Os 10 Grandiosos

A América é cheia de ricos entediados e indisciplinados que usam a fortuna para combater o crime e impor e status quo americano.

Nas clássicas batalhas entre Homem de Ferro e Homem de Titânio, ou mesmo entre o “vingador dourado” e o Mandarim, o quê realmente havia era uma guerra ideológica, um embate entre USA e URSS ou USA e China. Os leitores entendiam isto e se divertiam.

Os anos 1970 e 1980, apesar do aprofundamento da Guerra Fria, os quadrinhos receberam tramas que tinham como foco o ser humano. Anthony Stark, industrial bem sucedido que enfrentava o comunismo seja na forma do Homem de Titânio, ou nas curvilíneas pernas da Viúva Negra, agora tinha como inimigo o copo.

Preocupados com o próprio umbigo, os americanos nunca fizeram boas pesquisas para criar os personagens que não fossem estadunidenses. Mancha Solar, dos Novos Mutantes, o primeiro personagem brasileiro da Marvel tinha grafia e expressões latinas e na série a Amazônia podia ter, mesmo de temporariamente, uma Nova Roma!

Na DC o Brasil teve a tola Flama Verde, posteriormente Fogo. Agente do SNI com hálito verde (!) a personagem se tornou uma versão do Tocha Humana pura e simples, mas... com o tom verde.

Mesmo Grant Morrison não pesquisou direito. Em Os Invisíveis há um personagem homossexual que é brasileiro, mas com claros traços astecas, o quê seria mais condizente com a América Central.

Morrison é co-criador de Os 10 Grandiosos um grupo de heróis mantidos pelo estado chinês. Os personagens apareceram em “52”, a maxi-série semanal da editora de 2.006 e agora retornam em uma série em dez partes, iniciada há pouco.

Com roteiro de Tony Bedard e desenhos de Scott McDaniel a série inicia com o clichê de como os americanos vêem a Revolução Cultural. Certo ou errado os dados mostrados sobre os massacres de minoria pelo governo chinês deixa claro impressão de estar lendo uma cartilha do “herói honesto que trabalha para uma organização corrupta de um governo corrupto”.

A história do Médico Completamente Perfeito não impressiona nestes tempos pós Authority – há na equipe da WildStorm um personagem com histórico semelhante – onde a violência faz parte da trama – ou seja o fato da equipe matar alguns monges sequer preocupa o leitor americano.

Ainda assim a tentativa de McDaniel de compor as páginas de maneira diferente buscando uma narrativa diferente do habitual faz valer a pena o investimento.

Na primeira edição a história do Médico Completamente Perfeito e sua entrada para a equipe, o massacre de pacifistas com boletins mentirosos para a imprensa e quando parecia que a série poderia se tornar interessante ruma para o batido tema de Panteão de deuses que chega à Terra para impor sua vontade.

Berdard tem então a difícil missão de cozinhar este angú sem fazer caroço e ele tem possibilidades para produzir uma boa visão americana sobre personagens não-americanos ou apenas mais uma série longa de personagens esdrúxulos e coloridos que, dentro de um ano ou dois, ninguém mais se lembrará.

Veremos.
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