Estou lendo “Grandes Esperanças” de Charles Dickens da Clássicos Abril Coleções volume 33, com tradução de José Eduardo Ribeiro Moretzsohn. É um camalhaço com 650 páginas!
Já li a adaptação Classic Illustrated – com 48 páginas – e vi o filme mais recente, mas nem um, nem outro são capazes de arranhar a linha narrativa e expositiva da sociedade inglesa que o livro alcança.
A ficção traça um perfil do modelo de castas sociais inglês e da impossibilidade de migrar de uma para outra narrando a vida de Pip, um garoto criado por sua irmã e pelo cunhado, o ferreiro Joe Gargery, que durante sua vida trava conhecimentos com várias pessoas, mas nenhuma tão impressionante como a senhorita Havisham, uma mulher amarga abandonada no dia do casamento, que vive em reclusão.
Ao conhecer Havisham e sua protegida, Estela, Pip tem a consciência de sua desimportância e sonha com dias melhores – daí o título – que surgem para ele com um misterioso personagem que decide financiar estudos e sua ascensão social.
E isto toma o terço inicial do livro!
Fantástica narrativa de uma sociedade, assim como as obras de Jules Verne, Dickens constrói um quadro minucioso de uma época.
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Ainda bem que ninguém resolveu fazer um filme de “Deuses Americanos” (Neil Gaiman) ou uma graphic novel de 60/80 páginas.
As adaptações concentram-se na ação e nos pontos chaves, mas os personagens, as tramas, as motivações exigem um detalhismo maior.
É uma pena que o oportunismo não faz os editores perceberem isto.