984/85 e abrangia todo o multiverso da DC Comics de então.

Num âmbito menor, o excelente arco “Guerra Skrull-Kree” de Vingadores consegue ser completo usando apenas a série principal da equipe para narrar um conflito cósmico. Isto no final da década de 1.960 e com vários membros da equipe já tendo séries mensais.

Por sinal, apenas para registro, os primeiros sinais de mega-cross-overs iniciariam com A saga de Thanos, uma longa série de eventos que se iniciam nos anos 1.970 em séries como Homem de Ferro, Capitão Marvel, Marvel Two-In-One, Vingadores e Warlock; continuam no fim dos anos 1.980 em Surfista Prateado e marcam a política expansiva de cross-overs do início dos anos 1.990 na Marvel Comics com Desafio Infinito, Guerra Infinita e Cruzado Infinita, algo que chamei de “A infinita Saga do Infinito”.

Já tratei deste assunto em uma série de artigos para o site HqManiacs (veja aqui a parte 1 e parte 2) e prometo para breve uma atualização para eventos posteriores à publicação do artigo.
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