Falar de Geoff Johns tem soado como chover no molhado! É verdade o sujeito tem sido ao longo dos últimos anos o garoto dourado da indústria.
Devo confessar que não acho graça na parceria dele com Richard Donner. Acho que foi uma maneira de reconhecer a importância do diretor, mas não gostei do conjunto da obra. Certamente tem muito da amizade que os dois cultivam a anos: Johns começou trabalhando no estúdio de Donner, assim como David Goyer (co-escritor de JSA e escritor dos filmes Blade, sendo diretor do último). Talvez numa releitura em alguns meses eu reconheça a importância da série, não sei. Também sei que o Infinity, Inc – volume 2 com o personagem Aço encabeçando a equipe, não foi bem recebido.
Temos também Crise Infinita que cheia de boa intenções serve apenas como pavimento para o inferno, não se conclui de forma a dar seqüência ao que veio. Mas aí eu sei que a culpa não foi dele e sim do Didio. Em compensação “52” cumpriu o papel que Crise Infinita não cumpriu. Ok! Resolvido!
Seu Teen Titans também é algo insosso, sem muito brilho, ainda que a arte de Mike McKonne ajude muito. Mas como McKonne apesar de antigo (está na indústria desde o início dos anos 1.990) ainda não ascendeu ao estrelato a série não marcou muito.
Então o quê o sujeito fez de bom?
Fez a Sociedade da Justiça e ponto. Não vou me estender sobre isto por que retomarei no futuro, mas fazer a Sociedade da Justiça da maneira como ele fez é justificativa para ter seu nome escrito nos anais.
Depois ele fez Lanterna Verde, tanto o “Renascimento” como a série mensal, e conseguiu manter o interesse e a excelência mesmo quando eu mesmo pensei que a luz esmeralda estivesse para sempre apagada!
E então ele assumiu o Superman.
Aí a vaca torce o rabo. Quem já leu algum texto meu sabe que eu gosto do Kurt Busiek, e apesar de achar meio vago gostei bem mais da “A queda de Camelot” do que da parceria Johns/Donner. Por sinal o arco do Mundo Bizarro também não acrescentou nada...
No entanto, em “Superman e a Legião dos Super-Heróis” ele provou que é um nerd e que soube fazer a lição de casa certinha. A história funciona bem e tem brilho próprio mesmo que a arte de Gary Frank seja, por si só, um grande atrativo.
Mesmo com toda a confusão envolvendo as Legiões tudo faz sentido na história e um breve epílogo mostra que o vilão por trás de tudo é... o Senhor do Tempo! Sempre foi ele, sempre será...
Bem temos que lembrar que a linha de raciocínio não é inédita. Legion of Super-Heroes # 105 (junho-1998) de Tom Peyer & Roger Stern (texto), Jason Armstrong (lápis) e Ron Boyd (nanquim) já deixa bem claro que o Senhor do Tempo está manipulando a equipe. A pela capa de Alan Davis mostra quatro versões da equipe. Ao final o vilão sentencia: “I tested the Legion’s multiculturalism. They passed. I stripped them of their technology. They survived. I tore them from reality. They prevailed. End of experiment. Next time, they must rise to all of those challenges, and more... for the sake of existence itself!”
Com o advento de Crise Final, a nova maxissérie da DC, Johns teve contato com o quê pode se chamar de terreno propício. Já tive contato com Crise Final (já a li, e é ruim) e com Legião dos 3 Mundos (é um fenômeno!) e espero ansiosamente pelo lançamento de Adventure Comics, a série que irá restaurar a equipe do futuro pelas mãos de Johns.
Durante a Legião de 3 Mundos, que não terminou ainda e é desenhada pelo mestre supremo do detalhismo funcional George Pérez, Johns estabelece que existem três Legiões de Super-Heróis, exatamente a clássica (até 1994, porém aparentemente sem os problemas da fase “Five Years Gap"), a reboot (1994-2003) e a atual (de Waid/Kitson). Ele reúne as três legiões para enfrentar a vilanesca Liga da Justiça de 3008 (vilões xenófobos, presentes no arco Superman e a Legião dos Super-Heróis), a Legião dos Super-Vilões, o Quinteto Fatal, o Superboy Primordial, Universo e finalmente aquele que está arquitetando tudo: Senhor do Tempo.
No Brasil a série será publicada em uma minissérie especial auxiliar à Crise Final, ainda que ao meu ver funcionasse bem melhor sozinha, pois pelo texto e arte está no nível de um Liga da Justiça/Vingadores.
Concluindo: se a Marvel tem a dupla Brian Michael Bendis & Mark Millar, a DC Comics tem Geoff Johns. Não podemos incluir Grant Morrison na lista por que ele não tem preocupação com o comercial, sua Crise Final é a prova cabal disto. Hermética demais, sua única vantagem real será manter a palavra “crise” longe de séries da editora por muitos anos.
Johns tem talento e consegue trazer lógica e conexão até mesmo em séries bem secundárias e despretensiosas pelo Gladiador Dourado, que é divertida e reverencia a cronologia da editora (veja que anos depois de eventos como Zero Hora e DC 1,000,000, Booster Gold foi a primeira série que usou as numerações especiais destes eventos para explicar que o herói viajante do tempo estava naquele momento).
O problema é a incapacidade da DC em estender isto a todos seus títulos ou como na Marvel, à maior parte deles. No final tudo será como a Vertigo no período 1.992-1.995: uma ilha de excelência controlada por uma chefia importante – no caso Karen Berger, curiosamente editora de The Legion of Super-Heroes no período Levitz & Giffen.
No Brasil tudo fica bem evidente quando compramos uma edição da Panini: 25% da revista, ou seja, uma história é completamente irrelevante! Em Superman temos Supergril; em Batman temos opção Nightwing, Robin e Catwoman; em Liga da Justiça temos a própria Liga e Flash – ainda que em diversas edições suas histórias sejam boas –; Superman/Batman temos não o Arqueiro Verde & Canário Negro, mas a série principal que até hoje não disse a que veio, ainda que um arco tenha rendido um longa de animação (o arco Inimigos Públicos). A série é insípida e carece de um sentido maior que a justifique. Um dia num futuro próximo será apenas mais uma em arcos mensais intermináveis; apenas um capítulo da semana que irá permitir que uma trama comece nas séries do Superman e continuem nas séries do Batman.
Mesmo que bem menor importância e maior interferência a Marvel tem criado nomes que poderiam substituir Bendis & Millar. Na DC existe alguém que possa substituir Geof Johns?