Pela primeira vez tenho a firme impressão que para breve não teremos mais séries mensais no Brasil. Teremos encadernados com o melhor do material americano, que tem sido produzido pensando-se em encadernados.
Ainda continuará a ser publicado material Disney e Maurício de Souza com preços de capas variando entre R$ 1,00 ou R$ 2,00, e mesmo material como Tex, que é mais procurada na revenda do que na banca. Explico: Tex e quase todo o material Bonelli tem grande saída na banca da rodoviária, onde o leitor que algo para ler durante a viagem. Este leitor está disposto a pagar R$ 1,00 ou R$ 2,00 pela revista padrão, e talvez R$ 5,00 ou R$ 6,00 pelos almanaques mais grossos, mas realmente comprar a edição nova por quase R$ 7,00 é improvável.
Mesmo projetos bonitos, como Tex em Cores perdem a razão de ser ao custo final de R$ 24,00.
Assim, em breve teremos os clássicos materiais infantis, mas editoras como Panini, Devir, Conrad e outras apenas publicarão material encadernado com seis a oito histórias e um arco fechado. Será definitivamente o formato e tratamento de livro.
Surgirá uma nova possibilidade de mercado nacional.
Falsa, é claro!
As pessoas não querem ler mais quadrinhos, ou pelos menos não querem pagar para ler quadrinhos.
Acontecerá que algumas séries como o Almanaque Meteoro poderão abocanhar mais do mercado, atingindo, numa metodologia de mercado sem atravessador, mais leitores e mais lucro para o produtor.
Claro que mais lucro para o produtor nacional não quer dizer mais qualidade. Pode significar apenas mais produção, e talvez nenhuma com qualidade suficiente para ser publicada.
Fanzines e prozines poderão ocupar lugares de destaque, e talvez um editor com real experiência de mercado como o amigo Roberto Guedes possa estabelecer as diretrizes de um novo mercado de quadrinhos nacionais com produção própria.
Será, no entanto, as sobras!
Os leitores que ele ou outros iriam atingir serão aqueles que amam os quadrinhos e terão nestes zines a possibilidade de continuar a ter contato com suas revistas. Atingirão, talvez, cinco mil? Duvido, já que nem a edição profissional da Panini com nomes reconhecidos, personagens amados e cores, muitas cores, consegue atingir estes números.
Logo teremos 200 milhões de brasileiros e dois mil leitores-compradores de quadrinhos, o quê dá 0,00001% da população nacional ainda mantendo um hábito, que nos anos 1.970 era orgulhoso e cancelava-se séries com menos de cem mil cópias!
Restará ainda ao leitor comprar o encadernado importado, normalmente mais barato em sítios de grandes varejistas.
Mas saiba que o mesmo está acontecendo com o mercado americano, e certamente daqui a vinte anos deverá haver algo semelhante na própria origem dos quadrinhos, os Estados Unidos da América.
Neste momento teremos uma produção muito semelhante ao mercado franco-belga, com um álbum anual de 48 páginas. Semelhante, não necessariamente igual.
Talvez o quadrinho não sobreviva ao final do século.
Eu, pessimista, já acho que não sobreviverá ao ano 2.050.
Veremos.