A série Fundação
(Fundação, Fundação
e Império e Segunda Fundação) é tida como uma das
séries mais importantes da literatura ficcional e não estou me
limitando à ficção científica. A trilogia original narra a
criação da Fundação, os conflitos entre a recém-surgida
instituição e o decadente Império e o fato de que poderia haver
algo externo – o Mulo – que poderia degringolar o
elaborado plano de Hari Seldon.
Devo revelar que fiquei
um pouco decepcionado com o fato de que a trama inicial terminar
antes da metade do período que seria necessário para reconstruir o
Império – 1000 anos. Na trama original Seldon descobre que o
Império entrará em decadência e elabora um complexo plano, usando
uma matemática de ponta chamada psico-história, capaz de
prever o destino de um conjunto de pessoas, mas não de uma pessoa
individualmente. Com este plano, Seldon pretende pular um ciclo de
barbarismo de 30 mil anos entre um império e outro, e substituí-lo
apenas um período de mil anos. Como administrador que sou, parece-me
macroeconomia, mas isto seria simplificação.
Para tanto cria a
Fundação – científica, política – e secretamente a Segunda
Fundação – psíquica, analítica, intelectual – e pretende
alcançar os objetivos com o uso de seu Plano Seldon e
eventualmente aparecendo através de mensagens gravadas em momentos
chamados Crises Seldon – eu não sei quanto a vocês, mas
leio Hari Seldon e pronuncio mentalmente Harry Sheldon.
Iniciada em 1942 e
conclusa em 1953 a série Fundação é um clássico e em 1966
recebeu um Prêmio Hugo especial como a “melhor série de
ficção científica e fantasia de todos os tempos”, superando
entre outros O senhor dos anéis de Tolkien! De certo
modo parece uma história presa em sua época, fruto dos padrões
existentes na Segunda Grande Guerra, tanto de narrativa bastante
intelectual, quanto do predomínio de um tipo especial de homem sobre
todos os outros.
Então nos anos 1980
ofereceram um “caminhão de dinheiro” para Isaac Asimov
e o bom doutor decidiu estender a série, criando duas
sequencias e duas prequelas – adaptação bem ousada de sequel
(sequência) e prequel (que em inglês significa o que vem
antes, mas em um sentido diverso de prelúdio, já que prequel,
mesmo vindo antes foi criado depois).
O primeiro desta extensão
foi Limites da Fundação (Foundation's Edge), publicado
originalmente em 1982 e aqui pela nova tradução da Aleph
(2012, tradução de Henrique B. Szolnoky, ISBN
978-8576-57-1033-9). A trama se passa quinhentos anos depois do
início da Fundação e o Conselheiro Golan Trevize
“desconfia” que a Segunda Fundação ainda existe e que o Plano
Seldon é um embuste!
Exilado pela prefeita
Harla Branno – cuja imagem mental que construí ou me
apropriei é a da atual chanceler alemã – sua verdadeira missão é
encontrar o mundo da Segunda Fundação, enquanto disfarça com a
missão científica de encontrar o mítico mundo em que surgiu toda a
vida do universo: a Terra!
Na Segunda Fundação o
ambicioso Orador Stor Gendibal acredita que o plano não
deveria funcionar tão bem ou que há algo, além das duas fundações,
trabalhando em prol do “plano maior” que o bem da humanidade.
Quem? Por quê? Qual sua
real agenda?
* * *
Típico romance de Isaac
Asimov, Limites da Fundação não oferece grandes surpresas do
quesito Fundação e suas tramas, mas ao unificar o universo
literário do autor em especial com o universo da série Robôs,
a trama brilha em oportunidades, especialmente considerando que a
Aleph já iniciou a publicação de uma nova tradução para esta
outra série.
Ainda que a
característica do autor seja os diálogos e as tramas resolvidas
quase sempre de forma analítica, chama a atenção a tensão sexual
presente no volume, mas não dita de forma explícita. O autor
confessa que os mentalmente evoluídos membros da Segunda Fundação
tem encontros sexuais com os rústicos habitantes do mundo onde se
escondem e uma terceira força usa e abusa de um corpo jovem e em
alguns momentos semi nú, usando uma indiscreta blusa transparente
para intencionalmente despertar a paixão em um velho estudioso.
Há sequencias inteiras
que podem ser construídas pelo leitor com um cruzamento entre as
luvas de Minority Report e os códigos de Matrix,
especialmente quando um Orador da Segunda Fundação exibe uma parte
do código do Plano Seldon que não deveria ter funcionado tão bem.
Mas ao fim, a descoberta de Gaia como um planeta senciente não
me impressionou tanto, já que Jack Kirby, Stan Lee e
John Byrne já haviam me apresentado e reapresentado Ego, o
planeta vivo nas aventuras do Quarteto Fantástico e Thor.
Talvez não seja esta a origem do conceito de planeta senciente, mas
foi lá que vi pela primeira vez um, o quê diminui o impacto de
qualquer outra versão posterior.
Por fim, se a falta de um
grande impacto na história a diminuiu um pouco, o simples desejo de
descobrir o quê aconteceu com a Terra e por que seu destino foi
intencionalmente oculto dos arquivos do Império e, por extensão, da
Fundação, já me motiva para o romance seguinte, assim como
descobrir o que aconteceu nos últimos dias da Era dos Robôs.
Ou seja, Asimov será
presença constante por aqui por muito tempo.
Fundação,
a série
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Prelúdio à
Fundação
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Origens da
Fundação
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Fundação
e Império
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Segunda
Fundação
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Limites da
Fundação
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Fundação e Terra
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