O ano de 1.975 (ano em
que nasci) apenas confirma algo que já tinha desconfiado quando li
os primeiros anos de histórias da Era do Satélite da Liga
da Justiça: a equipe é excelente, individualmente os
personagens são muito bons, mas sempre faltava um algo a mais.
Se
comparar com os três principais grupos da editora concorrente
(Quarteto Fantástico, Os Vingadores e X-Men,
cujo título renascia em 1.975) a coisa foge de qualquer escala.
Enquanto os Vingadores tinham linhas narrativas interessantes e
contínuas e o Quarteto praticamente obrigava ao leitor o
envolvimento quase palpável com o dia a dia da família, a Liga da
Justiça continua com o padrão de história fechada e sem muito a
dizer no que diz respeito aos membros. Não havia uma verdadeira
união entre eles e o padrão que se observa no período é que só
eram trabalhados a fundo os personagens que não tinham séries
próprias, como Gavião Negro e Tornado Vermelho.
Durante algum tempo a
série da Liga foi lar de outros personagens, como o trio Lanterna
Verde, Arqueiro Verde e Canário Negro, fazendo com
que o Arqueiro se tornasse o personagem cuja persona era melhor
trabalhada na série. No entanto, alguns personagens de primeiro
escalão da DC Comics eram retratados de forma patética como
Superman e Batman. O homem-morcego era um adereço mal
utilizado e o homem de aço um personagem para ser derrotado e provar
que o vilão do mês era terrivelmente forte. Estranho, considerando
de os autores tiveram excelentes trabalhos com as séries mensais do
Superman.
Os autores
Denny
O'Neil,
Cary Bates e
Elliot S! Maggin incluem
detalhes que buscam resgatar a cronologia criada nos anos anteriores,
mas não convencem. As narrativas são forçadas, grandiloquentes e
mal acabadas. Note a edição
#115 onde a equipe enfrenta um
deus (um “
deus”!) e o derrota com um plano tosco,
ridículo, imbecil.
Duas edições depois é inserida a doença
equalizante em
Thanagar, um argumento interessante, mas mal
explicado, exatamente por ser grandioso demais. A doença deixa todos
os thanagarianos iguais (equalizados), mas iguais a quem? Ao mais
inteligente? Ao mais forte? Ao mais tolo e mais fraco? O Superman
iria ficar igual a Lois Lane? Ou o inverso? Ou seria feita a média
aritmética simples das habilidades e distribuiria entre os
infectados?
O próprio cross-over
de verão da Liga/Socidade da Justiça não ajuda! É uma
trama boba que se utiliza da criação de mais uma Terra alternativa
– a Prime, ou primordial – algo que só pode render quando se
observando o ridículo da situação. Parecia que os quadrinhos eram
engraçados, mas aqui engraçado era no sentido de ridículo. Tudo
era resolvido de forma onipotente e repentina, um verdadeiro deus
ex machina.
Bem, vamos lá. 1.975
começa com “The last angry god” (Justice League of
America #115, jan/fev) de Denny O'Neil, Dick Dillin
e Dick Giordano. Na penúltima edição 100 page desta
série J'Onn J'Onzz, o caçador de Marte retorna à
Terra para convocar a equipe para um duelo com Korge – God of
Rage.
A trama explica: Os
últimos marcianos estão em busca de um novo mundo – no período
pré Crise a raça não havia sido destruída em uma praga. Em sua
busca encontram um mundo e ali uma prisão. Ao abrirem as portas,
deparam-se com Korge que, como “deus”, é onipotente e no
“pacote” tem poderes de leitura de mentes. Descobre imediatamente
a fraqueza dos marcianos – o fogo. Chama a atenção que o autor
acha que seu deus humanóide é inspirados nos Ancient Ones
de HP Lovecraft. Acredito que uma visão realista de um great
one só mesmo por Phil Jimenez em Planetary/Authority,
já publicado no Brasil.
Lendo a mente de J'Onn, o
deus descobre a existência da Liga da Justiça e envia
o marciano via warper para a Terra. O Caçador de Marte
retorna com Atom (Elektron), Superman, Lanterna
Verde e Flash. Os heróis são facilmente derrotados, mas
Atom tem a ideia de inverter identidades e poderes com o auxílio do
warper e então, facilmente derrota um deus na base da
surpresa e porrada. Ou seja, um bom plot que descamba para uma
solução ridícula.
A edição #116
(mar/abril, 1975) traz a última das edições 100 pages desta
série. A história é “The kid who won Hawkman's wings!”
de Cary Bates, Dick Dillin e Dick Giordano. Arqueiro Verde
vai à Midway City descobrir quem está se passando por Gavião
Negro (que retornou à Thanagar na edição #109 no ano
anterior). Lá descobre um garoto chamado Charley Parker, fã
do Gavião, que ganhou a habilidade de voar (?!?) e passou a agir
como seu ídolo, adotando o nome de Golden Eagle.
A trama mal narrada
mostra que o Matter Master, inimigo dos Campeões Alados,
usou seu mentachem – uma espécie de varinha de condão, mas
não se preocupem pois não seria a única deste ano – para dar os
poderes ao garoto de modo que ele encontrasse o local em que foi
aprisionado e o libertasse. Como a Liga foi envolvida na trama, a
varinha altera o corpo dos justiceiros, tornando-os versões
antropozoomóficas e faz com que enfrente animais que poderiam fazer
frente aos animais em que foram fundidos. Bizarro!
A Liga derrota os
animais, retorna ao normal e parte para encontrar Golden Eagle e o
Matter Master, que, poderoso e capaz de transmutar a matéria é
surpreendido pela chegada dos heróis e derrotado com um murro, em um
desenrolar muito semelhante à conclusão da derrota de Korge na
edição anterior. Se duvida, compare!
A última página um erro
mostra o retorno do herói thanagariano, mas seria explicado como uma
ilusão de ótica na edição seguinte. Mas aberta a trama da
ausência de Gavião Negro ele retornaria definitivamente em “
I
have no wings and I must fly” na edição
Justice League of
America #117 (abril) de
Elliot S! Maggin, Dick
Dillin e Frank McLaughlin. Ao investigarem uma nave que cai na Terra
os heróis encontram
Katar Hol – sem a vestimenta policial,
pois foi reduzido de tamanho e lá em Thanagar não tem costureiro
para apertar a roupa – no rastro do
Equalizer,
que espalhou a praga que leva seu nome e reduziu de tamanho todos os
habitantes de seu planeta natal. Vejam bem, os thanagarianos não
ficaram minúsculos, apenas menores que o padrão. Ao pensar sobre o
assunto poderia dizer que os thanagarianos ficaram com um tamanho
médio, nem alto, nem baixo. O por quê de não ter uniforme no
tamanho médio é um mistério insolúvel para mim.
Katar espalha a praga em
seus colegas justiceiros, rouba 1/6 de seus poderes (?!?) e enfrenta
o vilão, que só é derrotado com mais uma esdrúxula trama. A Liga
e Hol são curados da praga, mas todo o planeta e, especialmente a
esposa dele, Shayera, continuam infectados.
A coisa piora
razoavelmente nas edições
Justice League of America #118
(maio) e
#119 (junho) nas tramas “
Takeover of the
Earth-masters!” e “
Winner takes the Earth!” de
Elliot S! Maggin, Dick Dillin e Frank McLaughlin. A Terra é invadida
por criaturas chamadas
adaptoids que se adaptam e derrotam a
Liga. São seres em forma ridícula que se um modo geral me lembram
os
plots antigos e futuros que envolvem
Starro. Apesar
de parece um borrão vermelho – e em alguns quadros uma estrela do
mar, daí eu achar a semelhança – eles tem poderes impressionantes
e por extensão... ridículos, afinal são quase deuses, capazes de
derrotar toda a equipe e inclusive transformar o
Aquaman em um
“
sereio” (
tritão é o termo correto em português).
Derrotados os choramingantes justiceiros retornam para o satélite
apenas para descobrir que o Gavião Negro abandonou o barco!!
Mas não se aflija! Pois
na edição #119 é justificado que a raça humana deve ser destruída
por que está contínuo crescimento e assim erradicando o planeta –
resquícios de uma fase que eu acreditava ter sido encerrada – e
mais quatro justiceiros são derrotados pelos seres e reunidos no
satélite. É basicamente assim: os heróis estão às portas da
derrota final e acionam o transporte para o satélite, correndo do
perigo.
Quando a equipe começa a
lamentar a derrota e culpar o Gavião por deixar o posto, são
atacados pelos adaptoids no próprio satélite!
Na página 9 quadro 3
finalmente temos uma explicação da praga equilizante em um diálogo
do Arqueiro Verde: “The entire population of Thanagar--
every man and woman-- has become equal in size,
strength and intelligence...
No one is dumb-- but
there are no geniuses either! The thanagarian
civilization will fall if isn't cured soon!”
Então voltemos ao
ataque. Enquanto os adaptoids estão massacrando a Liga, eis que
retorna o Gavião Negro com... a Mulher-Gavião
(Hawkgirl)! Ele retira a roupa de proteção da moça e contamina os
adaptoids e a Liga, equalizando-os!
Por algum motivo, quando
todo mundo no satélite se torna igual em força, tamanho e
inteligência a Liga consegue derrotar os adaptoids! Mas todo mundo
igual não produz empate?
E se você está
preocupado com o fato de que a equipe está contaminada, esqueça! Os
adaptoids criaram uma imunidade contra a praga e equalizaram com os
justiceiros, que imediatamente são curados! Viva! Agora Gavião
Negro e Mulher Gavião ficaram juntos na Terra novamente! (alguém
notou o sarcasmo?)
E os vilões? Não há
uma referência direta ao alienígena que jogou os seres na Terra mas
ele são desterrados para um planeta entre a Terra e Thanaghar, que
passam a colonizar.
As edições
#120-121
trazem “
The parallel perils of Adam Strange!” e “
The
hero who jinxed the Justice League!”, onde
Kanjar Ro
sequestra cinco justiceiros usando o novo
Raio Beta e os leva
para
Rann, onde derrotará a equipe e
Adam Strange.
Primeiro – e antes da história começar – o vilão reduz
Alanna,
a noiva do terrestre à pó e depois os colegas. Na segunda parte
Adam vai para a Terra, atualiza os amigos, mas surge a ameaça de uma
criatura nuvem criada por Kanjar Ro. O vilão decide aparecer no
satélite e contar vantagens para Adam Strange, que rouba seu
energi-rod (a segunda “varinha de condão” do ano) e
retorna à Rann, onde suspeita que os cinco justiceiros e sua noiva
estão vivos e mantidos prisioneiros.
Após encontrar os heróis
e a noiva e trazê-los para a forma humana, Sardant, o sogro
de Adam, envia os heróis para a Terra onde se unem aos que já
estavam enfrentando a criatura nuvem, acabando com os planos de
Kanjar.
A edição termina com o
casamento de Adam Strange e Alanna em Rann. O roteiro é de
Cary Bates e a arte da dupla Dick Dillin & Frank
McLaughlin.
Martin Pasko assume
o roteiro da próxima edição – a arte é a mesma equipe – para
narrar uma boa história de confusão bem típica daqueles anos. Em
“The great identity crisis!”, o Dr Luz usa um
subterfúgio de se disfarçar de monstro de gelo para iniciar um
plano maléfico. Ele é capturado pelos heróis e levando para o
Zoológico do Superman na Fortaleza da Solidão. Lá, o
vilão usa um aparelho para trocar as identidades dos membros da
equipe, mas o aparelho não tem efeito no Superman e não age no
Aquaman, que ele acreditava não ter identidade secreta.
Tudo bem, a história é
até divertida (para o padrão dos anos 1970) e causa uma certa
ansiedade ao ver os heróis indo para os locais de trabalho dos
colegas, como no caso de Ray Palmer no corpo de Olliver
Queen. Divertido, confesso! Mas o detalhe que passa despercebido
é o fato de que o Luz fez armadilhas para que os heróis com as
mentes trocadas não soubessem se livrar delas. Perceberam? Luz sabe
a identidade de todos os membros da Liga! Com exceção de Superman e
Aquaman – que durante a história não se importa em falar qual é
sua identidade secreta – Luz tem conhecimento de todas as
identidades!
Ele não teria um melhor
uso para esta informação do quê uma troca de corpos? Apesar de
minha incapacidade de levar a sério o Dr Luz, afinal eu o conheci
como vilão dos Novos Titãs, é a melhor história do ano.
E então o encontro de
Liga da Justiça e Sociedade da Justiça nas edições
Justice
League of America #123 (outubro) e
124 (novembro)
com “
Where on Earth Am I?” e “
Avenging Ghosts of the
Justice Society!” de Cary Bates & Elliott S! Maggin, Dick
Dillin e Frank McLaughlin, que está longe de ser meu encontro
preferido. Como já havia feito os
reviews dos encontros há
algum tempo, se você tiver alguma curiosidade leia
aqui.
A edição #125
(dezembro) vem com “The men who sold destruction!”
de Gerry Conway, Dick Dillin e Frank McLaughlin, mostrando
assim, a primeiríssima história do autor para a equipe. A história
mostra uma ameaça interdimensional que une a Liga à Duas Caras.
Vilões de outra dimensão requisitam o auxílio de Duas Caras para
destruírem esta dimensão – rapaz, escrever isto é tão ridículo
porque dá a entender que é muito simples destruir toda uma
dimensão. O dividido gangster joga a moeda e os alienígenas perdem
e então ele passa a informar a Liga – na ausência do homem
morcego de Gotham City – sobre a trama.
O interessante da
história é o aspecto cósmico. Os alienígenas que invadem estátuas
e fornecem energias para ladrões comuns são os dronndarians,
que diante da derrota procuram os armeiros de Qward – a
dimensão de antimatéria – oferecendo a oportunidade de
transportá-los para a Terra, tencionando é claro, a destruição.
Mas a trama continua no ano seguinte.
Até lá.
Ano
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Edições
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|
#78-86
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|
#87-95
|
|
#96-103
|
|
#104-108
|
|
#109-114
|
1975
|
#115-125
|