Livros: Men$alão de Marco Antonio Villa

Lembro bem que estava na faculdade quando ouvi a primeira menção ao mensalão e o momento, como a morte de Tancredo Neves ou de JFK para os que vivenciaram, ficou gravado em mim.

Entendi imediatamente que houve a compra de apoio e que o Partido dos Trabalhos (PT) seguia os rituais mais nefastos em nome de uma governabilidade.

Fiquei triste. Desiludido até e rompi ao reconhecer os ecos daquele discurso de governabilidade e associações espúrias até mesmo a nível municipal. Tudo em nome de se conquistar o poder. Mais ainda em nome de permanecer com ele.

Men$alão: o julgamento do maior caso de corrupção da história política brasileira, ISBN 978-85-8044-642-5, Leya (2012) de Marco Antonio Villa se propõe a expor o julgamento da Ação Penal 470 e no percurso reconstitui o crime cometido pelos dirigentes do PT. É um livro didático, delicioso e essencial para entender o Brasil e a importância que tem um longínquo Ministro do Supremo e como o presidente anterior à Dilma Rousseff se preocupou em empossar pessoas simpáticas à sua retórica de que não houve mensalão.

Não nos cabe mais opinar se houve ou não mensalão, isto já está claro para a mais alta corte do país. O que nos cabe é conhecer a história e impedir que existam outras versões do mesmo crime.

O livro tem dezenas de citações dignas, mas escolhi duas já do final:

Como [os dirigentes petistas] estão acostumados a lotear as funções públicas, até hoje não entenderam o significado da existência de três poderes independentes e, mais ainda, o que é ser ministro do STF. Para eles, especialmente para Lula, ministro da Suprema Corte é cargo de confiança, como os milhares criados pelo partido desde 2003. Daí que já começaram a fazer campanha para que os próximos nomeados sejam somente aqueles de absoluta confiança do PT, uma espécie de "ministro companheiro". E assim sucessivamente, até conseguirem ter um STF absolutamente sob controle partidário.
A recepção da liderança às condenações demonstra como os petistas têm uma enorme dificuldade de conviver com a democracia.

E

A estratégia petista conta com o apoio do que há de pior no Brasil. É uma associação entre políticos corruptos, empresários inescrupulosos e oportunistas de todos os tipos. O que os une é o desejo de saquear o Estado. O PT acabou virando o instrumento de uma burguesia predatória, que sobrevive graças às benesses do Estado. De uma burguesia corrupta que, no fundo, odeia o capitalismo e a concorrência, e encontrou no partido – depois de um século de desencontros, namorando os militares e setores políticos ultraconservadores – o melhor instrumento para a manutenção e expansão dos seus interesses.
(...)
Não faltam Constituição, códigos, leis, decretos, um emaranhado caótico. Mas nada consegue regular o bom funcionamento da democracia brasileira. Ética, moralidade, competência, eficiência e compromisso público simplesmente desapareceram. Temos um amontoado de políticos vorazes, saqueadores do erário. Vivemos uma época do vale-tudo. Desapareceram os homens públicos. Foram substituídos pelos políticos profissionais. Todos querem enriquecer a qualquer preço – e rapidamente. Não importam os meios. São anos marcados pela hipocrisia. Não há mais ideologia. Longe disse. A disputa política é pelo poder, que tudo pode e nada é proibido.
Marco Antonio Villa, Men$alão (2012)


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