Imagine um mundo bem
distante no futuro onde as pessoas pararam de conversar entre sim
pessoalmente e passam a utilizar métodos como aparelhos instalados
nos ouvidos ou gigantescas telas retangulares instaladas em suas
salas. A ponto de para manter a ilusão que conversam chegam a instalar
dispositivos que inserem seus nomes nas bocas dos desconhecidos e assim eles referem-se à audiênica pelo nome.
Imagine um mundo bem
distante no futuro onde as pessoas não conversam sobre si, mas sobre
campeonatos de esportes de massa e onde a tristeza se faz presente ao
ponto de que as pessoas se entreguem às drogas sem uma lembrança do
quê fizeram.
Imagine um mundo bem
distante onde os livros passaram a serem censurados primeiro pelas
minorias. Negros passaram a censurar os brancos, homossexuais
passaram a censurar os heteros, evangélicos passaram a censurar os
ateus e estes, por sua vez, os evangélicos. Neste mundo você pode
ter opinião, desde que concorde com a maioria e que, evidentemente,
não entre em conflito com nenhuma minoria.
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Realmente o livro é
esquemático: Montag é questionado sobre seu papel no mundo por uma
vizinha, passa a realmente ver o mundo em que vive e, no processo,
rebela-se contra o sistema. Não é exatamente um processo inovador
para contar a história. É apenas mais uma maneira. E aqui funciona!
Pois assim como em As crônicas marcianas a força está no texto de
Ray Bradbury, que tem uma força e poesia incríveis –
especialmente no primeiro ato da história.
Bradbury criou em 1.953
um libelo contra a censura, contra o ato de censurar, contra a
alienação e contra os processos pelos quais se dão a alienação.
Acertou na mosca na descrição de tecnologias que existem hoje e mais
impressionante, no uso que a sociedade faz dela, ao ponto de
conseguir visualizar com facilidade anormal salas com três
televisores de tela plana e pessoas conversando indefinidamente sobre
coisas sem relevância, enquanto as relevantes são deixadas.
* * *
No fim, é irônico que o
seja publicado no Brasil pela Editora Globo.