A volta dos que não foram


Toda esta questão envolvendo o retorno de Flash me entristece muito.

É difícil para eu ver a necessidade da existência de um Flash “Barry Allen”, já que o continuum da DC Comics tem dezenas de Flash’s à disposição, especialmente o Jay Garrick.

Quero tirar a discussão do óbvio Barry versus Wally, que acho rasteiro. Há alguns anos, numa dessas discussões, cheguei à conclusão que há todo um contexto que faz Barry ser mais importante para alguns do quê para outros. O contato na infância é um dos maiores. O leitor cresceu lendo Flash (Barry) e acredita que a narrativa, os roteiros, o desenho da maneira em que eram mostrados eram mais adequados à sua visão de velocista.

Eu entendo.

Perfeitamente.

Como filhote da Editora Abril o primeiro Flash que vi foi Barry, mas não tive contato maior com ele. Além de uma meia dúzia de história da Liga da Justiça, eu simplesmente o vi morrer. E diga-se de passagem que foi uma boa morte. Adequada. Necessária. Interessante.

Quando envelheci consegui a “Invictus” (Lanterna Verde & Arqueiro Verde – Flash) e li as aventuras de heróis que são quase mitos – por sinal três mortos-vivos.

Não achei grande coisa, mas entendo o significado para os leitores. Alguns dirão que as histórias mostradas uma década antes em Dimensão K eram melhores, outros não.

Já Wally não é mais importante para mim por que suas histórias são melhores. Por sinal acho o período inicial com Mike Baron muito ruim. É mais importante por que as histórias que Mark Waid & Brian Augustyn escreveram, assim como as que Geoff Johns fez em seguida apresentaram um personagem que evoluía e num momento em que eu estava evoluindo.

Evolução no mundinho míope dos quadrinhos parece uma palavra perdida. Tudo é cíclico e repetição.

Você acredita realmente que está é a Crise Final? Por sinal já houve duas “Crises finais” – uma é o evento envolvendo Corporação Infinito & Liga da Justiça em 1.985 e outra foi um capítulo de “Crise nas Infinitas Terras”.

A verdadeira crise dos super-heróis é que o gênero (super-heróis) de uma forma de expressão ou mídia (história em quadrinhos) se tornou sinônimo da própria mídia, e não se permite mudar, a ponto de qualquer um pegar o bonde andando e entender tudo. As narrativas não podem ser tramas complexas e tudo tem que ter fim e estar pronto para abocanhar o leitor novo a todo mês. Morrison defendeu isso quando fez “E de Extinção”.

No contexto atual do entretenimento, onde os filmes já estão se repetindo há décadas, os quadrinhos ganharam tons de ouro. A indústria do entretenimento incapaz de criar prefere melhorar os conceitos toscos que existem nos quadrinhos.

Isso faz com que se justifiquem as mudanças do Aranha (“Ora o espectador do filme não poderá encontrar um personagem nos quadrinhos tão diferente dos filmes!”) e também justificam os retornos de dezenas de personagens.

Quando Grant Morrison dá sua explicação para o retorno de Allen, soa igual à mesma que Straczynki deu quando da reformulação do Aranha e soa ainda mais semelhante a uma expressão que minha mãe usava para criticar algumas histórias: “Papel aceita tudo. Inclusive merda!

Minha ira não é retornar com Barry 23 anos após sua morte. Se há uma demanda de histórias com ele contrate-se Carmine Infantino, Cary Bates, Irv Novick, Mark Waid, Kurt Busiek e Geoff Johns – os que estiverem ainda vivos, claro – e façam uma esplêndida série regular que não reconte fatos, não reconte origem, não reinterprete eventos, mas simplesmente que narre história do Flash Barry Allen, mas no local onde elas estão: no passado.

Minha ira é necessitar ressuscitar alguém para manter um leitor interessado.

Tínhamos em uma lista de discussão sobre quadrinhos um colega que dizia que o mundo iria acabar quando Bucky retornasse.

Não acabou, mas ficou bem claro que o único morto mesmo nos quadrinhos é “Tio Ben” – nem Gwen eu considero mais uma morta, ainda mais com as possibilidades narrativas introduzidas com “One more day”.