Lost [6x17 & 18] – O fim IV: Que fim foi este?

Finais de séries são traumáticos.

The Sopranos, a melhor série de drama da década de 2.000, termina mostrando que não acabou, apenas as histórias não serão mais narradas.

Battlestar Galactica terminou mostrando que a paz é possível e o entendimento desejável. E que a partir disso pode-se começar algo novo.

Lost termina mostrando que tudo foi um longo campeonato e que houve crescimento para os envolvidos, mas o expectador não se sente confortável em saber que o que viu foram diversas cenas de ação e tensão para dar sentido à necessidade de atrair público e vender cotas de patrocínio.

Lost mostra o quê há de mais constante na TV: produtores se reúnem numa grande convenção e criam idéias que não se sustentam, mas talvez – e preste atenção no talvez – a idéia funcione e atraia público e comecemos um longo jogo de gato e rato com 22 pistas anuais até a audiência cansar.

Quando isto acontecer juntaremos as pistas num caldeirão. Algumas boiarão e estas serão utilizadas pois ficaram à vista. As outras... quem se importa?


Talvez por isso as duas apostas da ABC para manter o interesse da audiência após Lost, as séries FlashForward e V, sejam tão pouco interessantes. A primeira já se confirmou como fracasso e a segunda não mostra a que veio e talvez tenha que ter inícios e finais de temporadas bombásticos para manter o interesse do público.

Fiquei mais satisfeito com os finais de temporadas de Two and a half men (comédia com Charlie Sheen, Jon Cryer e August T. Jones) que encerrou bem a sétima temporada prometendo mais comédia machista e poucos elogios aos adolescentes americanos na próxima temporada já confirmada, mas paradoxalmente mostrando a relevância da família na formação do caráter do indivíduo.

Também me impressionou o final de Smallville, série que acreditava estar defunta e enterrada e que rendeu bons episódios como “Absolute Justice” e “Salvation”.

Mostrando um compromisso de apresentar um Superman ao final da série, os envolvidos assinaram contrato para a 10ª e última temporada. Pode não ter todos os episódios de qualidade, mas o uso de uma trama por temporada, a apropriação de personagens dos quadrinhos e construção de suas versões, e o crescimento dos personagens fazem o diferencial.

Pode até nem todos os episódios de Smallville serem bons, mas a maioria se salva e é possível desenhar uma linha mostrando onde os personagens estavam, o quê aconteceu e onde estão.

No final, Smallville, capengando e mostrando os conflitos adolescentes do Superman cercado por um elenco de mulheres influentes mas não fazendo sexo com quase nenhuma delas, explorando um conceito de 72 anos até tirar a última gota de água da pedra é mais relevante que uma série que individualmente é mais impactante, tem personagens mais bem construídos mas pistas demais que levam a lugar algum e uma conclusão pífia.


Daqui a 20 anos, quando terminar o reboot de Lost (ninguém falou, mas haverá, contem com isso) e também terminar a próxima série do Superman, as pessoas vão achar poética o final de Lost e funcional a série Smallville.

Pouca gente gosta ou entende poesia, mas sentar à frente da TV e assistir a algo que faça sentido e tenha uma linha temporal compreensível é fundamental para garantir que, na semana seguinte, esteja lá novamente o expectador.

Smallville terá um início claro, um meio confuso, mas uma direção ao qual foi.


Lost teve impacto, impacto, impacto, impacto e um final que tenta costurar tantos impactos de modo a dar sentido individual e coletivamente à eles. Mas os buracos provocados pelos impactos já eram grandes demais.

E então ninguém consegue um remendo tão grande de maneira eficiente.